As opiniões de Quentin Tarantino costumam ser muito intensas e até hiperbólicas, embora sempre baseadas em um conhecimento quase obsessivo de cultura pop. Isso não iria tirar o fato de que suas declarações sobre a Marvel causarem polêmica, especialmente diante dis atores dos filmes, sobre os quais ele declarou que não eram realmente estrelas de cinema fora do ecossistema do Universo Cinematográfico da Marvel.
Parece exagerado, mas ele não estava exatamente errado. Em um interessante artigo da The New Yorker, o jornalista Michael Schulman analisa de diferentes ângulos como o grande projeto da Marvel Studios devorou Hollywood, incluindo os rostos em mais evidência que o compõem. Um contexto bem diferente das primeiras adaptações de super-heróis, onde o filme do Superman precisava das contratações de estrelas como Marlon Brando ou Gene Hackman para chamar a atenção.
Agora, com exceção de Timothée Chalamet e Leonardo DiCaprio, já que este último avisou o primeiro "para não usar drogas pesadas e não fazer filmes de super-heróis", a Marvel Studios pode ter qualquer ator ou atriz que quiser. Desde as estrelas veteranas, que acabam em papéis menores de mentores ou vilões que duram pouco, até aos rostos mais jovens que aparecem em vários filmes, intercalando os que protagonizam com participações especiais.
Uma grande vitrine com poucos benefícios
Walt Disney Studios
Um agente que representa vários atores da MCU esclarece o motivo que leva esses intérpretes a esse ecossistema que lembra muito o antigo "golden Hollywood studio system", onde os atores rodam nas diferentes produções que os grandes estúdios montam. "Às vezes você sente vontade de ser relevante", explica o representante, e os filmes fornecem a melhor vitrine possível.
Mas isso não se traduz necessariamente em sucessos além da Marvel. Exceto por pessoas que já eram populares antes, os novos atores da Marvel não estão se tornando estrelas de cinema para uma vida inteira, estrelando projetos que as pessoas querem ver. "Me surpreende como quase nenhum deles tem carreira fora do universo Marvel", explica outro agente no artigo, observando que a atração para o público agora é o Capitão América, e não Chris Evans, que teve pouco sucesso fora do universo Marvel. Algo que o novo Capitão, Anthony Mackie, já sabe, inclusive já se manifestando e dizendo que ninguém iria vê-lo em um filme a menos que ele interpretasse o Falcão.
Mesmo Robert Downey Jr. e Tom Holland têm dificuldades, apesar de encarnarem os heróis mais populares da Marvel. "Filmes não funcionam. São desastres atrás de desastres", explica esse agente. Uma razão é o desaparecimento progressivo de filmes de orçamento médio, thrillers ou comédias românticas que essas pessoas poderiam estrelar além dos grandes sucessos de bilheteria e consolidar-se como estrelas. Nas raras ocasiões em que Holland ou Evans podem estar em um filme mediano, ele tem desempenho inferior, então a alternativa é tentar estrelar outra franquia que pode ser um fracasso ainda maior, como Downey Jr. fez em Dolittle.
Mas o fato de esses atores não serem reivindicados não é um problema para a Marvel, pelo menos por enquanto. Um analista a compara à Apple, onde "eles têm uma conexão emocional com seus consumidores". Da mesma forma que algumas pessoas concentram todos os seus gadgets em aparelhos de uma determinada marca, alguns espectadores ficam satisfeitos com o fato de seu consumo de filmes e séries consistir principalmente em Marvel, já que isso premia fidelidade e atenção aos detalhes.
Algo que pode frustrar, sim, o grande público que não acompanha todas as notícias atualizadas, e pode representar o grande desafio do estúdio daqui a alguns anos. E quando essa hora chegar, eles podem não ter estrelas a quem recorrer.