Houve um tempo em que os streamings eram considerados em sua plenitude a salvação para mídias alternativas. Há cerca de 8 ou 7 anos, por exemplo, a explosão da Netflix no território brasileiro foi vista com bons olhos por aqueles que procuravam consumir conteúdo fora dos cinemas, no conforto do lar, sem ter que esquentar muito a cabeça para isso.
Consequentemente, os esquemas de aluguel das TVs por assinatura e as outras plataformas que contavam com maneiras próprias de levar as "telonas" para as "telinhas" precisaram também se reinventar. Na prática, era o cenário perfeito: a Netflix oferecia um serviço bastante em conta, com diversas opções de conteúdo digital e, de quebra, ainda fazia com que empresas concorrentes precisassem trazer mais novidades.
Mas o tempo passa e o mercado sempre se adapta. Ao avançar dos anos, outros serviços foram surgindo, fazendo uma frente considerável à Netflix, o que de certa forma acabou dividindo a cabeça dos consumidores: por um lado, é bom saber que existem diversas opções e plataformas para consumo, mas por outro a cabeça dá um nó só de tentar lembrar onde está cada uma das séries e dos filmes que você mais gosta.
Antes de iniciarmos a questão do artigo, faça um exercício: pense nas suas cinco séries preferidas. Agora tente lembrar em que serviço de streaming, canal de TV fechada, ou coisa parecida, cada uma delas está. Quantas assinaturas você teria que fazer para assistir cada uma delas? E quantas outras você precisará realizar para assistir as próximas possíveis séries preferidas? E indo além, quantas outras séries foram canceladas ainda na primeira temporada nos últimos dois anos e como esse número mudou em relação a última década? Mas o que exatamente tudo isso significa?
A GUERRA DOS STREAMINGS
Conforme os anos foram se passando, a Netflix resolveu apostar não apenas na locação e aquisição de distribuição de conteúdos feitos por terceiros, como também viu um grande potencial no mercado de séries e filmes originais. Começou com a compra de Lillyhammer e depois foi escalando, causando um grande reboliço no mercado de ações, por exemplo.
Afinal de contas, não era algo qualquer: o icônico diretor David Fincher estava por trás do projeto de uma série original Netflix com temática política, estrelada por Kevin Spacey e Robin Wright. Ao mesmo tempo, uma série ambientada em uma prisão feminina também conquistava um outro nicho, e tudo parecia ir muito bem. Eventualmente, o algoritmo entrou no jogo e Stranger Things foi lançada com alta aprovação de crítica e público. Tudo parecia incrível.
No entanto, o que antes era qualitativo se tornou quantitativo e obras passaram a ser canceladas praticamente na mesma velocidade em que eram produzidas. Mas a aquisição de obras de estúdios gigantescos como a Disney e a Warner, por exemplo, ainda rendia milhões — até que os próprios estúdios perceberam que também podiam entrar na jogada.
NETFLIX, DISNEY E AMAZON
A Disney, que havia feito um acordo de exclusividade via streaming com a Netflix, cancelou o contrato depois de um ano e dois meses, anunciando que faria seu próprio serviço de streaming, que atualmente sabemos ser o Disney+. Consequentemente, as obras de parceria entre as duas empresas foram saindo aos poucos do catálogo da Netflix: fossem as adquiridas, como animações Disney/Pixar, ou as originais, como Luke Cage, Jessica Jones, e todos os outros produtos Disney/Marvel/Netflix.
Já na Amazon Prime Video, considerada por muitos espectadores como a "nova queridinha" do pedaço, a coisa foi um tanto diferente, em todos os aspectos. Oferecendo uma quantidade menor de séries originais, mas detendo uma aprovação geral muito maior na relação qualidade x quantidade, o Prime Video fez um outro tipo de acordo e conseguiu trazer para seu streaming animações como Frozen, Dois Irmãos, e até live-actions recentes como Aladdin. Isso porque o Disney+ não está disponível aqui no Brasil ainda, e como o clima entre o Mickey Mouse a Netflix não andava muito bem das pernas... a Amazon ganhou a melhor para exibir os conteúdos da empresa até o lançamento do seu streaming próprio. E por fim, a questão definitiva:
POR QUE ALGO SAI DA NETFLIX E VAI PARA A AMAZON?
No meio desta loucura toda, é comum que serviços façam parcerias. A Disney, por exemplo, formou uma trinca difícil de derrubar junto com a ESPN e o Hulu, por exemplo. Entre Netflix e Amazon é difícil haver uma cumplicidade, por serem concorrentes diretas, então é comum que uma ofereça mais que a outra para poder tornar-se detentora de certo produto.
Os contratos de licenciamento de filmes e séries nos streamings funciona por tempo limitado. Por exemplo: a Netflix pagou para ter Mad Men no serviço por um número X de tempo, e não houve interesse de alguma das partes em renovar o contrato. Porém, misteriosamente, um mês depois de sair da Netflix a série estava disponível na Amazon Prime Video.
Isso significa que a Amazon considerou a demanda por Mad Men interessante o suficiente para surgir como a "salvadora" do conteúdo para diversos espectadores que ainda a assistiam e ficaram decepcionados quando o conteúdo saiu da Netflix de sopetão. Então, basicamente, esta é uma questão de "leva quem oferece mais no melhor momento".
A aquisição também possui cláusulas locais a depender da demanda de determinado conteúdo em cada país. Por exemplo, a série The Office saiu do catálogo brasileiro da Netflix há um bom tempo, enquanto no catálogo norte-americano ela continuou por lá, provavelmente por que as analistas enxergaram potencial suficiente para renovar a cláusula apenas nos Estados Unidos.
Mas no final das contas, a tendência é que cada vez mais os estúdios criem seus próprios serviços e não entreguem mais seus conteúdos para outros streamings. The Office, por exemplo, estará na plataforma de streaming da NBC em algum tempo e possivelmente sairá da Amazon Prime Video, onde habita atualmente. Mas é possível que ela continue no Globoplay, pois é um serviço quase exclusivamente nacional e não atrapalhará os planos da NBC enquanto ela não estrear sua plataforma no Brasil.
O mercado sempre cobra seu preço.