Zack Snyder é mais conhecido hoje por ter dirigido Liga da Justiça (2017) e por ter lançado, quatro anos depois, um corte do mesmo filme com 4h de duração. Porém, antes de se consagrar na DC, o cineasta americano foi responsável por um sucesso considerável de bilheteria: 300. Adaptado da série de quadrinhos assinada por Frank Miller e Lynn Varley, o épico de 2006 arrecadou US$ 456,1 milhões mundo afora, mas também recebeu muitas críticas por sua imprecisão histórica e, inclusive, por sua representação racista dos persas.
Ambientada na Grécia de 480 a.C., a trama acompanha um momento crucial para o rei Leônidas (Gerard Butler) e seus 300 guerreiros de Esparta: eles devem enfrentar o numeroso exército de Xerxes (Rodrigo Santoro), o rei persa também chamado de Deus-Rei. Enquanto a Batalha de Termópilas se desenrola, a esposa de Leônidas, a rainha Gorgo (Lena Headey), tenta angariar apoio para o marido em sua cidade-Estado.
Entre os que enxergam erros ou até mesmo uma abordagem discriminatória no longa de Snyder está Peter Meineck, especialista em mitologia greco-romana e professor da New York University (NYU). Em entrevista para o canal da Vanity Fair no YouTube, ele analisou o que está certo e o que não está em 300 e outras produções como Pantera Negra (2018), Mulher-Maravilha (2017) e a animação Hércules (1997), da Disney.
Se por um lado a obra de Snyder coloca os espartanos em um pedestal, por outro decepciona ao retratar os persas. "Uma das coisas que eu realmente não gosto neste filme é como eles são apresentados – retorcidos, meio vis", diz Meineck. "Para mim, é bastante racista e promove a ideia de uma supremacia branca contra esse tipo horrível de invasores pardos, e é completamente impreciso."
O professor então lembra que uma das principais características do império persa era justamente seu caráter multiétnico, com pessoas das mais diferentes origens integrando as fileiras de seu exército. "Nos textos escritos pelos gregos, você não encontra esse tipo de atitude racista ou xenofóbica", explica Meineck comparando com 300.
Em seguida, ele menciona o personagem Ephialtes (vivido por Andrew Tiernan), um soldado espartano que, após ser renegado por sua deficiência, entregou seu povo para Xerxes. Segundo Meineck, há relatos de uma figura que realmente se juntou ao inimigo, mas "certamente não era tão deformada quanto esse personagem – o que também é muito problemático".
Diretor de Liga da Justiça engavetou continuação de ‘300’ focada em romance gay"Há uma conexão entre perfeição física, beleza, lealdade e verdade. Como o personagem não se encaixa no ideal, ele tem que ser o vilão", apontou o especialista, destacando por fim que os gregos não encaravam pessoas com deficiência dessa forma. Ao contrário, eles tinham posições de prestígio na sociedade da época.
300 está disponível no catálogo da HBO Max.