Em uma realidade paralela, as federações do sul dos Estados Unidos não perderam a Guerra Civil. Após o conflito terminar em um impasse, os Confederados se separaram da União - os estados do Norte - e fundaram sua própria nação soberana. Nesse Sul alternativo, a escravidão não foi abolida. Com a deterioração das relações com o Norte, ocorre a Terceira Guerra Civil. Essa é a premissa de Confederate, série de David Benioff e D.B. Weiss, criadores da aclamada Game of Thrones. Antes mesmo de ser lançado, o novo seriado da HBO já causou polêmica.
Nas redes sociais, principalmente no Twitter, a principal crítica dos internautas foi o fato de que uma história como essa - centrada em conflitos raciais e em um tema tão sensível como a escravidão, especialmente para a história dos Estados Unidos -, não deveria ser narrada por dois homens brancos. Ainda que Benioff e Weiss não sejam os únicos showrunners - Nichelle e Malcolm Spellman, que são negros, também comandarão o projeto -, Confederate logo tornou-se alvo de uma chuva de comentários negativos, potencializados pelo instável clima político e social instaurado nos Estados Unidos desde a eleição de Donald Trump.
"Confederate da HBO - onde o Sul ganha a Guerra Civil e a escravidão continua legalizada - parece algo como uma série que Jeff Sessions [procurador-geral do governo Trump] faria se fosse um showrunner"
"Confederate poderia ter os melhor roteiros da televisão e ainda assim seria uma série para agradar supremacistas brancos e ganhar audiência. Eu passo"
Logo, uma ácida e irônica hashtag ganhou força no Twitter: #InsteadOfConfederate (#AoInvésDeConfederate, em tradução livre), que sugere que a HBO substitua sua nova série - já encomendada para uma temporada completa - por outros seriados ainda mais controversos:
"HBO, ao invés de Confederate, que tal uma série onde o público verá autópsias reais? Coloquem isso para passar durante o horário de almoço"
Em uma longa entrevista à Vulture, o time de showrunners defendeu a série. Benioff reconheceu que a equipe de criadores sabia que Confederate podia provocar esse tipo de reação, mas pediu paciência ao público: "Nós não temos uma sinopse ainda. Nós sequer temos os nomes dos personagens. Então tudo é muito novo, nada foi escrito ainda. Acho que é isso que foi um pouco supreendente no meio de todas as críticas. Essa reação é um pouco prematura. Sabe, é claro que nós podemos ferrar com tudo. Mas nós ainda não erramos".
Nichelle Spellman (Justified, The Good Wife) endossou as palavras do colega: "Entendo a preocupação das pessoas. Mas gostaria que as pessoas tivessem se manifestado na noite da estreia, domingo à noite na HBO, depois de terem assistido à série e tomado a decisão se nós conseguimos cumprir ou não o objetivo que nós queríamos atingir. A preocupação das pessoas é real. Mas acho que nós quatro somos profissionais conscientes e sérios [...] O que nós escrevemos no passado prova isso. Então, eu gostaria de ter tido a oportunidade de ver o debate começar após a estreia da série".
Weiss, por sua vez, declarou que eles estão cientes das críticas à Game of Thrones - que praticamente não apresenta personagens não-brancos - e que eles abordarão a nova série de uma forma diferente: "Nós somos hiper-conscientes da diferença entre uma série que narra uma história fictícia em um mundo fictício e outra que narra uma história alternativa em nosso mundo. Nós sabemos que os elementos que fazem parte de Confederate são muito mais crus e reais, e que as pessoas serão muito mais afetadas mais por essa trama do que pela história de um lugar chamado Westeros, uma história sobre a qual ninguém nunca tinha ouvido falar antes de ler os livros ou ver a série [...] Nós quatro planejamos abordar Confederate através de um espírito diferente, por necessidade, do que o espírito de abordagem de Game of Thrones".
Por fim, Malcolm Spellman esclareceu a premissa de Confederate, afirmando que o sul não "ganhou" a guerra, e também explicou por que a série será relevante: "Acho que as pessoas precisam parar de acreditar que a escravidão foi algo que simplesmente acabou. Isso afeta as pessoas até hoje. É fácil desviar do assunto porque às vezes você não consegue apontar o racismo, especialmente pelo fato de que isso se tornou algo muito sutil. Mas todo mundo sabe que com Donald Trump no poder, um monte de preconceitos voltaram à tona [...] um drama como Confederate permite tornar o racismo mais visível".
E você, o que acha da controvérsia? Uma série como Confederate ajudará ou prejudicará o debate? Quem tem a razão nesta questão: os showrunners ou o público? Só o tempo dirá. O certo é que esta é uma situação muito complexa e que os roteiristas terão que realmente lidar com o delicado tema do seriado com extremo cuidado.
Ainda sem previsão de estreia, Confederate é uma das grandes apostas da HBO para a era pós-Game of Thrones, uma vez que a série baseada nos livros de George R.R. Martin se aproxima cada vez mais do fim.