Lançado pelo pequeno selo Angel Studios, Som da Liberdade arrecadou quase US$ 173 milhões até o momento. Um sucesso mais do que surpreendente, mesmo que parte do valor tenha sido alcançada através de campanhas de grupos "políticos" organizados, sob a prática de comprar ingressos em grandes quantidades, para distribuição gratuita. O thriller é baseado em supostos acontecimentos reais sobre a luta contra o tráfico de crianças como escravas sexuais.
Mas há muitas críticas ao longa. O foco não está apenas na questão do que é verdade e quanto pode ter sido inventado e/ou exagerado. Acima de tudo, a proximidade entre o ator principal Jim Caviezel e Tim Ballard (personagem controverso da vida real, que ele interpretou), e suas declarações sobre teorias da conspiração de extrema direita (QAnon), são constantemente debatidas entre a imprensa especializada.
Até o momento, o diretor Alejandro Monteverde havia se mantido a parte das polêmicas. Mas agora, ele quebrou o silêncio e revelou suas percepções à Variety e ao Los Angeles Times, entre outros sites do segmento.
Não é um filme de teoria da conspiração, afirma diretor
O diretor mexicano revelou que o carimbo como “filme QAnon” o atingiu fortemente: “Fiquei muito doente. Pensei: isso tudo está errado, isso tudo não é verdade. Partiu meu coração ver todas as polêmicas. Meu instinto foi fugir, queria me esconder, parar de dar entrevistas".
Monteverde também aponta que o desenvolvimento de Som da Liberdade começou muito antes do movimento QAnon ganhar espaço. Originalmente, ele queria fazer um trabalho totalmente fictício sobre o tráfico de crianças. Somente quando seu produtor Eduardo Verástegui o abordou com a ideia de adaptar a história "real" de Tim Ballard é que o diretor decidiu transformar seu trabalho anterior em um novo projeto.
O seu filme, portanto, não é um filme QAnon nem particularmente cristão, apesar de a distribuição até agora ter explorado bastante a ideia de que ele teria "cunho religioso". O diretor afirma ter feito Som da Liberdade para "crentes, não crentes e todos os demais". No entanto, Monteverde também está ciente de como seu filme está sendo comercializado e de quão problemáticas são muitas das declarações de seu ator principal e daquele que inspirou o personagem.
Segundo o diretor, ele não pode controlar o que as pessoas fazem em seu tempo livre. “Mas há pessoas que estão muito próximas do filme, que estão na política”, explica ele sobre Caviezel e Ballard, que espalharam abertamente as conspirações QAnon como parte da turnê promocional de Som da Liberdade.
Monteverde é questionado se ele se arrepende de escalar Caviezel, e é um pouco evasivo para a Variety: “Nunca tento olhar para trás com arrependimentos porque não há nada que eu possa fazer sobre isso agora”. Na época, ele teria sido a melhor decisão para o filme. E sob esse aspecto, o diretor ainda afirma: “Nunca vi ninguém tão comprometido e tão profissional no set.” Ele também conta à revista uma história de quando seu ator principal estava doente, vomitou e ainda continuou filmando.
"Isso prejudicou meu trabalho"
No entanto, Alejandro Monteverde se distancia do seu ator principal e de Ballard - e, segundo a sua própria declaração, talvez devesse ter feito isso antes com palavras e não apenas com ações. Quando descobriu que Caviezel de repente estava dando entrevistas com pessoas de direita como Steve Bannon e que o filme estava sendo promovido abertamente aos apoiadores de QAnon, seu primeiro instinto foi se distanciar.
Como ele explica ao Los Angeles Times, tais entrevistas compartilham conteúdos diferentes do que ele pensa e ele não quer fazer parte disso - mas também não quer julgar as pessoas por isso. E por essa razão, ele manteve distância na época. Mas agora o diretor percebe que toda a história só se resolverá se ele também se posicionar.
Alejandro Monteverde também falou à Variety sobre as declarações públicas de Caviezel e Ballard "Neste filme em particular, sim, prejudicou meu trabalho." Em entrevista ao Los Angeles Times, Monteverde reiterou que a atitude de Caviezel e suas opiniões pessoais "prejudicaram" a mensagem do filme - de uma forma que não se alinharia com o que ele representa como pessoa, cineasta e contador de histórias.
O diretor também discorda da apropriação da extrema-direita. Som da Liberdade foi exibido antecipadamente a Donald Trump, entre outras personalidades controversas, e seus elogios foram usados para publicidade. Enquanto Caviezel e Ballard assistiam pessoalmente à exibição junto do ex-presidente, Monteverde se manteve afastado deliberadamente.
De acordo com a Variety, ele ficou até irritado pelo filme ter sido anunciado como “um thriller cristão”. Afinal, existem apenas algumas cenas em todo o filme em que a religião é mencionada.
Mesmo assim, ele já tem ideias para Sound Of Freedom 2
Mesmo que Monteverde tenha ficado abalado por tantas experiências negativas, as positivas superam as negativas, sobretudo a satisfação pelo sucesso do filme. Então ele não está apenas pronto para Som da Liberdade 2, mas já tem ideias para uma sequência. Existem negociações para focar no Haiti, que durante muito tempo, considerado uma área particularmente problemática para o tráfico de crianças (especialmente na direção da vizinha República Dominicana).
Som da Liberdade está em cartaz nos cinemas.