300 horas de filmagens e a origem inesperada de um formato bem-sucedido: O primeiro reality show da história causou polêmica nos anos 70
    Luiz Eugênio de Castro
    Luiz Eugênio de Castro
    -Redator
    Um jornalista apaixonado por novelas e TV desde muito pequenininho. Fã de carteirinha de realities e vilãs icônicas!

    Criado por Craig Gilbert, o programa pioneiro explorou os conflitos internos de uma família de classe média nos Estados Unidos.

    Reprodução/Newsweek/PBS/Richard Noble

    Muito antes do Big Brother — formato que surgiu a partir de um livro conhecido — e dos Kardashians, uma atração inusitada estreava nos Estados Unidos, na década de 1970: An American Family. Considerado o primeiro reality show do mundo, segundo informações do jornal The Washington Post, o programa explorava os conflitos internos de uma família comum da Califórnia, desde traições, conversas sobre homossexualidade e muita treta!

    Família estadunidense era filmada diariamente

    O reality de Craig Gilbert, falecido em 2020, mostrava o cotidiano da família Loud, de Santa Barbara, e era transmitido pela emissora pública estadunidense PBS. A ideia do documentarista era aproveitar o "hype" dos filmes de cinema direto, que contavam com pouca interferência dos diretores nas cenas. Bill, Pat e seus cinco filhos adolescentes eram os protagonistas, que toparam participar do "experimento" rapidamente!

    "Eu os conheci numa quinta-feira, e eles toparam no domingo", revelou Craig em uma antiga entrevista ao The New York Times. "A ideia parecia divertida! Perguntamos aos nossos filhos, e todos concordaram", complementou a matriarca ao mesmo veículo. Lenda à frente do seu tempo! Com o aval dos familiares, o documentarista captou mais de 300 horas de filmagem entre maio e dezembro de 1971, expondo momentos tensos da convivência deles...

    Reprodução/X/PBS

    Tanto Pat quanto Bill revelaram casos extraconjugais em um dos 12 capítulos de uma hora. Além disso, Lance Lound, o primogênito, se revelou homossexual e também causou frissom dos espectadores para a época. O jovem era fascinado por Andy Warhol e a cena cultural de Nova York, ganhando destaque em diversos momentos da produção, quando aparecia com drag queens!

    Ainda de acordo com o The Washington Post, Craig entrevistou aproximadamente duas dezenas de famílias antes de escolher seus "personagens" principais. “Os Loud não são nem médios nem típicos. Nenhuma família é. Eles não são ‘a’ família americana. São simplesmente ‘uma’ família americana", explicou ele na ocasião.

    Diretor foi acusado de se envolver amorosamente com "personagem"

    Apesar de outras obras televisivas, como A Família Brady (1969), também estarem fazendo "barulho" na época, o reality de Gilbert se destacava por abordar temáticas mais próximas da realidade e, consequentemente, mais fáceis de gerar identificação com o público. "A ideia para a série foi algo da minha própria vida. Meu casamento, meus pais, a televisão e, na verdade, algo sobre o país", admitiu o documentarista.

    Visceral, Craig chegou a ser acusado de se envolver com a dona de casa do reality, Pat Loud, o que ambos negaram veementemente. Ademais, críticas envolvendo uma suposta manipulação do criador do show também estavam por todo lugar! “Tudo aconteceu como aconteceu. Sem truques. Sem regravações", rebateu ele à Newsday em 1988.

    “Eu apoio cada quadro dessa série. Mas, entendo por que ela deixou tantas pessoas desconfortáveis. Este foi um filme sobre todos nós. Sobre como estamos todos tentando, e geralmente falhando, em dar sentido à vida. Essa é uma verdade que a maioria de nós não está disposta a enfrentar — muito menos na televisão", complementou.

    A série foi assistida por mais de 10 milhões de pessoas por semana, tornando-se um sucesso instantâneo. Não demorou muito para que os membros da família Loud se tornassem debates em programas de TV, bares, escolas e no trabalho das pessoas "comuns". Até hoje, nos Estados Unidos, ela é lembrada pelos telespectadores — seja com carinho ou com ódio!

    O apresentador Dick Cavett com a família Loud Getty Images
    O apresentador Dick Cavett com a família Loud

    Quatro filhos da família Loud seguem vivos

    O patriarca da família Loud faleceu em 2018, aos 97 anos, de causas naturais, enquanto a matriarca morreu em 2021, aos 94 anos, também de causas naturais. O filho mais novo, Lance Loud, faleceu em 2001, aos 50 anos, devido a complicações relacionadas ao HIV. Os outros quatro filhos — Grant, Kevin, Delilah e Michele — continuam vivos.

    Para conhecer melhor a história do primeiro reality show do mundo, An American Family, vale a pena assistir ao filme de drama Cinema Verité - A Saga de uma Família Americana, de 2011, disponível na plataforma de streaming Max. Os atores Diane Lane e Tim Robbins interpretam o casal Pat e Bill nos papéis principais.

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