A busca pela identidade é uma das mais sugestivas que o cinema nas suas diversas facetas pode nos oferecer. Praticamente todos os países têm cineastas obcecados pela busca de si por um ou mais personagens, utilizando gêneros de diversas naturezas e, sobretudo, ferramentas que definem o cinema de sua própria nacionalidade.
Os 10 melhores filmes de 2023 segundo os Estados Unidos: Quais você já viu?Acontece também que às vezes a sua identidade é mais bifurcada do que você pensa, quando há duas partes de você que parecem não coexistir. Explorar as origens para encontrar as pontes que podem conectar as duas partes pode levar à reafirmação, mas é mais fascinante quando se trata de reinvenção. É algo que Retorno a Seul tenta explorar.
O eterno retorno
Um dos melhores filmes deste ano é também um dos mais impressionantes, recusando-se a procurar um caminho convencional para estudar uma das personagens mais evasivas e fascinantes do cinema recente. Davy Chou consegue um filme com uma identidade a meio caminho entre o cinema francês e o oriental que pode ser visto em streaming através da HBO Max.
Nele, a jovem Freddie (Park Ji Min) retorna ao seu país natal, a Coreia do Sul, depois de passar quase toda a sua vida sendo criada na França, onde foi adotada. Aos 25 anos, procura as suas origens, a mãe que aceitou entregá-la para adoção e os motivos dessa decisão. Sua trajetória tomará rumos diversos, com várias mudanças de profissão e até de personalidade.
Através de uma série de saltos no tempo, o que forma uma boa sessão dupla com Vidas Passadas que chega ao Brasil em 2024), a jornada da personagem de Park Ji Min (que dá uma performance incrível) é fascinante tanto pelo que Chou decide nos mostrar como através daquelas enormes lacunas no tempo, onde inferimos o que está acontecendo. O drama indescritível tenta mergulhar nas emoções complexas de um personagem que quer parecer indecifrável, mas precisa de conexão.
Dançando enquanto procura
O diretor, de origem cambojana, embora nascido na França, faz um filme ainda mais pessoal em seu segundo longa-metragem, utilizando recursos da linguagem cinematográfica de dois países para entrar nesse conflito emocional e identitário. As sequências de conversa são reveladoras no que é contado e no que fica de fora, e não tem medo de tentar explorar através do movimento com diversas sequências de dança hipnótica, onde a câmera observa de perto alguém que parece não se importar se está sendo observado ou não.
Ele é capaz de criar uma intimidade especial, além de deixar espaço suficiente para ambiguidades para que o espectador possa tirar as conclusões necessárias sobre um personagem perdido e magoado. Sem julgar em nenhum momento, ele entra maravilhosamente numa catarse contida, necessariamente voltada para uma reinvenção pessoal que anda de mãos dadas com o que Retorno a Seul busca como filme. É uma das produções mais originais que se poderá ver este ano.
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