Ao longo do ano, como é praxe, a gente tem a oportunidade de assistir antecipadamente (valeu, direção!) a uma série de filmes que depois demoram uma vida para entrar no circuito comercial.
As estreias acontecem, em geral, em festivais de cinema. O calendário internacional começa a esquentar com Berlim, em fevereiro, passa pelo prestígio de Cannes em maio e termina com Toronto, a catapulta para o Oscar, em setembro. Em “casa”, destaque para as mostras do Rio de Janeiro e São Paulo, entre outubro e novembro, que costumam apresentar uma leva de títulos inéditos também.
A lista que você confere a seguir reúne a fina flor da safra 2017. São longas-metragens com notas a partir de 4,0 (de um total de 5,0) na cotação do críticos do AdoroCinema - já com as devidas datas de estreia no Brasil.
Então, aproveite a #CuradoriaAdoroCinema.
Estreia: 11 de janeiro.
Sinopse: Em 1980, um motorista de táxi da Coreia (Song Kang-ho) se depara com uma realidade social da qual não tinha ideia quando um jornalista estrangeiro propõe uma corrida de ida e volta de Seul até Gwangju.
Nota: 4,0
Crítica: O improvável feel good movie sobre a ditadura se beneficia da excelente atuação de Song Kang-ho, astro coreano muito confortável tanto no drama quanto na comédia. Em meio a alguns excessos e passagens questionáveis - especialmente na conclusão, mais melodramática que o resto - traz um lembrete importante sobre os absurdos da História que nenhum país - nem a Coreia, nem o Brasil - deveria repetir. (Texto completo, por Bruno Carmelo).
Estreia: 18 de janeiro.
Sinopse: Elio (Timothée Chalamet) é um adolescente filho de intelectuais cosmopolitas de férias com a família na casa de verão na bela paisagem italiana. Quando um acadêmico (Armie Hammer) chega para ajudar o pai do jovem em sua pesquisa, a presença do estrangeiro vai mexer com os sentimentos de ambos.
Nota: 4,0
Crítica: A beleza é um tema caro a Me Chame Pelo Seu Nome. Da paisagem campestre das locações no interior da Itália à fotografia solar, passando pela escalação de Armie Hammer (tido mais como um “rostinho bonito” do que exatamente um “talento”), a experiência do prazer estético ocupa, com sucesso, um lugar central nesta produção. (Texto completo, por Renato Hermsdorff).
Estreia: 25 de janeiro.
Sinopse: O longa acompanha os bastidores das filmagens de The Room, considerado o pior filme de todos os tempos. James Franco interpreta o excêntrico Tommy Wiseau que, ao lado de Greg Sestero, compartilha o sonho de fazer sucesso em Hollywood.
Nota: 4,5
Crítica: O empenho de James Franco em recriar milimetricamente cada cena do filme original — o que ele revela orgulhosamente em um split-screen já no fim, em um momento de cafonice certeiro e de arrancar gargalhadas — indica seu encanto pelo clássico acidental. Mais ainda, Franco tem o propósito de descobrir Tommy Wiseau, por isso o encena com afeto. (Texto completo, por Rodrigo Torres).
Estreia: 25 de janeiro.
Sinopse: Em 1977, o garoto Ben (Oakes Fegley) fica surdo depois de atender a um telefonema, quando um raio cai em sua casa. Em outro tempo/ espaço, a jovem Rose (Millicent Simonds), também surda, foge de casa para procurar a mãe, uma consagrada atriz (Julianne Moore). A vida dos dois estará interligada a partir de um livro de curiosidades, que os leva ao Museu de História Natural.
Nota: 4,0
Crítica: Ao longo da carreira, Todd Haynes já demonstrou ser um diretor inquieto - que o digam Velvet Goldmine e Não Estou Lá, dois de seus filmes mais arriscados. Por mais que seu novo trabalho, Sem Fôlego, aparentemente traga uma roupagem tradicional devido ao tom de fábula infantil, na verdade ele traz uma profunda reinvenção do livro no qual foi baseado, de forma não apenas a prestar uma grande homenagem ao cinema mas também esmiuçar uma linguagem cinematográfica com pouquíssimos diálogos. (Texto completo, por Francisco Russo)
Estreia: 1º de fevereiro.
Sinopse: Diante do conturbado cenário político dos anos 1960, a faxineira muda Elisa (Sally Hawkins), que trabalha em um laboratório experimental, estabelece uma relação afetiva com uma estranha criatura presa no local. Recorrendo ao amigos Giles (Richard Jenkins) e Zelda (Octavia Spencer), ela elabora um complexo plano para tirar o “monstro” de lá.
Nota: 5,0
Crítica: Uma ode aos desajustados, aos incompreendidos, aos outsiders, aos párias. Uma homenagem ao cinema. Um convite ao escapismo. É isso o que Guillermo del Toro faz com The Shape of Water, filme vencedor do Festival de Veneza 2017, uma produção de cativante beleza, interpretada por um elenco afiadíssimo (que deveria levar todos os prêmios da temporada). (Texto completo, por Renato Hermsdorff).
Estreia: 1º de fevereiro.
Sinopse: Depois de anos de casamento, Boris (Alexey Rozin) e Zhenya (Maryana Spivak) estão se divorciando - ele, com a nova namorada grávida; ela, de caso com um homem rico. Distraídos como o novo status amoroso, eles acabam renegando o filho, Alyosha (Matvey Novikov), que desaparece misteriosamente.
Nota: 4,0
Crítica: Com uma analogia política referente à história recente na Rússia, perceptível especialmente através dos programas de TV, Nelyubov (no original) é um filme bastante seco que brilha pela força do relacionamento não-existente entre seus personagens principais. Além do belo trabalho de direção, vale destacar o desempenho da atriz principal, Maryana Spivak, pela transição de sentimentos que demonstra no decorrer do longa-metragem. (Texto completo, por Francisco Russo).
Estreia: 8 de fevereiro.
Sinopse: Depois de cumprir pena por tráfico de drogas, o turco Nuri Sekerci (Numan Acar) segue a vida de forma tranquila ao lado da mulher Katja Sekerci (Diane Kruger) e do filho Rocco. Quando eles são assassinados, ela, insatisfeita com a justiça, decide se vingar por conta própria.
Nota: 4,0
Crítica: O barato de Em Pedaços é perceber os processos de Fatih Akın para manipular o público em torno de uma proposta, ou apenas senti-los. Tal como Ken Loach realiza no também recente, autoconsciente e comovente Eu, Daniel Blake. E, apesar de todas as qualidades apontadas, o sucesso do drama francogermânico se deve a outro artista premiado em Cannes. No caso, outra: Diane Kruger, que veicula e transborda com maestria as emoções pensadas pelo cineasta. (Texto completo, por Rodrigo Torres)
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