É muito fácil chegar a conclusões erradas quando você aborda algo superficialmente. Por exemplo, reduzir Martin Scorsese a um diretor de filmes de gângster só porque ele fez várias de suas produções mais populares nesse gênero. Ou ainda considerar que ele só faz filmes "muito masculinos" voltados para este público em específico. São comentários exagerados, mas tem muita gente falando isso na internet.
Esta obra-prima de suspense tem uma das melhores reviravoltas de todos os temposDeve-se dizer que essa percepção preconceituosa não é nova. Provavelmente já havia muitas críticas sobre Scorsese quando foi anunciado - em 1993 - que iria adaptar novamente para o cinema A Época da Inocência, um dos romances mais conhecidos de Edith Wharton. Havia dúvidas, embora o cineasta viesse reivindicando-se com os sucessos de Os Bons Companheiros e Cabo do Medo depois de uma complicada década de oitenta com filmes que falharam em sucesso comercial. Mas isso foi porque os críticos não foram claros sobre as habilidades do ítalo-americano e os verdadeiros temas do romance.
O desejo impossível de A Época da Inocência
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A Épocada Inocência se passa em Nova York (como tantos outros filmes do diretor), no ano de 1870. Um sofisticado cavalheiro da alta sociedade (Daniel Day-Lewis) é noivo de uma jovem da mesma escala social (Winona Ryder), na esperança de manter o status que era tão valorizado naquela época.
É aí que nosso personagem principal conhece a prima de sua futura esposa, uma condessa (Michelle Pfeiffer) condenada à exclusão social por querer deixar seu marido autoritário e infiel. A condessa não obedece às rigorosas leis sociais da época. Ela anseia pela nova vida depois de um casamento muito complicado, mas isso não é tolerável para ambientes conservadores, e seu círculo próximo tenta dissuadi-la da decisão.
Todos são contra o ímpeto de liberdade da moça, exceto o noivo de sua prima, mais compreensivo e disposto a ajudá-la. Algo mais do que uma relação de familiares adjuntos começa a surgir entre eles, e tentam fazer o seu melhor para conter uma paixão emergente que eles sabem que não é apropriada.
O filme toma decisões interessantes para contar essa relação e o contexto em que a trama se envolve. Embora Day-Lewis seja nosso principal protagonista nesse triângulo, a narração tenta respeitar tanto sua perspectiva quanto a do personagem de Pfeiffer, mantendo o espírito do romance. Sua abordagem de um mundo cheio de leis opressivas e normas sociais passivamente hostis não está muito distante de sua exploração dos mundos da máfia ou de outros círculos criminosos.
Diretor de O Poderoso Chefão critica desde Marvel a sucessos como Duna e 007: "Analisando os dois filmes, daria no mesmo"Uma obra-prima sobre resignação
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No coração do filme há um sentimento angustiado de melancolia e de resignação diante do desejo não consumado. Ele também fala sobre essa tentação dos personagens, desse impulso de desafiar esses rígidos estados para perseguir o desejo do coração.
Scorsese explora muito aqueles que anseiam por desafiar uma força superior, seja a máfia ou mesmo o próprio Deus, quase por puro instinto de sobrevivência. Este filme não é religioso, mas os desenhos rígidos da alta sociedade e da família em que Day-Lewis é introduzido seguem um dogmatismo muito conservador típico do catolicismo estrito. E poucos trataram melhor sua complexa relação com a religião do que Scorsese.
É por isso que A Época ade da Inocência, um pródigo drama de época, contado com cuidado, é um dos filmes mais “Scorsesianos” de sua filmografia. O longa também pode ser considerado uma de suas maiores obras dentro de uma carreira repleta de obras-primas.
Onde assistir A Época da Inocência
Para agraciar os fãs de dramas históricos ou aqueles que simplesmente amam Bridgerton, o filme de Scorsese está disponível no catálogo da Netflix.
