Quem vê a Marvel como um império do entretenimento em vista de sua bem-sucedida franquia cinematográfica nem imagina o que a companhia passou até atingir o seu auge como uma divisão estratégica da Disney de cifras multibilionárias. Foi uma trajetória gloriosa em sua disputa como maior editora de quadrinhos com a DC, muitas brigas entre seus principais artistas (como Stan Lee e Jack Kirby), alguns negócios péssimos no projeto de expansão da empresa, a ponto de ir à falência (!). O ressurgimento só foi possível depois de um período de muita resiliência e estratégia por parte de uma equipe talentosa, dedicada e... econômica. Conheça essa história.
A falência
Fundada em 1939 como Timely Comics, a Marvel foi vendida para diversas empresas desde 1968, quando foi adquirida pela Perfect Film and Chemical Corporation. Dentre todos os homens que assumiram a direção da empresa nas décadas seguintes de muitas transições, o mais ambicioso foi também o mais irresponsável: Ronald Perelman, proprietário da MacAndrews & Forbes Holdings.
"A Marvel é uma mini-Disney em termos de propriedade intelectual", declarou Perelman quando da compra da empresa, afirmando que investiria na criação e no marketing de personagens tal qual o conglomerado do Mickey. O megaempresário começou bem ao colocar a empresa no mercado de ações, tendo chegado a emitir meio bilhão de dólares em títulos no período de alta da Marvel, no início dos anos 90. Mas gastou tudo com negócios que não prosperaram.
A voracidade de Ronald Perelman foi seu maior erro. De julho de 1992 a março de 1995, ele investiu em quatro grandes empresas de ramos distintos: a Fleer e a SkyBox International, ambas companhias de cards colecionáveis; a Panini, famosa fabricante de álbuns de figurinhas; parte importante (46%) da ToyBiz, para assim produzir os próprios bonecos da Marvel; a Heroes World Distribution, para distribuição de quadrinhos; além de criar novas divisões do Marvel Entertainment Group (MEG) para cuidar de todas essas propriedades.
Ronald Perelman não contou com o fator risco, e teve o grande azar de enfrentar crises diversas no mesmo espaço curto de tempo de sua fúria compradora. Os lucros da Fleer despencaram com a greve da Major League de Baseball em 1994; a Panini perdeu a maior parte de sua receita devido ao mau desempenho dos filmes da Disney nos cinemas; e a própria Marvel Comics sofria com a bolha do mercado editorial de quadrinhos iniciada em 1993.
As aquisições de Perelman nunca deram lucro. As ações do MEG despencaram de US$ 35,75 para US$ 2,38 em apenas três anos. Suas dívidas se acumularam para a casa das centenas de milhões de dólares. Em 1996, a Marvel faliu.