Se você viu Napoleão, mas foi seu primeiro filme de Ridley Scott e deseja conhecer mais da carreira do diretor, você precisa ver Alien, o 8º Passageiro, lançado em 1979. Com ele você terá um vislumbre do que constitui parte significativa de sua filmografia: seu amor pela ficção científica. Acompanhamos a tripulação do Nostromo que, após uma visita a um estranho planeta, se depara com a presença de uma formidável criatura a bordo.
É perfeito para entrar no mundo de Ridley Scott porque é perfeito em seu gênero, construído de maneira sutil e até... inspirador. Três lições que o cineasta nos deu logo no início da carreira e que transpareceriam em toda a sua filmografia.
LIÇÃO Nº 3 – PERFEITO EM SEU(S) GÊNERO(S)
Alien é perfeito em seus gêneros porque entrega ao fã de ficção científica aquilo que ele procura, ao mesmo tempo que destila a tensão que o espectador em busca de emoção queria. Esta tensão constitui o primeiro nível de leitura do filme, aquele que sublinha até que ponto a tripulação entra em pânico para abrigar uma criatura tão formidável, que sabe perfeitamente esconder-se nas profundezas do navio.
Cada vez que aborda um novo gênero, Ridley Scott faz filmes verdadeiramente sólidos, até mesmo clássicos. O Último Duelo para o filme histórico, Gladiador para o épico, Thelma & Louise para drama, 1492 - A Conquista do Paraíso para aventura, Falcão Negro em Perigo para filme de guerra ou Rede de Mentiras para drama político.
LIÇÃO Nº 2 – SUTILMENTE CONSTRUÍDO
Para obter a aprovação final do estúdio para o projeto, Ridley Scott fez o storyboard de boa parte das sequências, e foram esses recursos visuais que convenceram a Fox de que ele era a pessoa certa para o projeto. Scott é um preparador consciencioso, fazendo storyboards de seus filmes desde os mais antigos até os mais recentes. Isto dá-lhe sempre uma visão clara do que pretende, tanto em termos de encenação como em termos de decoração. Aqui estão alguns exemplos de Alien:
Além dessa preparação, Scott coloca a psicologia de seus personagens no centro da história, e para isso, muitas vezes roda uma versão do filme que o estúdio rejeita por ser muito longo (Napoleão, Blade Runner, Cruzada). Mas ele dedica tempo para estabelecer seus heróis e mostrar toda sua complexidade e até mesmo seus paradoxos.
Olhando para trás, para a construção de Alien, o que chama a atenção é a forma como o filme abre. Após a apresentação da nave vista de fora para nos mostrar seu isolamento, a câmera entra e nos mostra os principais locais onde acontecerá boa parte da ação. A calmaria (antes da tempestade) reina. Só então os personagens acordam lentamente do hipersono e nós os descobrimos, o que é surpreendente.
É possível até mesmo classificar os personagens em arquétipos: o ganancioso, o cerebral, o comandante, etc. O suficiente para nos apresentar sete pessoas em tempo recorde e nos dar a impressão de conhecê-las.
LIÇÃO Nº 1 – UM FILME INSPIRADOR
Alien também é a primeira vez que Ridley Scott destaca uma heroína, aqui interpretada por Sigourney Weaver. Ellen Ripley serviu de modelo para muitos meninos e meninas através de sua coragem, constituição e inteligência. Ao procurar garantir que a empresa Weyland-Yutani nunca ponha as mãos num espécime Alien, representa uma última defesa contra uma ameaça por parte de uma empresa interessada apenas em dinheiro e armas. Uma heroína moderna cujos ideais ressoaram e ainda ressoam em várias gerações.
Se acompanhar vários filmes de Scott, encontrará muitas heroínas muito bem escritas. Com Alien, Ripley rapidamente se torna um ícone da cultura pop, assim como Maximus, Frank Lucas e Deckard, outros personagens iconizados pela câmera de Scott.
Por fim, Alien, o 8º Passageiro é admirável pela sua capacidade de alimentar a imaginação: pensar no que não podemos ver, temer o que pode surgir a qualquer momento, saltar ao som de uma nave enquanto projetamos que poderia ser pior.
Esta lição é também aquela que Scott dirige indiretamente a todos os cineastas iniciantes: você não tem dinheiro para o seu filme? Pegue um conceito simples e confie no sentimento do espectador e não na demonstração. Limitar a escala do que dizemos para melhor controlá-lo. E para assustar, sugira em vez de mostrar.
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