No início deste mês, o filme Solteiramente, longa-metragem da África do Sul, entrou na lista dos 10 filmes mais assistidos da Netflix no Brasil (e em diversos outros países) conquistando uma importante etapa ultrapassada no cinema do continente africano, no geral. No entanto, esta não havia sido a primeira vez que um conteúdo 100% produzido na África ganhava importantes holofotes.
Nos últimos anos, a Netflix vem aumentando gradativamente o seu investimento em produções africanas, especialmente as realizadas na África do Sul, desde documentários, passando também por gêneros mais acessados pelo público, como comédia, ação e aventura. Por isso, o AdoroCinema separou um artigo para falar um pouco mais sobre as séries e filmes africanos na plataforma e explicar também como se deu esta ascensão.
O INÍCIO do cinema africano
Para começar a falar dessa história, é importante voltar alguns anos no tempo, mais especificamente para 2014, quando a Netflix deu os primeiros passos para lançar séries e filmes originais em seu serviço de streaming adquirindo os direitos de distribuição e produção da série Lillyhammer. De origem norueguesa, a obra já demonstrava na época que a empresa buscava uma estratégia diferente para atrair um público consolidado.
À época, os demais estúdios pensariam duas vezes antes de adquirir direitos de uma série feita na Noruega pelo receio de que isso pudesse significar um baixo consumo no mercado norte-americano, visado com tanta importância pela maior parte dos executivos tradicionais. No entanto, em uma mudança de estratégia, a Netflix viu nisso uma oportunidade de atrair assinantes de outros países.
Com o passar do tempo, mais obras originais foram chegando, inclusive a nossa brasileia 3%, que chegou a ser a série fora dos Estados Unidos mais assistida na Netflix do mundo inteiro, comprovando que a estatégia havia dado certo. Assim, a Netflix iniciou o processo de adquirir obras africanas, incluindo a primeira produção de uma série original da África do Sul, Queen Sono, criada por Kagiso Lediga.
A CONSOLIDAÇÃO com as séries
Conquistando bons números de audiência, Queen Sono abriu portas para outras diversas produções africanas e também simbolizava o início de uma nova etapa de marketing. Para se ter uma ideia, antes de 2018, a plataforma já tinha mais de 30 produções nigerianas (de terceiros) disponíveis para exibição, e mais outras tantas da África do Sul. Atualmente, estes dois países são os que mais produzem conteúdo original para a empresa, por motivos de menor custo e maior polo cinematográfico em língua inglesa, tendo a Nigéria, inclusive, apelidade de Nollywood.
Quando ocorreu a decisão de redirecionar o marketing para o novo leque de obras advindas do continente, rapidamente a Netflix contratou a queniana Dorothy Ghettuba como chefe dos originais africanos e fechou ainda parceria, no mês passado, com a Mo Abudu, gigante produtora de conteúdo audiovisual na Nigéria, mostrando uma disposição para conteúdos mais recorrentes no serviço.
Algumas controvérsias ocorreram, ainda, em relação a como o conteúdo era tratado (e para entender melhor isso, indicamos este artigo do portal "Por Dentro da África") de acordo com determinadas óticas trabalhistas e estereótipos, mas era o início de um momento importante. Mais originais vieram, como a série adolescente Sangue & Água, o policial Shadow, e os filmes Lionheart, Atlantique, Mais uma Página, além do próprio Solteiramente.
O FUTURO no streaming
Contando não apenas com uma recepção positiva da crítica e do público, o diretor de conteúdo da Netflix e agora co-CEO, Ted Sarandos, já anunciou que pretende, a cada ano, duplicar o número de produções feitas fora do solo norte-americano. A estratégia tem rendido maior relevância até mesmo às ações da plataforma (não há jantar grátis...), especialmente após indicações importantes ao Oscar, como aconteceu com o mexicano Roma, de Alfonso Cuarón, exibido em preto e branco e falado totalmente em espanhol.
Em relação ao conteúdo africano original na empresa, algumas obras grandes estão por vir! Dentre elas, estão a animação Mama K’s Team 4 (Zâmbia), idealizada por Malenga Mulendema, a série dramática JIVA! (África do Sul), escrita por Busisiwe Ntintili, e a terceira que aparentemente será a mais ambiciosa de todas, mas também não possui muitas informações, apenas que será uma ficção científica escrita e dirigida pelo nigeriano Akin Omotoso, um dos cineastas mais importantes do cenário da África do Sul.