Vamos fazer um experimento? Feche seus olhos e relembre os grandes sucessos dos últimos cinco anos. Agora, me diga quantos deles são completamente originais. Ou seja, nada de franquias, sequências, remakes, reboots ou spin-offs. É difícil, não? Se a maioria da humanidade nem sabe reciclar seu lixo, o reaproveitamento em Hollywood já é algo rotineiro. Livros viram filmes, filmes viram séries de TV e por aí vai...
Mas isso não é novidade para ninguém. Todo mundo sabe como o mercado cinematográfico funciona. Algo fez sucesso? Vamos bater na mesma tecla várias vezes, até parar de fazer dinheiro. É por isso que temos tantos filmes dos Transformers. Não é pela qualidade, mas sim porque o ser humano tem um desejo inexplicável de ver robôs caindo na porrada. Mas não estamos aqui para falar de franquias de blockbusters especificamente. Estamos aqui, pois Hollywood se encontra no auge dos remakes.
Remakes fazem parte da história de Hollywood
Pergunte para qualquer jornalista cultural: eles não aguentam mais fazer notícias sobre refilmagens, reboots, revivals ou novas versões de algo que já conhecemos. Afinal, você piscou e a Disney já anuncia uma nova adaptação live-action de uma animação clássica. Mas é muito fácil culpar a empresa de Mickey Mouse quando, na realidade, Hollywood sempre teve essa mania de remakes.
Quando aconteceu a transição entre cinema mudo e falado, muitos estúdios refaziam seus próprios filmes — dessa vez, com som, para atrair audiências. Ou então, nos anos seguintes, transformavam uma história já existente em musical como um escapismo da brutal realidade da época. Pegue Nasce uma Estrela, por exemplo. São quatro versões num período de 80 anos! Desde Janet Gaynor, pssando por Judy Garland ou Barbra Streisand até, finalmente, chegar em Lady Gaga. O exemplo de uma história temporal, onde as pequenas mudanças se apresentam na representação da fama em determinada época.
Mas por que essa tamanha paixão por remakes? Por alto, existem duas grandes explicações para isso. A primeira — e mais poética — é que histórias boas são contadas diversas vezes, ao longo dos anos, passando por gerações, se adaptando a cada uma delas. É pegar o conto de Rei Arthur, mas retratá-lo sob a visão de Nimue, como em Cursed - A Lenda do Lago. É transformar uma lenda para os olhos de uma nova sociedade, onde vozes que nunca tinham seu espaço finalmente podem falar algo além das aventuras de homens brancos e héteros que já vimos tantas vezes.
Os sucessos dos remakes
Já a visão mais capitalista é o medo de arriscar. Investir numa história completamente original, sem nenhuma forma de contato ou afeição anterior com o público parece muito perigoso, financeiramente falando. É como investir na bolsa de valores, só que Hollywood sempre busca as opções com baixo risco. Num mundo onde qualquer um tem uma tela no bolso, é preciso um motivo forte que o leve até os cinemas. Por outro lado, investir em algo já conhecido do público desperta curiosidade, sem falar que ainda pode apelar para a nostalgia, algo tão poderoso numa cultura como a atual.
E, sinceramente, quem pode culpá-los? O Rei Leão arrecadou US$ 1.6 bilhões mundialmente, mesmo sendo acusado de não ter o mesmo impacto emocional do original (e realmente não tem, mesmo com uma tecnologia tão realista). E olha que nem decidimos se é animação ou live-action até hoje! Só não foi a maior bilheteria de 2019, pois foi lançado no mesmo ano que Vingadores: Ultimato — que nada mais, nada menos, é o resultado de 10 anos de uma franquia.
Ao mesmo tempo, A Bela e a Fera, Aladdin e Alice no País das Maravilhas também ultrapassaram a meta do bilhão. Não é toda refilmagem que dá certo, mas quando dá, pode trazer resultados absurdos. Mesmo que essa eterna tentativa de atrair espectadores mais jovens também culmine em produções que nunca chegam aos pés da primeira vez. Vide o Robin Hood de Taron Egerton. Viu, você até esqueceu que esse filme existia.
O lado bom e o lado ruim do remake
Mas, por favor, não me entenda errado. Não estou dizendo que todo remake não presta. Quando a motivação é boa, sobre a ideia de recontar uma história, adaptando-a para uma nova realidade, pode ser algo legal. Até mesmo quando vem a partir de uma visão mais capitalista. Aladdin acertou no feminismo, dando mais espaço para Jasmine (Naomi Scott), e ouço "Speechless" todo dia pelos últimos 15 meses, então nunca poderia julgar. O recente O Homem Invisível traz uma visão moderna para um conceito já cansado e aborda temas importantes, como violência doméstica.
O problema é quando essa mania de fazer remakes surge por pura vontade de usar uma marca já conhecida. Veja Perry Mason deste ano. Ótima série, ótimo elenco, mas não precisava ser Perry Mason. O protagonista poderia ter qualquer outro nome. Ou leia os rumores sobre uma possível série de As Patricinhas de Beverly Hills, cuja descrição, literalmente, diz que será no clima de Riverdale. Totalmente diferente, né? Mas vai usar o nome de Clueless (no original), pois lhe convém. Sem falar naqueles que reaproveitam a mesma franquia, lançando sequências que ninguém pediu por décadas — beijo para A Hora do Pesadelo.
Olha, eu não sou roteirista. Ou produtora. Então, não tenho a menor noção de como encontrar sucesso num mercado tão competitivo como o de Hollywood. Então, só posso falar como espectadora (e, por vezes, crítica). Queremos coisas criativas. Pode nos fazer rir, chorar, ou tremer que nem vara verde; desde que nos cative. Então, se você tem um ângulo interessante sobre uma história já conhecida, está valendo. É a sua voz que queremos ouvir. Agora, se faz algo apenas para reaproveitar um nome conhecido ou uma nostalgia enlatada em busca de recorde de bilheteria... Não, obrigada. Não recicle meu filme favorito. Recicle só seu lixo e salve o planeta.