Há exatos 20 anos, o AdoroCinema entrava no ar. O que acontece ao longo de 20 anos? Muita coisa. Ao mesmo tempo em que parece pouco tempo na teoria (o planeta Terra tem mais de 4,5 bilhões de anos, afinal de contas!), também existe a sensação real de que o distante ano 2000 aconteceu há quase uma vida. E para o Cinema como o conhecemos, a trajetória de lá para cá tem sido a melhor possível: mágica, transformadora e cada vez mais irresistível.
Aproveitando a ocasião muito especial, reunimos toda a equipe do AdoroCinema para um desafio tão complexo quanto instigante: escolher os melhores filmes produzidos nos últimos 20 anos. Para isso, cada votante foi convidado a escolher 50 filmes lançados a partir de 1º de abril de 2000, sem ordem de preferência. Somamos todos os votos e assim chegamos à lista de 20 obras que apresentamos a seguir.
É claro, vinte é muito pouco, o que significa que muitos filmes maravilhosos ficaram de fora. Para se ter uma ideia, 230 filmes diferentes foram citados por duas dezenas de eleitores. Vale lembrar que a lista não está em ordem de classificação, e sim de data lançamento, do mais antigo ao mais recente. Fique também atento ao fato de que metade dos filmes está nesta página, enquanto o restante está na próxima página.
Sem mais tempo a perder, aqui estão os 20 melhores filmes dos últimos 20 anos, de acordo com a equipe do AdoroCinema.
A Viagem de Chihiro (2001)
A animação mais clássica de Hayao Miyazaki, considerado com razão por muitos o “Walt Disney japonês”, é uma inesquecível obra de fantasia pincelada por mensagens subliminares, figuras folclóricas e toda a magia e pureza que são esperadas nas melhores fábulas que embalam os sonhos infantis desde sempre. Felizmente não é preciso ser criança para se encantar e se identificar com a saborosa viagem de descoberta da pequena Chihiro, certamente uma das personagens femininas mais interessantes a estrelar um desenho animado.
Cidade de Deus (2002)
O filme brasileiro mais relevante das últimas décadas (indicado a quatro prêmios do Oscar 2003, inclusive na categoria Direção para Fernando Meirelles) também permanece como um dos mais importantes estudos sobre criminalidade juvenil no país. Quase duas décadas depois, tudo permanece icônico e relevante em Cidade de Deus: os bordões e trejeitos dos personagens maiores que a vida; as interpretações marcantes do irresistível elenco inexperiente; e a violência nua, crua e chocante, fruto amargo de nossas desigualdades sociais até hoje não solucionadas.
Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004)
Tudo dá certo nessa fábula urbana de Michel Gondry escrita por Charlie Kaufman. Jim Carrey nos presenteia com uma das performances definitivas de sua carreira e exibe a química perfeita com Kate Winslet, que faz a ex-namorada que ele deseja esquecer após ela mesma esquecê-lo. O surrealismo do enredo não esconde camadas de realismo naturais a qualquer relacionamento da vida real, e é por isso que Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças continua a ser lembrado por seu incurável romantismo, ainda que seja embalado por um par de corações partidos.
O Diabo Veste Prada (2006)
Se existe um filme que merece ser considerado o "crème de la crème" das comédias dramáticas deste século, este é O Diabo Veste Prada. Inspirado no best-seller de Lauren Weisberger, o longa-metragem traz mais uma atuação digna de Oscar de Meryl Streep como a perversa Miranda Priesley (papel pelo qual ela foi de fato indicada), mas outros elementos memoráveis se destacam: a performance carismática de Anne Hathaway, os bordões incríveis de Emily Blunt (praticamente em um dos seus primeiros papéis de destaque) e, para quem aprecia moda, muitos figurinos de tirar o fôlego.
Pequena Miss Sunshine (2006)
Todo mundo gosta de histórias de superação, mas Pequena Miss Sunshine vai muito além disso. O filme é um verdadeiro road movie tragicômico estrelado por uma das mais incríveis famílias disfuncionais do Cinema (o elenco de estrelas, aliás, está perfeito -- Toni Collette, Steve Carell, Greg Kinnear, Paul Dano, Alan Arkin e a pequena brilhante Abigail Breslin). Emocionalmente, a trama parece uma montanha russa: é impossível não gargalhar com as situações dramáticas, mas também é difícil não se comover com momentos em que é melhor rir para não chorar.
O Cavaleiro das Trevas (2008)
Talvez seja a personificação mais realista de um super-herói nas telonas, mas ainda hoje, doze anos depois, O Cavaleiro das Trevas é mais lembrado pela performance sobrenatural do saudoso Heath Ledger como o Coringa -- que lhe rendeu um merecido Oscar póstumo de Melhor Ator Coadjuvante. De fato, se o capítulo central da trilogia de Christopher Nolan é uma aventura memorável, muito é porque o Batman finalmente encontrou um antagonista à altura de sua importância após tantos embates frustrantes em outros filmes. Fica a dúvida se o filme sobreviverá à prova do tempo por suas qualidades cinematográficas ou pelo carisma diabólico do Coringa criado por Ledger.
A Origem (2010)
Mesmo dez anos após seu lançamento, A Origem ainda impressiona tecnicamente e mantém uma aura de mistério que incita profundos debates e questionamentos. Christopher Nolan arquitetou uma trama de caráter surrealista que mexe com nossas angústias enraizadas, mostrando as desventuras de ladrões de segredos escondidos no subconsciente durante o sono das pessoas. É preciso uma verdadeira ginástica mental para compreender as amarras entre muitas camadas narrativas de alta complexidade, mas o esforço para quem estiver disposto ao desafio é devidamente recompensado -- mesmo que o final ambíguo não nos ofereça a resposta que tanto esperamos.
A Rede Social (2010)
Naquele final de 2010, um filme sobre a origem do Facebook parecia chegar cedo demais. É surpreendente olhar para trás agora, uma década depois, e perceber o quanto a rede social criada sorrateiramente por Mark Zuckerberg em 2004 permanece relevante na sociedade atual, ainda que por motivos bem diferentes (e não mais à prova de críticas e protestos). O longa de David Fincher roteirizado por Aaron Sorkin tinha tudo para ser uma história burocrática sobre a gênese de uma grande corporação, mas acabou se revelando um minucioso e interessante estudo sobre o comportamento humano. Assim como o próprio Facebook, nem tudo é o que parece ser na superfície.
Cisne Negro (2010)
Cisne Negro é uma obra esquizofrênica, que estabelece o balé como a mais bela das expressões artísticas, ao mesmo tempo em que desvenda a feiura que não enxergamos nos bastidores, entre dramas, dores e cicatrizes. Natalie Portman mereceu o Oscar de atuação por sua entrega total como Nina, a bailarina ambiciosa que não consegue manter o equilíbrio diante da pressão brutal da profissão e dos fantasmas interiores que insistem em assombrá-la. E é quando explora a fundo esse universo de puro horror que o filme de Darren Aronofsky mostra sua verdadeira -- e não tão bela -- face.
Ela (2013)
Os relacionamentos humanos estão cada vez mais líquidos e superficiais. Qual seria a solução diante da sombria possibilidade do total isolamento? Ela nos oferece uma vaga ideia de como as dinâmicas amorosas poderiam se desenrolar em um futuro próximo, e o faz de uma maneira tão terna quanto assustadora. Ainda mais relevante hoje nesses tempos de Alexas, Siris e outras assistentes digitais inteligentes, o drama romântico de Spike Jonze aborda com delicadeza a ideia de que somos livres para amar como for, mesmo que isso signifique ir na direção oposta aos caminhos ditos convencionais.
Continua na próxima página: Os 20 Melhores Filmes dos últimos 20 anos, escolhidos pelo AdoroCinema.