"Sucker Punch", dirigido por Zack Snyder, é uma obra que divide opiniões. Sua estética, estrutura narrativa e premissa são indiscutivelmente promissoras. No entanto, o filme, ao longo dos anos, foi alvo de muitas críticas negativas desde seu lançamento. Essas críticas, por mais compreensíveis que sejam no contexto da indústria cinematográfica e das expectativas do público, não podem apagar o fato de que "Sucker Punch" é, em muitos aspectos, uma obra única e digna de apreciação, ainda que imperfeita.
A premissa do filme, centrada em Babydoll (Emily Browning), uma jovem que, após ser internada em um hospício, utiliza sua imaginação para escapar da realidade, tem uma profundidade latente que nem sempre é captada à primeira vista. A narrativa se divide em três camadas distintas: o mundo real, o espaço do hospício e o reino de fantasia criado pela mente da protagonista. Essa estrutura, que se afasta de uma progressão linear tradicional, é ao mesmo tempo um dos pontos altos e baixos do filme. Por um lado, apresenta um conceito ousado e visualmente espetacular; por outro, deixa o público confuso, gerando uma desconexão emocional com a história e seus personagens.
No entanto, ao observar o filme com mais profundidade, é possível notar que a verdadeira intenção de Snyder parece ser não contar uma história direta, mas criar uma experiência visual e sensorial. O uso de visuais exagerados, cenas de ação coreografadas ao extremo e o simbolismo por trás das batalhas que Babydoll enfrenta no mundo imaginário indicam que o filme é menos sobre a narrativa e mais sobre a sensação de poder e libertação que a fantasia proporciona à protagonista e, por extensão, ao público.
As críticas negativas são compreensíveis quando analisamos o filme dentro dos padrões convencionais de avaliação cinematográfica. O roteiro é considerado superficial, os personagens são arquétipos pouco desenvolvidos, e as transições entre a realidade e a fantasia nem sempre são coesas. No entanto, é possível argumentar que essas mesmas falhas tornam "Sucker Punch" um caso interessante de "filme ruim que é bom". Essa categoria de filmes, muitas vezes depreciada, tem o poder de entreter justamente porque suas falhas oferecem algo a mais para o espectador: uma oportunidade de rir, criticar ou simplesmente se maravilhar com os excessos e erros cometidos ao longo da obra.
Assim como comédias pastelão, que frequentemente são mais reconhecidas pelos seus defeitos do que por suas qualidades, "Sucker Punch" pode ser apreciado sob uma perspectiva que vai além da busca por coerência narrativa. O espectador pode encontrar prazer em analisar seus erros, sua falta de foco ou suas tentativas ambiciosas que, por vezes, se perdem em meio ao espetáculo visual. Isso não significa que o filme seja necessariamente "ruim", mas sim que ele pode ser apreciado de formas alternativas – um ponto que muitas críticas iniciais deixaram de explorar.
Há também algo a ser dito sobre o estilo visual de Zack Snyder. Sua assinatura estética, com uso de cores saturadas, slow motion e composições quase de videogame, é algo que, apesar de polarizar opiniões, trouxe uma abordagem estética inovadora no contexto de "Sucker Punch". Por mais que as sequências de ação sejam muitas vezes criticadas por serem excessivamente estilizadas, é inegável que elas oferecem um espetáculo visual que cativa – e é exatamente essa capacidade de entreter e de desafiar as convenções que faz com que o filme tenha um público fiel.
O final do filme, em particular, é um dos pontos mais controversos. Muitos críticos o consideram insatisfatório, argumentando que o desfecho deixa questões em aberto e que o arco da protagonista não é satisfatoriamente resolvido. No entanto, para outros, esse final aberto é justamente o que dá ao filme seu caráter reflexivo, permitindo interpretações mais profundas sobre temas como sacrifício, liberdade e a natureza da realidade.
"Sucker Punch", embora não tenha alcançado o sucesso que poderia no momento de seu lançamento, merece ser revisitado com outros olhos. Sua autenticidade reside justamente na tentativa de Zack Snyder de criar algo fora dos padrões tradicionais. Ele não oferece uma experiência narrativa convencional, mas sim uma exploração visual e emocional que, para aqueles dispostos a se aventurar por suas camadas mais abstratas, pode ser verdadeiramente recompensadora.
"Sucker Punch" é uma obra que, por mais que tenha falhas inegáveis, representa um tipo de cinema que não teme errar. É um filme que, para alguns, pode ser considerado “ruim” no sentido convencional, mas que para outros é uma fonte de análise, entretenimento e discussão sobre os limites entre o cinema comercial e o cinema autoral. E é exatamente isso que o torna fascinante – é uma experiência que merece ser redescoberta, discutida e reavaliada.