A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que entrega o Oscar anualmente, acaba de tomar uma decisão muito importante. Pela primeira vez, a instituição vai permitir que uma pessoa se candidate ao mesmo tempo aos prêmios de melhor ator coadjuvante e melhor atriz coadjuvante.
A permissão veio após a inscrição da comédia Confessions of a Womanizer no Oscar, que traz no elenco a atriz gender fluid Kelly Mantle. Kelly canta, dança, atua e se apresenta como drag queen, tendo participado do reality show Ru Paul's Drag Race. No filme, ela interpreta uma travesti prostituta.
Até então, Hollywood tem destacado apenas atuações de intérpretes cisgênero no papel de pessoas trans, mas nunca uma pessoa transexual foi indicada ao prêmio de atuação. Kitana Kiki Rodriguez, atriz transgênero do drama Tangerine, foi inscrita em 2015 na categoria melhor atriz, mas não conseguiu uma indicação entre as cinco finalistas.
As chances de Kelly Mantle são ainda menores e, olhando para o trailer de Confessions of a Womanizer, pode-se dizer que o filme parece muito ruim. Mas as qualidades da produção importam pouco neste caso: o mais relevante na permissão da Academia é o reconhecimento da pluralidade de gêneros para além de "homem" e "mulher", no momento em que a instituição se esforça para combater preconceitos e retratar a diversidade social.
O que nos leva a uma questão essencial: por que atores e atrizes concorrem em categorias diferentes, se desempenham o mesmo trabalho? Se não existem prêmios de "melhor diretor" e "melhor diretora", "melhor diretor de fotografia" e "melhor diretora de fotografia", por que separar ator e atriz?