Em 1968, sete anos antes do megassucesso Tubarão, o diretor Samuel Fuller filmou um longa-metragem sobre tubarões com Burt Reynolds em Isla Mujeres, no México. Só que, durante as filmagens, ocorreu um grave acidente, que custou a vida de um dublê: ele foi devorado por um tubarão e, se isso não bastasse, a filmagem de sua morte foi deixada no filme. Pelo menos, era o que dizia o pôster, só que a realidade é um pouco menos verdadeira.
O site Collider relembrou as informações sobre o filme Shark! (que, na versão em português, também se chama Tubarão) e nós recapitulamos esse caso sombrio. Tudo começa com um artigo não assinado da revista LIFE (que já foi uma das principais revistas semanais dos EUA), publicado em 7 de junho de 1968, no qual a mídia escreve:
“Um grande tubarão branco apareceu, passando pelas redes de proteção estendidas ao redor do set de filmagem subaquático. (...) Em seguida, o tubarão se voltou para o dublê José Marco, 32 anos, que estava [fora das gaiolas que deveriam proteger as equipes], e rasgou seu abdômen, derramando sangue por toda parte. Durante a briga, a equipe disparou lanças duas vezes, sem efeito, enquanto o tubarão devorava sua vítima. Foram os gritos e as batidas nas gaiolas que fizeram com que ele escapasse. Marco morreu no hospital duas horas depois.”
Quando o filme foi lançado, o pôster reproduziu parcialmente o artigo da revista e mostrava o desenho de um tubarão atacando um mergulhador, seguido do slogan: “Tubarão vai te despedaçar”.
Além disso, várias fotos do longa-metragem pareciam ser idênticas às imagens do trágico incidente imortalizado pela reportagem da LIFE, tornando a promoção bastante assustadora.
Um assassinato real incluído no filme?
Em 1969, Dewey Bergman, um jornalista da Skin Diver, revista especializada em mergulho, foi até o México para investigar a veracidade da história. Ele relatou que recebeu ligações de colegas mergulhadores que não queriam mais mergulhar na área onde ocorreu o incidente.
Além disso, a preocupação com ataques de tubarões em Isla Mujeres afetou o negócio das escolas de mergulho em recifes na região.
O artigo dele foi publicado em novembro de 1969, um ano após o lançamento do filme, com o título “A Grande Farsa do Tubarão”. Nele, Bergman reconstituiu a história, expressando surpresa pelo fato de que nenhum jornal mexicano cobriu o acidente, apenas a revista americana. Ele também não conseguiu encontrar ninguém que tivesse ouvido falar sobre um dublê morto por um tubarão.
A LIFE aparentemente comprou a história e as fotos. Quando contatada por Bergman, a revista foi forçada a admitir a farsa e escreveu em um comunicado à imprensa:
“O que consideramos ser uma série de fotos altamente incomuns é, na verdade, falso. Vários de nossos leitores, que às vezes são mais qualificados nessa área do que nossa equipe, nos levaram a acreditar nisso. A LIFE investigou esse incidente sem sucesso, exceto para dizer que ele não ocorreu em Isla Mujeres.”
Enquanto isso, o filme continuava usando o artigo falso como propaganda, colocando-o em outro pôster com o slogan: “Um filme realista torna-se real demais”, mesmo que a vítima possa nunca ter existido. Os produtores reeditaram o filme às escondidas de Samuel Fuller, que o renegou. Os mesmos produtores o relançaram após o sucesso de Tubarão, de Steven Spielberg, dessa vez com o título Man-Eater.
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