Entre as muitas interpretações que se podem fazer de uma obra tão grandiosa como Oppenheimer está a mais clássica que se conecta com o restante da filmografia de Christopher Nolan. Durante boa parte do filme com Cillian Murphy, vemos um retrato da obsessão em sua faceta mais perigosa: a busca da grandeza termina com as consequências mais fatais.
Embora não haja necessariamente uma ligação direta, é curioso como um dos filmes clássicos que o cineasta mais elogia aborda exatamente uma obsessão que leva à degeneração e até à destruição. Um longa que, segundo o próprio Nolan, tem um dos melhores finais de todos os tempos. Trata-se de Ouro de Maldição, lançado em 1925.
A humanidade e seus piores impulsos: Qual é a história de Ouro e Maldição?
O monumental filme de Erich von Stroheim continua sendo um objeto de fascínio cult quase 100 anos depois – em 2020, inclusive, caiu em domínio público e vale notar que existe uma versão de duas horas e uma montagem de quatro horas, considerada mais completa pelo diretor.
Adaptando o poderoso romance de Frank Norris, Ouro e Maldição começa quando o dentista McTeague (Gibson Gowland) se apaixona por Trina (Zasu Pitts), uma mulher de quem fez um tratamento dentário. Seu melhor amigo e também rival pelo amor de Trina é Marcus (Jean Hersholt) – ele permite que Mac se case com Trina, mas muda de ideia depois que a mulher ganha na loteria.
Marcus, então, aciona seus contatos no governo local, e consegue acabar com a vida de Mac, que fecha o consultório, passa a beber e a bater na mulher. Trina transforma o dinheiro da loteria em uma fonte de satisfação, e guarda suas moedas de ouro enquanto o casal passa fome. Por causa de um inesperado dinheiro, a vida de três pessoas fica completamente arruinada.
Uma história de ganância e corrupção
A maneira como os diferentes personagens, não apenas McTeague e sua esposa, se entregam aos piores vícios é a forma de Von Stroheim refletir sobre o pior da condição humana – ganância, vingança e raiva. Além disso, os aspectos técnicos do longa, como o uso inteligente de cortes e close-ups, o tornou um dos melhores de todos os tempos, influente para obras transgressoras que vieram depois, como Cidadão Kane.
Sobre o final, é claro que não vamos dar spoilers, mas é do tipo que vai te deixar roendo as unhas.