TEM SPOILERS!
Ash vs Evil Dead (3ª Temporada) 2018
Agora que terminei a terceira temporada posso afirmar com 100% de certeza que a série "Ash vs Evil Dead" é muito boa e foi uma ideia genial desse eterno trio (Bruce Campbell, Rob Tapert e Sam Raimi).
Se na segunda temporada eu constatei um certo sinal de desgaste, pelo fato de toda temporada ser praticamente igual a primeira e ainda terminar os eventos novamente na lendária cabana na floresta. Dessa vez somos completamente surpreendidos, como uma temporada excelente, que soube se reinventar, inovar, começar a tomar um rumo diferente, trazer novos elementos e ainda usar o mesmo universo mas com uma história diferente e um final apoteótico.
A temporada mantém o mesmo ritmo das anteriores, sendo bastante fluida, dinâmica, voraz, novamente apostando pesado na violência explícita, na sanguinolência extrema, ou seja, entregando um gore maravilhoso pra ninguém botar defeito.
Dessa vez a temporada se inicia com um Ash (Campbell) sendo glorificado como o salvador da humanidade em Elk Grove, exatamente pelos eventos da segunda temporada. E nesse quesito a série novamente acerta muito bem na comédia trash de terror, no terrir, no humor negro, nessa mistura de horror e comédia ultrajante que todos adoramos dessa franquia. Novamente temos a figura de um Ash cada vez mais tiozão, sempre trajado no seu politicamente incorreto, com suas frases de efeitos, com seu humor ácido, com suas tiradas cômicas, com seu timing cômico e seus bordões clássicos. Ash Williams é aquele personagem que sempre amamos ao longo de todos esses anos, aquele velho amigo que conhecemos há mais de 30 anos, aquele canastrão que é pervertido, é incorreto mas adorado no horror.
O primeiro episódio é excelente, facilmente o melhor episódio de toda a série ao longo dos 30 episódios.
Já na abertura somos surpreendidos pelo comercial daquela exótica casa de ferramentas (Ashy Slashy's), com o Ash falando que sempre usou a motosserra para cortar os demônios mas que agora ele usa para cortar os preços - cena impagável! Quem vende brinquedos sexuais em uma loja de ferramentas? Ainda temos aquela cena na escola com os instrumentos musicais atacando o Ash, que faz uma clara referência ao "Evil Dead 3". Sem falar que ainda somos confrontados com a Kelly (Dana DeLorenzo) com seu novo amigo Dalton (Lindsay Farris), que é um integrante dos Cavaleiros da Suméria, e a surpresa para o Ash e para nós de uma filha.
Um ponto interessante nessa temporada é o fato da série tentar humanizar a figura do Ash ao confrontá-lo com o peso da paternidade. Soa até engraçado imaginar o Ash sendo pai, tendo que conviver com uma filha adolescente (que é bem descontrolada por sinal) nas costas. E é exatamente isso que temos aqui senhoras e senhores, sim, um Ash Williams pai! Essa foi a maior surpresa do primeiro episódio e de toda a temporada, a integração da Brandy (Arielle Carver-O’Neill) como a filha do Ash (onde sua mãe é logo morta pelos deadites). E fica interessante acompanhar o desenvolvimento daquela possível ligação de pai e filha, daquela possível família que já começou toda errada, onde o próprio Ash terá que se adaptar à nova vida de ser pai e lutar contra os demônios kandarianos. E por incrível que pareça ao final temos um Ash menos egoísta, menos arrogante, mais família, mais protetor e sendo aquela figura de pai herói.
O segundo episódio tem uma abertura incrivelmente bizarra, que é aquele parto do bebê demônio explodindo a barriga da Ruby (Lucy Lawless). Uma cena com uma sanguinolência insana e um gore extremo, sem falar que os efeitos nessa parte ficaram incríveis. É nesse episódio onde começa as primeiras abordagens sobre os "The Dark Ones" (os Cavaleiros das Trevas), que são conhecidos como os possíveis escritores do "Necronomicon" (o livro dos mortos) e que estão em busca dele.
A terceira temporada se sobressai exatamente por trazer um roteiro mais completo, com elementos mais exploráveis, com novas ideias funcionais, sem ficar somente na sempre dependência do "Necronomicon". Ou seja, temos abordagens sobre o conceito da paternidade, os Cavaleiros da Suméria, que são uma ordem templária secreta criada há milhares de anos para ajudar no combate do mal, e os "The Dark Ones" (que se parecem com os dementadores do "Harry Potter").
O nono episódio nos mostra mais a respeito dos "The Dark Ones", o que confronta diretamente com a finalmente morte da Ruby (que já estava mais do que na hora). Além daquela cena da Brandy enfrentando seu celular demônio na garagem, onde temos uma cena com um gore digno de uma verdadeira filha do Ash Williams.
O décimo episódio segue a excelência da temporada, ao nos mostrar o embate final com o gigantesco demônio "Kandar" (o destruidor) no meio da cidade de Elk Grove (Califórnia). E aqui temos um ponto muito interessante, que é o direcionamento da luta final para a cidade e não para a famigerada cabana na floresta - ponto muito positivo! Interessante mostrar a propagação mundial dos ataques, ou seja, Ash realmente condenou todo a humanidade. A luta contra o "Kandar" é muito boa, pois até o exército estava atacando e não somente o Ash. Mas fato é que somente o Ash tem o verdadeiro poder para destruir todos os demônios kandarianos.
A terceira temporada está repleta de cenas clássicas, emblemáticas e como nunca pode faltar, as famosas cenas hilárias também estão presentes. Nada como a cena bizarra no laboratório de espermas, onde o Ash encara aquele demônio ao som da clássica Take On Me, do A-ha. Mais uma cena completamente sem escrúpulos ao desafiar o Ash com uma luta contra o bebê demônio enfiado dentro de um corpo sem cabeça. Incrível como estas cenas já são clássicas dentro do universo "Evil Dead" e como elas são marcas registradas da franquia. Por outro lado também temos os momentos fofos como a cena em que o Ash entrega para a Brandy o icônico amuleto.
O elenco sempre foi um ponto positivo na série e nessa temporada não seria diferente:
Bruce Campbell sempre excelente, com um personagem completamente imortalizado e eternizado na cultura pop, e que vai deixar saudades do seu icônico Ash Williams. O próprio Bruce Campbell deixou um depoimento emocionado nas redes sociais dizendo que o Ash foi o personagem de toda a sua vida.
Ray Santiago e Dana DeLorenzo como sempre estão impecáveis. Incrível como nas três temporadas o Pablo e a Kelly estiveram excelentes e sendo muito bem interpretados.
Lucy Lawless traz uma personagem que nunca me desceu e nunca me convenceu durante toda a série. A Ruby foi uma personagem totalmente controversa, que ora soava como uma ameaça ora soava como nada. Uma antagonista perdida, uma vilã fajuta, que sempre tentava impor os seus objetivos mas falhava miseravelmente.
Já a Arielle Carver-O’Neill esteve bem como a filha perdida do Ash. Inicialmente eu devo confessar que dava raiva da Brandy, e muito por ela se portar como aquela patricinha mimada, aquela garotinha inocente, indefesa, perdida, controlável, mas ao final ela ganhou a minha empatia e se mostrou uma boa adição da temporada.
Esta terceira temporada também se destaca nas partes técnicas:
Temos uma excelente trilha sonora, onde combinava perfeitamente como cada acontecimento dos episódios (principalmente no décimo).
A fotografia se destaca notavelmente, eu diria que é a melhor fotografia de toda a série.
Os efeitos especiais sempre foram marcas registradas da franquia (desde os primórdios), e aqui eles estão impecáveis.
Ponto positivo também para a direção de cada episódio.
E mais uma vez temos episódios curtos (que não ultrapassam meia hora), que já se tornou marca da série.
Agora falando da parte final da temporada:
Ao final do décimo episódio, após o Ash derrotar o "Kandar", ele acorda em uma espécie de futuro distópico. Possivelmente um futuro onde tudo do passado foi destruído e só restou o Ash (como uma espécie de androide) e uma garota misteriosa que também tem uma aparência de metade humana e metade robô. Claramente este final soava como uma possível continuação em uma quarta temporada futurista. Sem falar naquele veículo todo equipado no maior estilo de um "Mad Max" futurista.
E ainda sobre o final da temporada: ficamos sem saber o que de fato aconteceu com a Brandy, o Pablo e a Kelly. E mais triste ainda, nunca saberemos!
Infelizmente após a terceira temporada a série "Ash vs Evil Dead" foi cancelada devido ao baixo número de audiência (para a minha tristeza e de todos os fãs de "Evil Dead"). Bruce Campbell chegou a afirmar que isso aconteceu pelo fato de ninguém conhecer a Starz (plataforma que produziu a série) na época que ela estava sendo exibida. Porém, em julho de 2022, Campbell confirmou que uma animação estava em processo de desenvolvimento.
"Ash vs Evil Dead" termina com uma temporada com um alto nível de excelência. Pois confesso que ao final da segunda temporada eu achava que os motivos para o cancelamento da série estariam nessa terceira temporada, e agora eu constatei que não estavam. Pois a temporada é muito boa, entrega tudo que promete, além de manter toda a essência do universo "Evil Dead" e ainda se reinventar tomando novos rumos para a série que infelizmente não acontecerá mais. Realmente a série foi cancelada onde deveria começar (ou continuar), pois com esse final de temporada abriria o leque para várias possibilidades de exploração dentro de uma temática futurista, que sempre foi o sonho da franquia e principalmente do Sam Raimi.
O que fica é um enorme sentimento de tristeza misturado com nostalgia, pois a franquia "Evil Dead" é sem dúvida uma das minhas franquias de terror preferida de todos os tempos. O que nos resta é guardar na memória a figura do eterno Ash Williams lutando contra os lendários deadites. Pois de fato ficamos órfãos do nosso anti-herói canastrão, da comédia trash de terror, do gore extremo, do icônico "Necronomicon", do lendário Delta, da clássica boomstick e da famigerada motosserra. Uma pena! [03/06/2023]