A verdadeira montanha-russa de altos e baixos que simboliza o período de Ben Affleck como o Homem-Morcego do Universo Estendido da DC finalmente encerrará suas atividades: ao passo em que The Batman, novo filme-solo do Maior Detetive do Mundo, agora tem uma data de estreia oficial (25 de junho de 2021), o premiado ator e diretor não dará sequência à sua interpretação de Bruce Wayne. Chega ao fim, portanto, a era Batfleck.
Neste horizonte inédito — e visualmente mais claro, literalmente falando, depois do afastamento de Zack Snyder do comando criativo da constelação de longas de super-heróis da Warner/DC — sem a presença de Affleck no papel de um dos principais personagens do Universo Estendido, é hora de olhar para o futuro. Mas também de relembrar o passado. Confira a seguir a retrospectiva preparada pelo AdoroCinema acerca de uma das maiores novelas da história recente de Hollywood:
O INÍCIO DO FIM
O início operou como um prenúncio do fim: no geral, a internet foi tomada por reações contrárias e negativas à escalação de Affleck, principalmente provenientes de fãs ainda saudosos do trabalho de Christian Bale na trilogia O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan e de alguns detratores das performances passadas do ator. Apesar disso, no entanto, o cineasta de Argo encarou o desafio de encabeçar o reboot — depois de originalmente declinar o convite feito por Snyder e pelo autor David S. Goyer — de um dos mais famosos mais heróis da cultura pop nas telonas e de dividir os holofotes do Universo Estendido da DC com Henry Cavill, o Homem de Aço.
Contudo, o êxito do vencedor do Oscar de Melhor Filme Argo com a crítica e na temporada de premiações havia elevado o patamar de Affleck na indústria, particularmente como realizador e roteirista. Assim, a Warner reuniu confiança suficiente para não só selecionar o astro, como também bancá-lo à frente do ambicioso projeto de Snyder para o DCEU mesmo após a enxurrada de críticas. Tanto como um Bruce Wayne "mais velho e mais sábio" — um contraponto direto ao Superman de Cavill e ao Homem-Morcego de Bale —, quanto como diretor, Affleck tinha o perfil exato buscado pela major, que já planejava entregar o vindouro The Batman nas mãos da estrela.
FIASCO E TRIUNFO
A DC não demorou a marcar a estreia de Affleck como o Maior Detetive do Mundo: seria logo no aguardado Batman vs Superman, que faria as vezes de introdução ao novo Homem-Morcego e de estabelecimento da rivalidade histórica dos dois heróis, que nunca haviam partilhado as telonas. Tamanha expectativa gerado pelas novidades anunciadas, todas em um só pacote, jogaram as esperanças do público para além da estratosfera. O que, obviamente, também só ajudou a aprofundar ainda mais o buraco aberto pelo fracasso de Batman vs Superman. Pretensiosa em seu sonhado caráter épico, a aventura pode ter feito uma ótima bilheteria (US$ 873 milhões ao redor do mundo), mas foi execrada pelos críticos em sua grande maioria.
Por outro lado, Affleck provou aos seus detratores que sua leitura do Homem-Morcego era muito boa, até mesmo mais próxima à essência original do personagem nos quadrinhos do que a super badalada versão de Bale. Na visão de muitos, aliás, o ator, ao lado da Mulher-Maravilha de Gal Gadot, foi um dos pontos altos do primeiro real desastre de Snyder no DCEU. Reações favoráveis à parte, entretanto, o desconforto de Affleck acerca do barco da DC, em incipiente estado de naufrágio, foi inaugurado. Mesmo que tenha sucedido individualmente no gênero dos super-heróis, o triunfo não foi o bastante para deletar da memória do astro o revés sofrido por ele no malfadado Demolidor, em 2003.
OS BOATOS
Os rumores sobre aquela que seria a eventual saída de Affleck do Universo Estendido da DC tiveram início logo antes da Comic-Con 2017, época em que o estúdio se preparava para lançar Liga da Justiça, um filme-evento que reuniria todos os seus heróis e que, nas previsões da Warner, completaria a volta por cima instituída por Mulher-Maravilha, sucesso solitário da produtora até hoje. Mas mesmo em meio a uma crise pessoal após sua separação da ex-mulher Jennifer Garner e durante o auge de uma nova crise profissional — causada tanto pelo desastre de A Lei da Noite, realizado pela estrela, e da desnecessária aparição de Batfleck em Esquadrão Suicida —, o astro bateu o pé e garantiu que não iria a lugar algum.
Vale lembrar, contudo, que em janeiro daquele ano, Affleck já havia deixado o posto de comandante de The Batman, sendo posteriormente substituído pelo diretor e roteirista Matt Reeves (Planeta dos Macacos: A Guerra). Assim, ainda que tenha reafirmado sua posição e mantido sua resolução de protagonizar o Universo Estendido da DC, as declarações do astro não foram encaradas como definitivas — o que alimentou não só os boatos já criados, como também aqueles que ventilaram a hipótese de que a Warner já buscava outras possibilidades para o papel do Maior Detetive do Mundo. E, então, veio o furacão Liga da Justiça para varrer todos os bons cenários que se apresentavam.
LIGA DA JUSTIÇA
Incongruente e confuso por ser um produto híbrido de dois diretores (Snyder e Joss Whedon, primeiro guru do Universo Cinematográfico Marvel) cujos estilos jamais se complementariam, Liga da Justiça não só ficou mais lembrado por seus incidentes folclóricos — os figurinos fetichistas das amazonas, o Mustachegate e a furiosa petição pela liberação do corte original de Snyder, que não existe porque o diretor não terminou de rodar o roteiro, entre outros —, como também motivou alterações drásticas no Universo Estendido da DC por seu fracasso retumbante. Os US$ 657 milhões, que ficaram muito aquém das previsões financeiras da Warner, não puderam impedir o caldo de entornar.
Em seguida, a produtora cortou todos os seus laços com Snyder e voltou sua atenção para seus outros projetos, ao passo em que nomes como Jack O'Connell, Jack Huston e Jake Gyllenhaal foram ligados ao papel de Batman, mesmo que, oficialmente, este ainda estivesse sob a responsabilidade de Affleck. O golpe final veio, finalmente, em outubro de 2018, pouco mais de cinco anos após a contratação do astro para viver o Homem-Morcego: de acordo com informações da Variety, a Warner refez seu planejamento para o futuro do Universo Estendido da DC, prescindindo das presenças de Cavill e também de Affleck, cujo salário e/ou multa contratual elevaria os gastos da Warner ao máximo.
O FUTURO
"Animado para ver The Batman em 2021 e para ver a visão de Matt Reeves se concretizar"
O prego final de um caixão encomendado há muito tempo foi cravado nesta semana, quando o próprio Affleck usou sua conta no Twitter para confirmar a passagem da tocha para outro ator no filme que Reeves lançará em 2021. Não existem maiores informações sobre como The Batman será inserido dentro do fluxo temporal e narrativo do Universo Estendido da DC: será um reboot? Outro homem assumirá a máscara do Homem-Morcego? Alguns dos próximos lançamentos fará uma alteração na linha temporal, reconstruindo a história que começou a ser contada por Snyder? Não se sabe. O que é certo, de um modo ou de outro, é que Affleck não retorna.
O ator, livre das obrigações contratuais com a Warner, se preparará agora para retornar à cadeira de direção no remake de Testemunha de Acusação, o clássico de Billy Wilder baseado na obra de Agatha Christie. Do outro lado, o estúdio, ainda mais focado em reorganizar seu universo ao redor da Mulher-Maravilha de Gadot, adentra um demorado processo de reestruturação, que já aponta novas direções com Shazam! e o bilionário Aquaman. Resta aguardar agora para ver se o estúdio não embarca em outra de suas novelas. Affleck, por sua vez, provavelmente vai querer distância de todo e qualquer melodrama por um tempo.