A atriz Emilia Clarke veio a público nesta semana, em um artigo publicado na revista The New Yorker, revelar que sofreu dois aneurismas cerebrais durante os primeiros anos de Game of Thrones. "Logo quando meus sonhos de infância pareciam estar se tornando realidade, eu quase perdi minha cabeça e então a minha vida", escreveu. "Eu nunca contei esta história publicamente, mas agora é hora."
Clarke conta que o primeiro dos ataques ocorreu em fevereiro de 2011, logo após o fim das filmagens da primeira temporada de Thrones. Ela estava se preparando para praticar exercícios físicos com seu treinador, quando começou a sentir uma forte dor de cabeça e precisou se forçar a conduzir as primeiras atividades da série.
Logo após isso, ela começou a sentir "como se um elástico estivesse apertando" seu cérebro. "Tentei ignorar a dor e não sentí-la, mas não conseguia. Disse ao meu treinador que precisava fazer uma pausa. De alguma forma, quase rastejando, fui até o vestiário. Cheguei até o banheiro e me ajoelhei, e passei muito mal. Enquanto isso, a dor — lacinante — estava piorando. Em algum ponto, eu sabia o que estava acontecendo: meu cérebro estava danificado."
A atriz conta que foi levada até o hospital, com o pulso fraco e vomitando bile. Uma ressonância magnética apontou o diagnóstico: uma hemorragia subaracnóidea, também conhecida como SAH.
"Como eu descobri depois, aproximadamente um terço dos pacientes com SAH morre imediatamente ou logo após a crise. Para os pacientes que sobrevivem, é preciso tratamento urgente para fechar o aneurisma, e há altos riscos de um segundo sangramento fatal", escreve. "Se eu fosse sobreviver e evitar terríveis sequelas, eu teria que passar por uma cirurgia urgente. E, mesmo assim, não havia garantias."
Após isso, a atriz passou por uma cirurgia de três horas, que segundo ela mesma, não seria a última, tampouco a pior.
"Aquela primeira cirurgia era o que é conhecido como 'minimamente invasiva', o que significa que eles não abriram o meu crânio [...] A operação durou três horas. Quando eu acordei, a dor era insuportável. Eu não fazia ideia de onde eu estava, meu campo de visão era restrito. Havia um tubo na minha garganta [...] Eles me moveram do CTI depois de quatro dias e me disseram que a meta era chegar a duas semanas. Se eu permanecesse este tempo com complicações mínimas, minhas chances de recuperação eram altas", explica.
"Uma noite, após passar pela marca crucial, uma enfermeira me acordou e, como parte de exercícios cognitivos, perguntou meu nome. Meu nome completo é Emilia Isobel Euphemia Rose Clare. Mas eu não conseguia lembrar. Ao invés disso, palavras sem sentido saltaram da minha boca, e eu entrei em pânico [...] Eu podia ver minha vida na minha frente, e não valia a pena ser vivida. Eu sou uma atriz. Preciso lembrar minhas falas. Não conseguia lembrar nem mesmo o meu nome."
O quadro de afasia passou depois de uma semana, tempo em que a atriz voltou para o Centro de Tratamento Intensivo. Ela recebeu alta do hospital um mês após a internação, e já tinha uma agenda de entrevistas e precisaria retornar aos sets de Game of Thrones em questão de semanas para as filmagens da segunda temporada.
Ainda que de volta à rotina normal, Clarke descobriu que tinha um segundo aneurisma, menor, do outro lado de seu cérebro, e que este poderia estourar a qualquer momento. Os médicos explicaram que, em virtude do tamanho, era possível que o aneurisma se mantivesse dormente e inofensivo, e que era preciso apenas ficar de olho.
"Mesmo antes de começarmos a filmar a segunda temporada, eu estava muito insegura comigo mesma", confessa. "Eu estava o tempo todo tão tonta, tão fraca, que eu achava que eu ia morrer. Em uma estadia em um hotel londrino durante uma rodada de entrevistas, me lembro de pensar que eu não iria conseguir pensar ou respirar, muito menos tentar ser simpática. Eu bebericava morfina entre uma entrevista e outra. A dor estava lá, a fadiga era a pior exaustão que eu já experimentei, multiplicada por um milhão. E, sejamos honestos, sou uma atriz. A vaidade vem com o trabalho. Passei meu tempo pensando sobre o meu visual. Se isso tudo já não fosse o bastante, parecia que eu estava levando uma pancada na cabeça toda vez que tentava entrar em um taxi."
Para a atriz, as filmagens da segunda temporada foram a pior experiência. "Eu não sabia o que Daenerys estava fazendo. Para ser sincera, todos os minutos de todos os dias eu achava que iria morrer."
A segunda operação ocorreu quando Clarke estava em Nova York, após a conclusão das filmagens da terceira temporada. Uma ressonância apontou que o aneurisma havia duplicado de tamanho, e que era necessário operar. Os médicos prometeram uma cirurgia simples, mas não foi o que aconteceu.
"Quando eles me acordaram, eu estava gritando de dor. O procedimento falhou, eu tive um sangramento e os médicos afirmaram que minhas chances de sobreviveram eram precárias se eu não operasse novamente. Desta vez, eles precisavam acessar meu cérebro da maneira antiga — através do meu crânio. E a operação precisava ser imediata."
Clarke passou mais um mês no hospital, período em que, segundo descreve, perdeu completamente as esperanças, com medo das sequelas que a cirurgia deixaria. "Eu sentia que era apenas a casca de mim mesma. Tanto que agora eu não me lembro muito bem daqueles dias em detalhes, pois meu cérebro bloqueou as lembranças. Eu lembro de estar convencida de que eu não iria sobreviver."
Apesar dos grandes sustos, Clarke comemora ter sobrevivido e conta que ajudou a desenvolver um trabalho sem fins lucrativos para conceder tratamento para pessoas em recuperação após danos cerebrais.
"Há algo de gratificante, e muito mais do que sortudo, a respeito de chegar ao fim de Game of Thrones. Estou muito feliz de estar aqui e ver o fim desta história e o começo do que virá a seguir."
Confira aqui o texto de Emilia Clarke na íntegra.