Assim se pode resumir a maneira como muitas das personagens femininas são descritas em Hollywood (“Blonde, fit, smokin’ hot”). Desde o último dia 10 de fevereiro, o produtor norte-americano Ross Putman tem postado no Twitter, através do perfil @femscriptintros, a forma como as mulheres surgem nos roteiros que ele recebe para apreciação.
“Estas são as introduções dos personagens femininos em roteiros reais que eu leio. Os nomes foram alterados para JANE. Desculpe se eu citar seu trabalho”, ele, que não tem nenhuma produção lançada no Brasil, descreve no perfil da conta.
Vamos aos exemplos:
“Uma mulher linda, Jane, 23, está um pouco altinha, dançando nua em sua cama grande, [de forma] tão adorável quanto sexy. * BÔNUS POS SER A PRIMEIRA LINHA [do roteiro].
“Todos os olhares se viram para JANE (28), na porta: estonteante e fazendo o melhor para escondê-lo”.
“JANE (20 e tantos anos) senta, se debruçando sobre um microscópio. Ela é atraente, mas profissional demais para se preocupar com sua aparência”.
“JANE enfia sua bela figura em um vestido apertado, desliza para o seu salto-agulha [estilo] ‘me coma’ e dá uma conferida em si mesma no espelho da cômoda”.
“JANE (30) -- Bonita, mas irritada”, diz o tuíte afixado.
Seria cômico se não fosse trágico, afinal, a “brincadeira” serve como denúncia para iluminar o sexismo por trás da indústria, o que não é novidade para ninguém, mas que, para ser revertido, precisa ser exposto – ainda mais num 8 de março, celebrado como o Dia Internacional da Mulher.
Nem tudo são espinhos, no entanto. Uma pesquisa recente do Centro para o Estudo de Mulheres na Televisão e Cinema da Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos, revelou que, dos 110 filmes de maior bilheteria em 2015, 22% são protagonizados por mulheres – um aumento de 6% em relação ao ano anterior.
Em tempos de #oscarsowhite, no entanto, não é de se surpreender que a grande maioria – dos ainda pouco papéis femininos de destaque – fica com as caucasianas (louras? Magras? E muito ‘gostosas’?) Do pequeno pedaço de bolo das mulheres, a fatia que coube às negras aumentou de 11% para 13% de acordo com o mesmo estudo (latinas estacionadas em 4%, enquanto as asiáticas viram uma queda de 4% para 3%).
Recentemente, a discussão foi promovida a um outro nível com a escalação (e o lançamento do trailer) de Nina, cinebiografia da cantora Nina Simone, negra, que traz Zoe Saldana no papel da protagonista.
Sofrendo uma enxurrada de críticas por ser dona de um tipo físico diferente do da cantora – Saldana, inclusive, teve sua pele escurecida para o papel –, a atriz usou seu perfil no Twitter para desabafar:
"Vou dizer o que é Liberdade para mim - nenhum medo. Realmente nenhum medo", parafraseando uma famosa frase da cantora.
Recebeu como “resposta” um tuíte dos administradores da conta oficial de Simone:
“História legal, mas por favor tire o nome de Nina da boca. Para o resto da sua vida”.
Cynthia Mort, diretora do filme, tratou de botar panos quentes na rusga e pediu aos fãs para se concentrarem na atuação, ao invés da caracterização.
Apesar da desvantagem feminina em Hollywood, “os números estão definitivamente caminhando para a direção certa”, disse a autora da pesquisa, Martha Lauzen, em entrevista à Variety. “O que não está claro é se 2015 foi um ano atípico ou o começo de uma nova tendência”, ponderou.
Vamos acreditar que sim.
Confira outros 20 exemplos de mulheres reais retratadas pelo cinema nas próximas páginas: