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    The Irishman: O que sabemos (até agora) sobre o filme de Martin Scorsese para a Netflix

    Épico criminal do realizador quase foi engavetado antes da gigante do streaming entrar na parada.

    No jargão dos gângsters e do submundo dos Estados Unidos, "pintar casas" significa matar, uma gíria derivada do sangue que espirra dos corpos e das cabeças nas paredes contra as quais os mortos se chocam após o impacto dos tiros. É esta expressão de eufemismo para as execuções realizadas por matadores de aluguel que aproxima dois homens cujas vidas jamais viriam a se desenlaçar: Frank Sheeran e Jimmy Hoffa, os protagonistas do novo épico de Martin Scorsese, The Irishman.

    Baseado no livro "O Irlandês: Os Crimes de Frank Sheeran a Serviço da Máfia" (ed. Seoman), o próximo e aguardadíssimo filme do diretor de Taxi DriverO Lobo de Wall Street promete, tanto por fatores internos, quanto por fatores externos. Afinal de contas, além de marcar o retorno do lendário cineasta ao gênero dos longas de mafiosos, do qual está afastado desde Os Infiltrados, lançado em 2006, The Irishman também vai explorar uma das mais fascinantes, misteriosas e sangrentas narrativas da história recente dos EUA.

    Nascido em 1920 e falecido em 2003, Frank Sheeran levou uma vida intensa, que incluiu uma passagem pelo exército durante a Segunda Guerra Mundial e um curto período de tempo à frente de uma das divisões regionais dos Teamsters, uma espécie de sindicato internacional de caminhoneiros. Mas o Irlandês ganhou sua fama como assassino da máfia, um "trabalho" que o colocaria como principal suspeito do desaparecimento de seu amigo Jimmy Hoffa.

    Em linhas gerais, essa é a trama de The Irishman, projeto que quase foi engavetado para sempre por Scorsese antes da Netflix entrar na parada, pagando astronômicos US$ 105 milhões pelos direitos da produção, que eram detidos pela Paramount. Mas antes de analisarmos os aspectos práticos e logísticos, vamos ao que interessa: o elenco reunido pelo realizador para sua mais nova obra, cujos protagonistas serão ninguém mais, ninguém menos que Robert De Niro (como Sheeran) e Al Pacino (como Hoffa).

    Titãs da sétima arte estadunidense, os dois atores estão em posições completamente opostas quando se trata da filmografia de Scorsese: enquanto De Niro é o muso máximo do diretor, com quem trabalhou em oito ocasiões antes de The Irishman, Pacino faz sua estreia em uma obra do responsável por Os Bons Companheiros. Mas mesmo sendo um veterano ao lado do cineasta, De Niro foi submetido a um processo inédito que o transformou em um novato como o colega: o do rejuvenescimento digital.

    Como o épico cobre grandes porções temporais das vidas dos dois personagens, foi necessário investir pesado na mesma tecnologia que resgatou o Jeff Bridges dos anos 1980 em Tron: O Legado, de 2010. Assim, Scorsese filmou The Irishman como se De Niro e Pacino estivessem na casa dos 30 anos — os dois têm 75 e 78 anos, respectivamente — e deixou o restante do trabalho para a pós-produção, regressando quatro décadas na história. Mas um processo como este, é claro, não é nada barato.

    Segundo informações do tabloide Page Six, Scorsese tirou uma página de seus dias de Nova Hollywood e estourou em aproximadamente US$ 50 milhões a verba de produção inicialmente liberada pela Netflix de... US$ 125 milhões! Ou seja, ao custar US$ 175 milhões — incluindo os gastos com o procedimento conduzido pela ILM, empresa de George Lucas —, The Irishman tornou-se o projeto mais caro de Scorsese, superando A Invenção de Hugo Cabret (US$ 150 milhões a US$ 170 milhões de orçamento).

    O volume do montante, que muito provavelmente não se traduzirá em retornos imediatos, uma vez que o lançamento do longa pela Netflix se dará, como de costume, majoritariamente através da plataforma de streaming, demonstra como a gigante do segmento está disposta a investir em nomes de peso para garantir prestígio. E assim como Roma, de Alfonso Cuarón, The Irishman também ganhará uma jornada nas salas de cinema tanto por causa do clamor popular, quanto por causa da temporada de premiações.

    Nesse caso, é bastante provável que o épico — que ainda trará Harvey KeitelJoe Pesci (que retorna da aposentadoria após negar o papel 50 vezes, segundo rumores) para trabalhar pela quarta com Scorsese — fique para o segundo semestre de 2019, onde os festivais cinematográficos são mais favoráveis à líder do streaming. É evidente que The Irishman pode aparecer de surpresa em Berlim, mas é mais provável que o drama criminal estreie em Veneza, onde o realizador venceu o Leão de Ouro por Os Bons Companheiros.

    A mostra italiana, ao lado do Festival de Toronto, que ocorre quase na mesma época, transformou-se em uma das plataformas diretas para o Oscar — vide os casos de La La LandA Forma da Água — nos últimos anos. Lá, portanto, o projeto teria ainda mais chances para batalhar pelos principais troféus do período de cerimônias e competições. Cannes — apesar do histórico vitorioso de Scorsese na França — pode ser excluída da lista de possibilidades por causa do imbróglio entre a direção do festival e a Netflix.

    E aí, empolgados para The Irishman? Bobby Cannavale, Anna Paquin, Jack HustonJesse PlemonsRay Romano completam o elenco da produção, que levou 106 dias para ser rodada, o maior tempo de filmagem da carreira do realizador.

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