Jill Messick, executiva com larga experiência na Miramax e na Lorne Michaels Productions, da Paramount, cometeu suicídio na última quarta-feira, em Los Angeles. A produtora de 50 anos, realizadora de filmes como Frida e da vindoura adaptação de Minecraft, era diagnosticada com desordem bipolar e lutava contra a depressão. E um possível estopim de sua morte torna a história de Messick ainda mais trágica.
Rose McGowan era agenciada por Jill Messick em janeiro de 1997, período em que ela acusa Harvey Weinstein de tê-la estuprado. De novembro daquele ano até 2003, a produtora trabalhou na Miramax, então gerenciada pelos Weinstein. Devido ao seu envolvimento com Rose e Harvey, os advogados do poderoso produtor buscaram contato com Jill, tendo apresentado essa troca de mensagens em defesa do acusado. O e-mail, revelado no último dia 30, foi descontextualizado, distorcido, afirma a família de Messick. E isso foi demais para ela.
"Jill foi vitimizada por essa nova cultura de compartilhamento ilimitado de informação ilimitada e um desejo de tomar declarações como fato. A velocidade da disseminação de informações levantou mentiras sobre Jill como pessoa que ela não teve capacidade ou vontade de combater. Ela se tornou dano colateral de uma história já terrível", declarou a família, em carta aberta publicada pelo The Hollywood Reporter.
"'O Movimento' acaba de perder um dos seus", começa o texto, então ressaltando suas qualidades como esposa, mãe de dois filhos, amiga e executiva de cinema inteligente, e arrematar: "Ela também era uma sobrevivente, lutando privadamente com a depressão, que foi sua inimiga durante anos". Diante disto, e do apoio que Jill Messick prestou a muitas mulheres que se levantaram contra "predadores" de Hollywood — aparentemente, inclusive Harvey Weinstein —, seus parentes não se furtam de criticar frontalmente o comportamento destrutivo de Rose McGowan na mídia.
"Ver seu nome nas manchetes repetidamente, como parte da tentativa de uma pessoa em ganhar mais atenção em causa pessoal, somado à tentativa desesperada de Harvey em se defender, foi devastador para ela. Isso quebrou Jill, que vinha começando a recolocar sua vida no eixo", declara a carta. "Agora que Jill não pode mais falar por si mesma, é hora de colocar os pingos nos i's."
Resumidamente, a carta explica que Rose McGowan foi uma das primeiras clientes de Jill Messick na agência Addis Wechsler, e um dos primeiros compromissos da atriz foi um café da manhã com Harvey Weinstein, durante o Festival de Sundance, para discutir negócios. Ao retornar, Rose contou que foi convidada a tirar suas roupas e entrar na banheira com Harvey, e aceitou. Segundo Jill, a atriz se arrependeu imediatamente de sua decisão. Mas nunca mencionou a palavra "estupro".
A família conta que Jill Messick teve certeza de que a conduta de Harvey Weinstein fora "desagradável, se não ilegal", e tomou as providências cabíveis no momento, contatando seus chefes. Todos os acordos a partir de então foram feitos sem seu conhecimento, e Rose e Harvey viriam a trabalhar juntos em Fantasmas, em 1998, em uma parceria que se estenderia por anos — vide o maior papel da atriz no cinema, Planeta Terror, de 2007.
Dez meses depois, Jill Messick seria convidada para trabalhar na Miramax por seu próprio talento, não por qualquer acordo de confidencialidade dos atos de Harvey Weinstein — como Rose McGowan vinha alegando, além de tratá-la como mentirosa. E o tal conteúdo do e-mail solicitado pelo produtor era sobre ela narrar o ocorrido no Festival de Sundance de 1997, tendo Jill prometido relatar o que se lembrava do ocorrido.
Feito todos os esclarecimentos, a família de Jill Messick endereça uma mensagem aos jornalistas: que é preciso ter responsabilidade para expor "precisamente" os reais criminosos e predadores, e também para conservar a "verdade de terceiros". "Palavras têm peso. A vida de uma pessoa pode depender disso", conclui a carta.