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    Admirável Mundo Pop: Onde estão os filmes estrelados por crianças?

    A década de 1980 eternizou um tipo de aventura cinematográfica que não existe mais, e ainda faz muita falta.

    Eu fui uma criança que cresceu nos anos 1980 e tenho orgulho disso.

    Sempre vivi na cidade grande e morei em apartamentos na maior parte do tempo, mas passei tanto tempo ao ar livre quanto dentro do quarto ou na frente da TV. Minha rotina de brincar envolvia os jogos com regras e também o faz-de-conta. Nas escadarias do prédio ou nas ruas, em aventuras a pé ou em cima da bicicleta, sempre de mochila nas costas, eu bancava o agente secreto em missões perigosas, imaginava viagens espaciais para galáxias muito distantes, enfrentava bandidos, monstros e alienígenas (às vezes todos esses ao mesmo tempo!).

    E para um moleque urbano cheio de sonhos e fome de aventura, que época maravilhosa foi essa para ir ao cinema.

    É só puxar um pouco da memória para comprovar: os filmes mais populares entre as crianças daquele tempo eram obras originais que investiram no lúdico, na fantasia e na invenção. Eram tempos mais simples, menos tecnológicos e nada conectados, de um jeito quase impensável nos dias de hoje (imagine que poucos enredos daquela época seriam possíveis se as crianças já tivessem smartphones nos bolsos). Estrelados por uma geração marcante de atores e atrizes mirins, eram filmes alinhados ao zeitgeist da época e exploravam os assuntos favoritos da criançada --  quadrinhos, computadores, desenhos animados, astronomia, espionagem, piratas, e, em alguns casos, tudo ao mesmo tempo. Era sair da sala de cinema para imediatamente começar a sonhar em ser e viver tudo aquilo.

    Só recentemente me dei conta: por onde andam os filmes de aventura estrelados por crianças e adolescentes “normais”? Quase não existem. Neste fim da segunda década do século XXI, cinema infanto-juvenil é quase sinônimo de desenho animado ou de blockbusters de super-heróis. E quando são protagonizados por crianças, os filmes são baseados em obras literárias estreladas por personagens com poderes especiais e/ou vivendo em distopias, tal como Harry Potter, Jogos VorazesMaze Runner e afins. Houve muito pouca exceção à regra nos últimos anos, como o incrível Super 8 (2011), de J.J. Abrams, que bebe na fonte de E.T., e, se esforçando um pouco, Stranger Things da Netflix -- coincidência ou não, ambos são homenagens a aqueles filmes oitentistas.

    São vários os motivos para esse tipo de produto ter saído do foco de Hollywood. Depois de alcançarem sucesso comandando filmes para jovens, os principais diretores dessa época -- Steven Spielberg, Richard Donner, Robert Zemeckis, John Hughes, para citar os mais produtivos -- passaram a mirar um público mais “amplo” e maduro. A criação da classificação indicativa “PG 13”, que determinou os filmes destinados ao público teen de acordo com o conteúdo, pode ter limitado a criatividade dos cineastas. Houve também o aumento às restrições a crianças protagonistas, como consequência das denúncias de abusos aos atores mirins. E é preciso compreender a época mais “solta” em que tais filmes foram criados, quando os limites eram menos discutidos e se fazia vista grossa para cenas com crianças em situações de perigo e violência.

    A década de 1980 marcou a era em que as crianças e os adolescentes se tornaram o principal alvo de Hollywood em todos os gêneros possíveis: comédia, romance, terror, policial, fantasia e, principalmente, aventura. Os filmes não eram apenas estrelados por jovens, mas eram focados em agradar os jovens, e esse público ganhou muitos motivos para ir ao cinema com frequência. Se hoje a onipresença da cultura pop é inquestionável, talvez seja porque a minha geração cresceu assistindo a filmes que lembravam o tempo todo que as coisas que gostávamos eram realmente legais. E vale também citar que nenhuma época lançou tantas carreiras de sucesso, que em certos casos atravessaram as décadas e ecoam até hoje.

    Aproveito este resgate nostálgico para elencar aqui os sete filmes estrelados por crianças e adolescentes que marcaram a minha vida infantil. Alguns são óbvios, outros nem tanto. Quais desses te marcaram também?

    (E antes que você reclame, E.T. não está nessa lista porque merece um texto especial que prometo que um dia vou publicar aqui).

    ***

    7. O Gênio do Videogame (The Wizard, 1989)

    Fred Savage fez muitos filmes durante o auge da série Anos Incríveis, mas nunca conseguiu repetir o sucesso de seu “Kevin Arnold”. Aqui ele é o garoto esperto que tem a missão de inscrever o irmão autista em um campeonato mundial de videogame. Dá para criticar o filme por ser um enorme comercial da Nintendo (foi nele que o game Super Mario Bros. 3 foi revelado pela primeira vez), mas a história tem coração e funciona.

    6. Os Heróis Não Têm Idade (Cloak & Dagger, 1984)

    Henry Thomas jamais se livrou do estigma de “o menino do E.T.”, mas bem que tentou nessa aventura típica da Sessão da Tarde que brincava com a ideia de amigos imaginários -- quem nunca teve um? Apesar dos ingredientes certos -- ator mirim de sucesso, trama de aventura e espionagem, referências a computadores, fliperamas e brinquedos -- o filme acabou esquecido pela maioria, mas não por mim.

    5. Jogos de Guerra (WarGames, 1983)

    Desconfiança e paranoia eram sentimentos constantes na primeira metade dos anos 1980 e isso fica claro nesse filme lançado quando a Guerra Fria era uma realidade palpável. Matthew Broderick está ótimo como um hacker adolescente que invade “de brincadeira” o sistema de segurança dos EUA e quase dá início a Terceira Guerra Mundial. Três anos depois, ele foi estrelar Curtindo a Vida Adoidado, onde vestiria o colete de Ferris Bueller para nunca mais tirar.

    4. Viagem ao Mundo dos Sonhos (Explorers, 1985)

    Eu já sonhava em construir uma nave espacial e viajar para outros planetas antes mesmo de ver essa história encantadora no cinema, a qual infelizmente pouca gente viu ou se lembra. Qualidade à parte, seu principal mérito foi marcar as estréias na telona de Ethan Hawke e River Phoenix, como dois adolescentes nerds que sonham com um contato imediato com possíveis alienígenas.

    3. Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987)

    Os elementos para o perfeito filme teen estavam nas mãos de Joel Schumacher: histórias em quadrinhos, parque de diversões, vampiros adolescentes, trilha sonora descolada, um elenco jovem e estrelado -- os dois Coreys (Haim e Feldman), Kiefer SutherlandJason Patric -- e violência gráfica descarada. Tanto que se fosse lançado hoje em dia, talvez fosse considerado um filme de terror.

    2. Conta Comigo (Stand by Me, 1986)

    Baseado no conto “The Body” de Stephen King, esta obra-prima de Rob Reiner conta a aventura de quatro adolescentes em 1959 na busca pelo corpo de um amigo morto. O elenco mirim brilha com sua química perfeita -- River Phoenix, Corey Feldman, Wil WheatonJerry O’Connell foram figurinhas constantes nos filmes dessa era, mas nunca estiveram tão bem na tela. Destaque também para um jovem Kiefer Sutherland fazendo mais uma vez o papel de vilão que tanto lhe cai bem.

    1. Os Goonies (The Goonies, 1985)

    Talvez seja a obra que melhor represente o que é o filme infantil perfeito dos anos 1980: elenco impecável, diálogos memoráveis e uma direção corajosa de Richard Donner. A história idealizada por Steven Spielberg atingiu em cheio no coração da molecada, mas não teria tão dado certo se os jovens atores e atrizes não fizessem suas partes tão bem. Josh Brolin e Sean Astin, hoje estrelas respeitadas cada um à sua maneira, fizeram suas estreias aqui.

    Pablo Miyazawa é colunista do AdoroCinema e consome cultura pop desde que nasceu, há 40 anos, de Star Wars a Atari, de Turma da Mônica a Twin Peaks. Como jornalista, editou produtos de entretenimento como Rolling Stone, IGN, Herói, EGM e Nintendo World.

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