A boa recepção de Deadpool e Logan mostrou que as audiências cinematográficas estavam prontas para filmes mais ousados, violentos e chocantes. E as ótimas arrecadações de ambas as produções (US$ 783 milhões e US$ 619 milhões, respectivamente), por sua vez, incentivaram as majors de Hollywood a produzir mais filmes para maiores baseados em personagens das HQs. Assim, a indústria já está preparando outras obras que darão sequência à tendência inaugurada pelo Mercenário Tagarela em 2016.
No entanto, o mundo das HQs "maduras" não é feito só de Hellboy, Venom, Spawn e Lobo - quatro das criações dos quadrinhos que prometem chegar às telonas da mesma forma como vieram ao mundo: em versões sanguinolentas e sem censura. Assim, pensando no futuro do gênero a partir da estreia de Deadpool 2, em cartaz nas telonas brasileiras desde a última quinta-feira, dia 17 de maio, o AdoroCinema decidiu preparar um compilado de 10 personagens - sem contar os arcos mais sombrios de heróis como o Batman ou o Homem de Ferro - que merecem ganhar um tratamento cinematográfico Rated R.
1) MOTOQUEIRO FANTASMA
Duas tentativas distintas não conseguiram traduzir a essência do guerreiro infernal para a sétima arte: interpretado por Nicolas Cage em Motoqueiro Fantasma e Motoqueiro Fantasma: Espírito da Vingança, o personagem-título recebeu, em ambas as obras, a abordagem padrão da década de 2000 para os filmes de super-heróis. Entretanto, o anti-herói da Marvel está longe de ser um Homem-Aranha ou de um dos integrantes dos X-Men, que ganharam as telonas à época em aventuras permitidas para (quase) toda a família. Mas como diabos fazer isso com um personagem que praticamente renasceu após fazer um pacto com o demônio e que queima as almas dos inimigos com um olhar penetrante e diabólico? É evidente que não seria possível - e certamente não era viável até Deadpool e Logan surgirem. Portanto, agora resta apenas torcer para que (por um milagre) a Marvel decida trabalhar fora do modelo tradicionalmente familiar da Disney e adentre o terreno dos longas para maiores. Potencial - e torcida, incluindo Nicolas Cage - para tornar-se um sucesso de público violento e ousado o Motoqueiro Fantasma tem de sobra.
2) JONAH HEX
Aproveitando que a onda Josh Brolin tomou conta do mundo em 2018 - além de Vingadores: Guerra Infinita e de Deadpool 2, o ator também dará o ar de sua graça em nossas telonas com Sicario: Dia do Soldado (28 de junho) -, por que não refazer Jonah Hex da maneira certa desta vez? Violento por natureza nas HQs, fortemente baseadas na estética dos westerns, o implacável caçador de recompensas foi tolhido em todos os ângulos no cinema. Prova disso é que ele recebeu uma classificação indicativa para maiores de 14 anos. Novamente: como um personagem sombrio e cínico marcado por um cicatriz horripilante e disposto a fazer tudo - tudo mesmo - para defender os fracos e oprimidos pode ser um filme para adolescentes? É claro e evidente que essa ideia daria errado. Mas sempre é tempo de corrigir os equívocos do passado - e a DC, que não tem medo de ser sombria e está considerando transformar o longa das Aves de Rapina em uma produção restrita para maiores, provavelmente ficaria feliz em contar com um ator que muito provavelmente será um dos rostos das duas maiores bilheterias de 2018.
3) HOWARD, O PATO
Só mesmo uma década tão insana como a de 1980 para produzir uma obra que inclui uma perturbadora cena de nudez de uma pata - sim, é tão bizarro quanto você está imaginando caso você não tenha visto e ainda não tenha problemas para apagar essa imagem de sua cabeça - e não receber classificação indicativa para maiores de 18 anos. Eleito para nossa lista de 10 filmes tão ruins, mas tão ruins que viraram clássicos cults, este festival de bizarrices protagonizado por um pato sarcástico e com sérios problemas de alcoolismo não transportou todas as características originais dos quadrinhos para as telonas por causa de suas restrições narrativas - mesmo tendo trazido um pato sarcástico com sérios problemas de alcoolismo para a sétima arte. Para entender melhor a vibe de Howard, o Pato basta imaginar o personagem como uma versão ovípara de Deadpool, só que sem superpoderes e/ou narrativas dramáticas e sóbrias. As existenciais, metalinguísticas e críticas HQs criadas por Steve Gerber e Val Mayerik poderiam dar origem, portanto, a uma adição cinematográfica (provavelmente) valiosa ao rol de filmes para maiores. Vale ressaltar, no entanto, que a Marvel já introduziu o pato (interpretado por Seth Green) em seu "familiar" Universo Cinematográfico. Portanto, as chances para a verdadeira "redenção" de Howard são baixas.
4) CARNIFICINA
Por incrível que pareça, Venom não é o pior produto que os simbiontes alienígenas produziram no universo de aventuras do Homem-Aranha. De fato, o Carnificina, criatura que se apossa do odioso Cletus Kassady e faz jus ao próprio nome, é uma espécie de versão ainda mais psicopata e sanguinária do Venom - em outras palavras, ele faz Eddie Brock parecer um antagonista pouco feroz e letal. Mentalmente instável e extremamente perigoso, este "descendente" do Venom é o vilão perfeito para ganhar seu próprio filme para maiores. Sem escrúpulos, violento e imensamente cruel: quem é que se encaixa melhor no papel? Ninguém. E para melhorar a situação para o lado do Carnificina, o personagem será apresentado no vindouro Venom - de acordo com rumores, Woody Harrelson, figura aparentemente essencial em toda franquia de ação recente, de Planeta dos Macacos a Jogos Vorazes, interpretará o malvado alienígena no longa de Ruben Fleischer. Assim, uma vez que a Sony está disposta a produzir obras para maiores em seu Universo Cinematográfico, por que não eleger o Carnificina como a perversa estrela da próxima produção?
5) CAVALEIRO DA LUA
Através de seu codinome "Steven Grant", Marc Spector se passa por um milionário e filantropo que, à noite, veste máscara e capa e percorre as ruas de Nova Iorque como um justiceiro e vigilante. Especialista em boxe, o ex-fuzileiro naval é um investigador nato e combate o crime principalmente através das habilidades especiais que adquiriu em seus anos de treinamento. Caso o nome de Spector não tivesse sido anunciado logo de primeira, a descrição acima poderia levar diretamente a Bruce Wayne. No entanto, o Cavaleiro da Lua, personagem da Marvel considerado como uma resposta direta ao Batman, é fundamental diferente do Homem-Morcego em um ponto muito importante: o anti-herói de armadura prateada não tem problema algum em matar, torturar e dizimar seus oponentes com requintes de crueldade. Nos quadrinhos, após ser deixado para morrer, Spector é resgatado por um grupo de sacerdotes egípcios e ganha uma segunda chance em vida para se tornar o emissário de Khonshu, o deus da Lua, na Terra. Pronto, está aí uma história de origem muito interessante e cujo desenvolvimento demanda, acima de tudo e de qualquer coisa, uma adaptação Rated R para as telonas. Fica a torcida.
6) MONSTRO DO PÂNTANO
Um cientista que deseja salvar o mundo é vítima de um atentado a bomba. Com o corpo em chamas, ele corre para o refúgio do único líquido próximo de si: a área pantanosa da Louisiana, onde o pesquisador testara sua fórmula de biorrestauração que resolveria a falta de comida em todo o mundo. Mas no momento em que o Dr. Alec Holland se banha no pântano para diminuir o efeito das queimaduras em seu corpo, a fórmula desenvolvida o transforma em uma humanoide em forma de árvore através de uma horripilante mutação. Triste, sombria e com potencial para certos toques de "horror corporal" à la David Cronenberg, a história do Monstro do Pântano foi levada às telonas em 1982 por Wes Craven (A Hora do Pesadelo) em uma interpretação de terror com pitadas de Nosferatu, mas merece uma nova versão para maiores, à altura de suas temáticas e de seu visual distinto - por mais que, de fato, a trajetória do horrendo herói não seja tão sanguinolenta quanto à de Deadpool, por exemplo. Outro motivo para resgatar o personagem do limbo? O Monstro do Pântano pode ser o pontapé inicial para que a DC concretize um de seus maiores sonhos: realizar a Liga da Justiça Sombria nas telonas.
7) O MÁSCARA
Aqui vai um breve hiato do mundo dos super-heróis: em uma época em que utilizar um humor negro pesado para efeitos cômicos no mainstream era apenas um sonho distante, O Máskara ganhou uma adaptação que basicamente destruiu a essência do personagem ao diluí-la por completo. Retrabalhado em direção ao histrionismo cômico de Jim Carrey de meados dos anos 1990, O Máscara tornou-se mais um caso de personagem cujas raízes foram censuradas para que as sensibilidades tradicionais pudessem apreciá-las. Mas, no fundo, a mutação mágica sofrida por Stanley Ipkiss é muito mais sombria do que o longa do limitado diretor Chuck Russell fez parecer. Como a máscara verde faz com que seu portador perca todas as inibições sociais e morais, causando uma espécie de sadismo insano em seu usuário - o sorriso de Carey na foto de divulgação é prova viva da natureza perversa da criatura -, é possível ver que uma comédia sem restrições de público não era exatamente a abordagem correta para O Máscara, que executa sua vingança contra todos que odeia nas HQs através dos poderes obtidos por meio de sua face esmeralda no maior estilo serial killer. Adicione toques de um narrativa de horror à la O Médico e o Monstro e você tem uma narrativa sombria, ousada, irreverente e chocante o suficiente para continuar fazendo os fãs mais fervorosos de Deadpool felizes.
8) THE TWELVE
Como o indicado ao Oscar Logan provou, nem todo filme para maiores precisa focar apenas em vísceras voando, piadas de humor duvidoso e outros momentos chocantes. Às vezes, tudo o que você precisa é de um bom e maduro drama - uma corrente narrativa que as histórias dos The Twelve - personagens da Marvel - podem muito bem preencher. Pouco conhecidos pelos grande públicos, os doze heróis titulares foram capturados pelos nazistas na década de 1940 e foram congelados para que os cientistas de Hilter pudessem experimentar com os heróis. No entanto, a queda do regime totalitarista fez com que os The Twelve ficassem intactos até que uma empreiteira, na Berlim dos dias atuais, acordasse-os de seu sono criogênico. Perdidos e enfrentando o choque culturar entre a sua época e o hoje, os heróis tentam encontrar seu lugar em um mundo completamente distinto. Por mais que sejam violentas, as histórias são certamente mais focadas no drama, em questões sociais e em reflexões profundas sobre a natureza humana, mais ou menos nos moldes do clássico Watchmen, levado para as telonas por Zack Snyder.
9) NEMESIS
Matar por matar: este é o lema do terrorista psicopata Nemesis, criação de Mark Millar (Kick-Ass). Mas então por que adaptar para as telonas uma graphic novel que basicamente segue os passos de um assassino em série que trucida suas vítimas por esporte? Para além do visual arrojado, a versão cinematográfica de Nemesis teria a chance de explorar o que Millar não fez nos quadrinhos e aprofundar todas as temáticas pinceladas. A obra, moralmente questionada por inúmeros críticos, é de certo modo controversa, mas apresenta possibilidades inúmeras para trabalhar algumas questões muito interessantes: o que significa ser um herói? Qual é a raiz do mal? Em um mundo onde não existem super-heróis, é possível que os humanos comuns derrotem um super-vilão? Estas, entre outras perguntas interessantes, estão inscritas - ainda que não abordadas - nas páginas de Nemesis para além do humor negro e das explosões e tiroteios frenéticos nos moldes de Michael Bay. Portanto, com o roteirista e o diretor corretos para o trabalho, a adpatação de Nemesis pode elevar o material original e tornar-se tudo o que o quadrinho não conseguiu ser sem perder de vista a ação e os ocasionais banhos de sangue roteirizados por Millar.
10) VIÚVA NEGRA
Ok, este é apenas um desejo que não vai se concretizar. Mas sonhar não custa nada, não é mesmo? Por mais que a Disney nunca venha a transformar uma de suas principais anti-heroínas em uma protagonista de um filme proibido para menores - até porque o produtor Kevin Feige já revelou que está planejando um longa solo para Scarlett Johansson -, a história de Natasha Romanoff, a Viúva Negra certamente cairia como uma luva em uma abordagem mais ousada, sombria e violenta. Cooptada por uma agência secreta do governo russo, a jovem Romanoff sofreu lavagem cerebral e recebeu memórias implantadas para não conseguir se lembrar da época em que foi psicologicamente torturada até se tornar a mais letal assassina do mundo. A história pregressa da anti-heroína foi brevemente narrado em Vingadores: Era de Ultron, a mais sombria dentre as obras do Universo Cinematográfico Marvel, cortesia de Joss Whedon, ainda há muito para contar sobre a trajetória de Romanoff. E quando se leva em consideração que a responsável pelo papel é uma atriz mais do que talentosa e disposta a explorar facetas inéditas de sua personagem, o estúdio só teria a ganhar.
E o que você acha? Quais personagens deveriam ganhar uma adaptação para maiores nos cinemas? Enquanto outras produções do estilo não chegam às telonas, já é possível conferir Deadpool 2, em cartaz no Brasil.