Lançado em 1989, O Segredo do Abismo foi um filme marcante do ponto de vista técnico. Mas a produção do filme rapidamente se transformou em um inferno para a equipe técnica e os atores. Foi uma provação coletiva causada em grande parte pelo próprio James Cameron, que estava obcecado em tornar Abyss - título original - o mais realista possível.
Ao mesmo tempo, um filme-catástrofe ambientado em uma época em que os ventos do fim da Guerra Fria ainda sopravam, um suspense claustrofóbico, um filme de ficção científica com um toque de terror e uma história de amor profundamente comovente que ecoa a situação pessoal do diretor, que estava passando por um divórcio na época, O Segredo do Abismo revela o que é, sem dúvida, a maior força do diretor: sua capacidade de contar histórias humanistas em um cenário fantástico. Tudo isso envolto em uma inegável maestria técnica e visual que regularmente beira um exercício físico de tanta habilidade requerida.
Embora o filme tenha sido injustamente punido com um doloroso fracasso nas bilheterias mundiais, o tempo felizmente fez seu trabalho, elevando o filme de Cameron, que ganhou um Oscar de Melhores Efeitos Visuais, à categoria de clássico.
RATO DE LABORATÓRIO
Entre as sequências que impressionaram na época estava uma no terço final do filme, em que Ed Harris é forçado a se aventurar nas profundezas da Fossa Cayman. Mas antes que ele possa fazer isso, um líquido é injetado em seu traje de mergulho, permitindo que ele respire.
O Navy Seal Monk (Adam Nelson) faz a primeira demonstração imergindo o rato de Alan 'Hippy' Carnes (Todd Graff) no líquido. Este último fica compreensivelmente perturbado com a ideia de seu infeliz animal de estimação se afogar. Um líquido que enche seus pulmões para que você possa respirar? Impossível.
A sequência em questão...
O teste foi de fato realizado no animal, que respirou graças a um líquido com um nome: perfluorocarbono. "A ideia era ver se o rato conseguiria sobreviver", comentou Van Ling, o famoso assistente de James Cameron, em uma entrevista ao Los Angeles Times em 1989.
"Portanto, você pode ter certeza de que não gastamos tanto tempo e esforço consultando vários especialistas, gastando 400 dólares em uma lata de perfluorocarbono de verdade para matar o pobre coitado. Filmamos essa cena sob a supervisão de especialistas no assunto, da Duke University. O rato de fato sobreviveu".
Ainda assim, entendemos a angústia e o ataque de pânico que acomete Ed Harris na sequência em que o líquido invade seu traje. Apesar de ter sido instruído a relaxar o máximo possível, seus reflexos são logicamente os de alguém que está se afogando...
A ideia de criar esse líquido é muito anterior ao filme. O primeiro estudo sobre a instilação de um líquido salino nos pulmões de cães remonta à Primeira Guerra Mundial; ele foi considerado um possível tratamento para os efeitos dos gases de combate.
Mas foi somente em 1962 que a equipe do doutor em fisiologia Johannes Kylstra conseguiu fazer com que os mamíferos respirassem com um líquido salino, mas sob pressão muito alta, equivalente a 1,6 km abaixo do nível do mar. Esse trabalho também visava o mergulho em alto-mar como uma possível aplicação para o resgate de submarinistas.
Foi o mergulhador profissional Frank Falejczyk quem primeiro testou o fluido respiratório de perfluorocarbono. Embora tenha contraído pneumonia logo após o teste, ele conseguiu respirar com a ajuda do fluido. Portanto, o conceito era válido.
Quando tinha 17 anos, James Cameron assistiu a uma palestra dada por Frank Falejczyk em sua escola primária. Cameron ficou maravilhado, e isso foi o suficiente para lhe dar algumas ideias que ele rabiscou em um canto e que, muitos anos depois, dariam origem ao seu filme Abismo.
"Tive aulas de mergulho e escrevi a história de cientistas de uma base submarina que exploram a Fossa Cayman, no Mar do Caribe, usando esse líquido respirável e descobrem uma civilização oculta", ele diria anos depois.
Em 1987, pouco antes de fazer o filme, Cameron lhe pediu uma consultoria para a preparação dessa sequência. Falejczyk lhe deu toda a sua pesquisa sobre o assunto e explicou como proceder com o rato. O perfeccionismo e a obsessão de Cameron com o realismo, de novo.
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