Muita gente não entende por que a Marvel vendeu tão barato os direitos de produção e distribuição de Homem-Aranha (para a Sony), Hulk (Universal) e X-Men (Fox). Além de estar em uma posição desfavorável para negociar altas cifras, à Casa das Ideias interessava que esses personagens chegassem aos cinemas. Se possível, simultaneamente. Por isso, fez acordo com vários estúdios: a New Line, que realizou uma trilogia bem-sucedida de Blade; a Lionsgate, que topou produzir os obscuros Justiceiro e Homem-Coisa; e a Fox ainda adaptou as histórias do Demolidor, Elektra e Quarteto Fantástico.
O renascimento
"Nossa estratégia era espalhar nossa propriedade intelectual em meio a uma variedade de estúdios de Hollywood, de modo a atrair os parceiros mais entusiasmados em cada personagem. Um ou dois estúdios nunca conseguiriam produzir todos os filmes que queríamos", explica Peter Cuneo, mostrando que sempre pensou muito à frente. Assim, enquanto a Sony recuperava os US$ 10 milhões investidos no Homem-Aranha em poucas horas de exibição de um filme do Cabeça de Teia, a Marvel faturava com o personagem em produtos licenciados, fortalecia toda a sua base e recuperava a sua essência: a Marvel Comics.
"Nós vimos nossos ramo editorial [crescer] como mais que oferecer um produto ao pequeno mercado de revistas em quadrinhos", conta Cuneo, que aproveitou esse boom para identificar problemas e revolucionar as HQs da Marvel. A empresa adaptou suas histórias clássicas para os dias de hoje, buscou novos canais de distribuição de suas revistas, caprichou nas novas edições e passou a desenvolver arcos mais curtos, de modo a obter um maior engajamento do público. Resultado: um crescimento de 25% do mercado em 1999 para 45% a 50% quando da despedida de Peter Cuneo da empresa, em 2009.
Antes disso, sob o comando de Ike Perlmutter e Avi Arad e à frente de uma dedicada equipe que comprara sua filosofia na década anterior, Peter Cuneo levaria a Marvel para todas as partes do globo (literalmente, criando escritórios internacionais em vez de pagar altas cifras para representantes mundo afora), venceria sua própria resistência ao mundo virtual (assim passando ilesa da crise da Internet no início do milênio) para dominar a rede mundial de computadores, investiria na produção própria de séries animadas na televisão para, em 2005, dar seu primeiro passo rumo ao que é hoje: uma produtora de cinema bilionária.
Portanto, a história de sucesso do Universo Cinematográfico Marvel começou bem antes do lançamento de Homem de Ferro, há 10 anos. Sua trajetória incrível teve início em 1999, quando as ações do grupo não valiam 1 dólar. Peter Cuneo deixa o cargo quando esses números sobem para 54 dólares e a Disney compra a empresa pela fortuna de US$ 4,3 bilhões — em 2009.
Eis um novo sentido para o título Marvel 10 anos.