Há alguns anos, um dos nomes mais respeitados da indústria cinematográfica profetizou que os filmes de super-heróis, em crescente dominação no mercado, teriam uma derrocada similar à dos westerns. "Nós estávamos lá quando os filmes de faroeste morreram e chegará um tempo em que os filmes de super-heróis seguirão pelo mesmo caminho", avaliou Steven Spielberg em 2015.
A era profetizada pelo cineasta responsável por alguns dos maiores filmes de todos os tempos ainda não chegou, muito pelo contrário. O ano de 2017 trouxe alguns dos maios importantes filmes que o gênero já gerou, com inovações na forma e nas propostas, que serão lembrados por fãs de cinema por muito tempo. A arrecadação nas bilheterias também foi recorde. Ao todo, aventuras sobre heróis e heroínas tiveram uma receita somada de US$ 5,131 bilhões neste ano. A marca supera os US$ 5,02 bilhões arrecados em 2016, ano de filmes como Capitão América: Guerra Civil e Deadpool.
Ao todo, oito filmes chegaram aos cinemas brasileiros em 2017 ano com a histórias de indivíduos com poderes especiais que usam suas habilidades em nome de um bem maior, baseados em HQs ou não. A maior heroína de HQs em todos os tempos ganhou um filme à altura, Hugh Jackman se despediu de Wolverine, o Universo Cinematográfico Marvel ganhou três filmes (graças ao acordo entre Marvel e Sony que permitiu ao Homem-Aranha entrar na mesma franquia do Homem de Ferro), entre outros lançamentos.
Para relembrar um ano tão frutífero para um gênero que apenas cresce como força comercial em Hollywood, listamos, do pior para o melhor, todos os filmes de super-heróis que chegaram aos cinemas brasileiros em 2017. O ranking foi elaborado com votos de toda a redação do AdoroCinema, incluindo editores, redatores e redatoras, e estagiários e estagiárias.
8º - Power Rangers, de Dean Israelite
Este ranking foi elaborado com base em mais de 10 listas pessoais. Embora a redação, individualmente, tenha divergido sobre qual seria o melhor filme de super-herói do ano, o AdoroCinema foi unânime em definir o pior. A versão (mal) repaginada de Power Rangers tenta reciclar elementos de outros filmes de heróis sem sucesso e acaba perdendo a diversão assumidademente tosca das séries voltadas para o público infanto juvenil. Insípido e esquecível, o filme de Dean Israelite foi idealizado como o possível início de uma franquia, mas o fiasco comercial do longa-metragem deve ter acabado com tais pretensões.
7º - Liga da Justiça, de Zack Snyder
Com uma produção conturbada, envolto em expectativas após o fracasso de crítica de Batman Vs Superman e o sucesso em diversas frentes de Mulher-Maravilha, Liga da Justiça marcou o primeiro encontro nas telonas dos maiores heróis do catálogo da DC Comics. O que era para ser uma espécie de "resposta a Os Vingadores" acabou como uma experiência frustrante.
O filme tem um bom timing para a ação e há bastante química entre os herói, o que é mérito tanto do cânone da DC Comics quanto das atuações do elenco principal. A figura da Mulher-Maravilha, mais uma vez interpretada com muita consistência por Gal Gadot, abrilhanta cada frame. O mesmo não pode ser dito sobre o Batman de Ben Affleck, um dos personagens mais importantes das HQs em todos os tempos que é, de certa forma, ridicularizado pelo filme de Zack Snyder.
Lobo da Estepe, o antagonista principal, é genérico e não convence em suas motivações. O visual do vilão, inteiramente criado em CGI, também evidencia outro ponto fraco: Como um filme tão caro tem efeitos visuais tão ruins? O enredo é simplório e desperdiça as tentativas do roteiro de abordar temas mais profundos. Uma pena.
6º - Guardiões da Galáxia Vol. 2, de James Gunn
Enquanto a Warner Bros. e a DC Entertainment ainda patinam para encontrar o tom certo para o Universo Estendido da DC, Disney e Marvel Studios vão muito bem. Em 2014, o estúdio foi muito bem sucedido ao apresentar uma vibrante aventura espacial estrelada por personagens que eram pouco conhecidos para além do círculo de fãs dos quadrinhos da Marvel Comics e logo caíram na graça do grande público.
A sequência mantém muitas das características que fizeram do primeiro filme um sucesso: A direção de James Gunn, o retorno de todo o carismático elenco principal, uma trilha sonora marcante com canções incríveis das décadas de 70 e 80 e um visual hiperestimulante e multicolorido. Por mais que seja ótimo ver o Senhor das Estrelas (Chris Pratt) e companhia juntos novamente, o Vol. 2 da aventura dos Guardiões da Galáxia soa invariavelmente como uma repetição da fórmula do primeiro filme, só que sem frescor de antes. O que soava novo e espontâneo agora soa como uma marca registrada que chama muita atenção para si mesma.
Apesar dos pesares, trata-se de um filme que consegue entreter, mesmo sem superar seu antecessor.
5º - LEGO Batman: O Filme, de Chris McKay
A Warner Bros. e DC ainda não deram sinais de que farão um filme com atores tão debochado quando o ousado Deadpool, da 20th Century Fox — que agora pertence à Disney. Entretanto, a divisão animada da Warner conseguiu igualar o filme do Mercenário Tagarela no quesito irreverência ao suberter a imagem séria do Cavaleiro das Trevas em LEGO Batman: O Filme.
O roteiro assinado por cinco autores dá vazão a uma série de piadas e abordagens que seriam impossíveis nos filmes "sérios" da DC e sabe explorar muito bem o catálogo de personagens da Warner Bros. Os diálogos são frenéticos, as vezes até intensos demais, mas sempre recheados de ótimas linhas cômicas. Para além da autorreferência, o filme consgue explorar de forma inteligente e, de certa forma analítica, aspectos fundamentais da mitologia que cerca um super-herói.
Meses antes de Snyder e Affleck nos entregarem um Batman que nós não merecíamos em Liga da Justiça, Chris McKay mostrou em LEGO Batman o Homem-Morcego que precisávamos.