No mês de novembro se comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil, data instituída em referência à morte de Zumbi dos Palmares. líder quilombola que foi um símbolo da luta contra a escravidão no Brasil. Mais do que um dia no calendário, a data suscita no país uma série de importantes debates sobre a questão racial no Brasil e no mundo, não apenas no que se refere ao enfrentamento da discriminação, mas também em um processo de empoderamento.
Uma das funções do cinema, comum a todas as demais artes, é articular comentários que possam aprofundar discussões importantes para a sociedade. No que se refere à causa da igualdade, nenhuma outra superprodução hollywoodiana levou a pauta da representatividade negra tão longe quanto Pantera Negra, produção já disponível no Telecine Play (3).
Abaixo, listamos cinco produções que abordam o empoderamento negro, contando com o sucesso do Universo Cinematográfico Marvel.
Pantera Negra (2018)
Uma das coisas mais importantes sobre Pantera Negra é que o longa-metragem extrapolou as fronteiras do mero entretenimento e se transformou um verdadeiro fenômeno cultural. Não era para menos. A produção da Marvel Studios não tem par em Hollywood. Nunca antes um filme tão caro (estimado em US$ 200 milhões) foi feito por um diretor negro (Ryan Coogler), roteiristas negros (Coogler e Joe Robert Cole) e estrelado por atores negros. Com uma trama envolvente, o longa-metragem se destacou pelo respeito e responsabilidade que teve ao criar uma amálgama de homenagens para retratar uma África utópica, culturalmente vibrante e avançada tecnologicamente que jamais foi tocada pelo colonialismo. A disputa de poder entre o benevolente T’Challa (Chadwick Boseman), criado nas benesses de Wakanda, e o colérico Erik Killmonger (Michael B. Jordan), que experimentou o trauma do racismo institucional nos Estados Unidos, é o motor do filme e inspira boas discussões. Depois de jovens negros se mobilizarem em todo o mundo para prestigiar o filme nos cinemas, o longa-metragem da Marvel arrecadou US$ 1,3 bilhão em todo o mundo e se tornou o filme de super-herói de maior bilheteria de todos os tempos nos Estados Unidos.
Selma - Uma Luta pela Igualdade (2014)
A carreira de Ava DuVernay é marcada pelo pioneirismo. A cineasta foi a primeira mulher negra a vencer um prêmio de direção no Festival de Sundance (em 2012, por Middle of Nowhere), a primeira mulher negra a dirigir um filme com arrecadação maior do que US$ 100 milhões nos EUA (Uma Dobra no Tempo), a primeira mulher negra indicada a um Globo de Ouro de direção e também a primeira a dirigir um longa-metragem indicado ao Oscar de melhor filme — estes dois últimos marcos foram conquistados pelo trabalho em Selma - Uma Luta Pela Igualdade. O drama narra a história de outro pioneiro, o ativista Martin Luther King, importante líder da era do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. David Oyelowo interpreta o personagem principal em uma trama sobre as históricas marchas de Selma para Montgomery para garantir que negros tenham o direito de votar no estado do Alabama. "O pastor protestante Martin Luther King lutava pelo direito das minorias, pela redução das desigualdades, pela retirada de privilégios da elite. Esta é uma boa luta, ainda mantida por parte das comunidades cristãs. Mas nos tempos conservadores atuais, com tantos políticos fazendo da religião uma política, é interessante ver um homem que optou pelo caminho contrário, fazendo da política uma religião”, diz a crítica do AdoroCinema.
Faça a Coisa Certa (1989)
Prestes a lançar no circuito comercial de salas do Brasil com o filme Infiltrado na Klan, pode ser uma boa pedida ver (ou rever) o maior trabalho já realizado por Spike Lee. Dono de uma voz única entre os cineastas afro-americanos, o diretor lapidou um roteiro afiado, repleto de tiradas sagazes em uma descrição potente das tensões raciais ao longo de um dia quente no bairro do Brooklyn. O longa-metragem concorreu à Palma de Ouro em Cannes e a dois prêmios no Oscar. Ao mostrar o cotidiano de um bairro pobre de Nova York, Lee foi capaz de representar aquele microcosmo como uma câmera de ensaio de ansiedades sociais presentes na sociedade estadunidense há décadas, há séculos, de forma competente e exuberante. Do início com uma das cenas de abertura mais icônicas do cinema até o catártico desfecho, que evoca de forma quase existencial o debate de ideias entre Malcolm X e Martin Luther King, Faça a Coisa Certa ainda nos faz refletir muito nos dias de hoje.
Xica da Silva (1976)
Zezé Motta se tornou um verdadeiro símbolo feminino de empoderamento negro no cinema nacional quando tais termos sequer eram usados da maneira que são hoje em dia quando estrelou Xica da Silva. Com direção de Cacá Diegues, o longa-metragem ficou famoso pela performance arrebatadora de Motta no papel da ex-escrava que se tornou uma dama da alta sociedade após ser alforriada e se relacionar com o milionário contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. O filme também popularizou a hoje clássica canção de Jorge Ben Jor escrita especialmente para o filme, traz um refrão inconfundível que faz alusão ao apelo sexual da personagem. Apesar de todo o sucesso do filme, premiado no Festival de Brasília, o legado da atuação em Xica da Silva marcou negativamente Motta. "Tive que fazer análise, porque Xica ficou no imaginário masculino de um jeito que todo mundo cismou de querer transar comigo", explicou a atriz quatro décadas depois do lançamento do longa-metragem.
A Cor Púrpura (1985)
Com direção de Steven Spielberg, A Cor Púrpura é um filme que exalta a potência da mulher negra em um contexto no qual tudo conspirava para abafar os sonhos da protagonista. Whoopi Goldberg, em seu primeiro papel nos cinemas, interpreta uma mulher que foi abusada pelo pai na adolescência, separada dos filhos que foram gerados após seus sucessivos estupros, entregue para um casamento forçado e resignada a enviar cartas para Deus e para sua irmã distante. Após o contato com outras mulheres, incluindo a personagem de Oprah Winfrey, também estreando como atriz, Celie (Goldberg) começa a enxergar o valor que ela tem. O filme é célebre por conta de sua alta carga emocional e pela maneira com a qual valoriza o legado de mulheres negras que muitas vezes foram diminuídas por serem quem são. O filme é uma adaptação do romance homônimo, da premiada autora Alice Walker.