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    Cannes 2014: Nicole Kidman ressalta que Grace de Mônaco não é uma cinebiografia

    Filme sobre a atriz Grace Kelly dá a largada no 67º Festival de Cannes.

    Se o Festival de Cannes sempre foi relacionado a muito luxo e glamour, nada mais justo do que um filme sobre a família real de Mônaco, aqui pertinho da Croisette, abrir a edição deste ano. Quer dizer, mais ou menos. Por mais que a proposta seja oportuna, a escolha de Grace de Mônaco colocou os organizadores do festival em uma saia justa. Afinal de contas, os príncipes Albert II, Stephanie e Caroline, filhos da atriz Grace Kelly, bateram de frente com a produção dirigida por Olivier Dahan. O motivo? A história dos pais teria "sido distorcida com fins meramente comerciais".

    Ao assistir o longa-metragem, dá para compreender o temor da família real. Grace de Mônaco acompanha a trajetória de Grace Kelly desde que se casou com o príncipe Rainier, mas focaliza mesmo o ano de 1961. Época em que Alfred Hitchcock a convidou pessoalmente para estrelar seu próximo filme, Marnie - Confissões de uma Ladra, o que faria com que abandonasse a aposentadoria precoce. Época também em que, pressionado pelos altos custos da guerra na Argélia, o então presidente francês Charles de Gaulle lançou um ultimato: ou Mônaco pagaria impostos à França e deixaria de ser um paraíso fiscal para as empresas francesas, ou seria sumariamente invadida. Ou dá ou desce.

    É diante deste impasse diplomático que discorre a trama do longa-metragem, tendo como fio condutor a própria Grace Kelly e seu conflito interno sobre a aflição pessoal de quem deseja voltar a atuar e as exigências de sua atual posição na nobreza europeia. Neste ponto, é importante ressaltar a escolha de Nicole Kidman como protagonista. Por mais que a atriz até esteja bem em cena, sua importância maior é simbólica: nada melhor do que ter uma representante da realeza de Hollywood para interpretar alguém que fez parte da mesma aristocracia. Grace Kelly, vale lembrar, ganhou o Oscar de melhor atriz por Amar é Sofrer (1954).

    © FDC / M. Petit

    Entretanto, por mais que Grace de Mônaco tenha uma bela roupagem - as paisagens são deslumbrantes, o figurino é luxuoso e requintado -, o filme peca pelo lado novelesco. Na tentativa de unir as várias roupagens em torno da princesa, o diretor caprichou em cenas exageradas e melodramáticas. É justamente nelas que é possível compreender tamanha irritação da família real, por mais que logo de início seja alertado que o longa-metragem seja uma ficção baseada em eventos verídicos.

    Na coletiva realizada logo após a sessão para a imprensa, Nicole Kidman bateu na mesma tecla: "Não é uma cinebiografia, pois é ficcional. Mas entendo, porque é a história do pai e da mãe deles", respondendo à inevitável pergunta sobre a reação dos filhos de Grace Kelly ao longa-metragem. A atriz revelou ainda que se preparou por cinco meses para a personagem e que um dos principais desafios foi encontrar o sotaque certo.

    Já na reta final da coletiva, a consagrada atriz respondeu uma pergunta capciosa sobre qual prêmio ela daria para Grace de Mônaco caso integrasse o júri oficial do Festival de Cannes, como aconteceu no ano passado: "A Palma de Ouro!" A imprensa internacional, sempre implacável, parece não ter concordado muito, já que ao término da projeção foram ouvidas algumas vaias.

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