É impossível definir quantas milhões de pequenas decisões constituem a produção de um filme, mas no caso do aclamado Guerra Fria, é possível apontar pelo menos uma escolha crucial que não só alavancou a potência do longa, como também garantiu suas três indicações ao Oscar 2019. Trata-se da opção por rodar o drama romântico de Pawel Pawlikowski (Ida) em preto e branco e não em cores, como contou o diretor de fotografia de Guerra Fria, Lukasz Zal, ao Deadline:
“A ideia era criar uma interpretação dos anos 50 e 60, e criar esse mundo a partir de memórias. O preto e branco ajuda muito ao criar uma base icônica [...] Quando começamos a trabalhar neste filme, tentamos a cor, mas depois de duas semanas percebemos que deveria ser preto e branco. Na Polônia daquela época, tudo era cinza. Era esverdeado e preto e branco. Acho que foi mais fácil penetrar esta obra e criar uma interpretação baseada na memória”, declarou o fotógrafo, indicado novamente à premiação da Academia de Cinema estadunidense após seu trabalho em Ida.
Apesar de não ser uma semi-autobiografia como o Roma de Alfonso Cuarón, o outro único filme em preto e branco da lista de nomeados ao Oscar, Guerra Fria é baseado na mesma ideia aplicada pelo realizador mexicano em seu premiado drama intimista: que a memória evoca a utilização do preto e branco — e coincidência ou não, fato é que ambos os longas foram indicados tanto à categoria de Melhor Fotografia, quanto à de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar. Na produção polonesa, a ausência de cores é empregada para narrar a melancólica e conturbada história de amor entre a cantora Zula (Joanna Kulig) e o pianista Wiktor (Tomasz Kot), conforme a relação dos dois se desenvolve contra o pano de fundo da crescente tensão política do período pós-Segunda Guerra Mundial, que dá nome ao filme.
Além da questão da memória, foi justamente este tumultuado romance que apresentou o tom correto de Guerra Fria para Pawlikowski e Zal, distanciando-nos de sua colaboração anterior, o vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro 2015, Ida: “Queríamos fazer algo diferente. Não queríamos nos repetir. Então Guerra Fria tem outro estilo... Vai de uma sensibilidade documental até algo mais estilizado e estático [...] Tudo muda quando você filme em preto e branco — figurinos, maquiagem, cabelos, direção de arte — porque você está procurando por contrastes em todos os lugares. Você está observando outra realidade”, apontou Zal, sobre o processo de filmagem de Guerra Fria.
Em alta na Polônia por causa das indicações recebidas, Pawlikowski e seu fotógrafo competem contra os pesos-pesados de Hollywood na grande noite da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, marcada para o dia 24 de fevereiro — fique ligado na cobertura completa do AdoroCinema! E Guerra Fria, por sua vez, já está em cartaz no Brasil; leia aqui nossa crítica 5 estrelas.