Ridley Scott tem a magia de transformar imagens em subtexto e também metáforas gritadas em voz alta ao mesmo tempo. Uma de suas qualidades menos apreciadas é criar imagens tão contundentes, que surgem como uma representação dos modos crus de narrar de um diretor bastante clássico e extraordinário, que faz ficção épica como pouquíssimos cineastas. Mas não foi argumento suficiente para convencer que era preciso ver O Último Duelo.
Controle a história
Este drama histórico arrasador é um dos melhores filmes recentes de Scott. Ou, ainda, um dos melhores filmes de sua filmografia, destacando um idílio do cineasta britânico com ficção de época que volta a gerar expectativa através do trailer de Napoleão. Se as imagens poderosas não são hype o suficiente, este filme que pode ser visto no streaming através do Star+ é suficiente para esperar o melhor do filme com Joaquin Phoenix.
O filme nos leva ao século XIV para contar o confronto sangrento e violento entre Jean de Carrouges (Matt Damon) e Jacques LeGris (Adam Driver), realizando um duelo cruel onde a honra estava em jogo. LeGris é acusado de abusar sexualmente da esposa de Carrouges, Marguerite (Jodie Comer), e o rei da França conclui que um duelo até a morte entre os dois cavaleiros será a melhor maneira de Deus determinar quem está certo.
Uma mistura de ação de guerra suja e sangrenta com intrigas palacianas contadas através de três perspectivas diferentes: as dos três protagonistas mencionados. As variações primorosas que o roteiro que Damon assina com Ben Affleck e Nicole Holofcener ajudam a moldar a visão que eles têm de si mesmos dentro da rigidez do momento histórico, embora aqui ninguém falte em sublinhar quem dos três tem a verdade.
'O Último Duelo': Violência e Repressão
Scott usa suas técnicas maravilhosamente para filmar obras de ação musculosas para mostrar um contexto cheio de crueldade, onde até mesmo a busca pela honra é marcada pela força bruta. O diretor não só usa os melhores técnicos da produção para recriar o momento, como sua narração coloca o dedo na ferida sobre as relações entre dinheiro e poder, o controle exercido para subjugar (especialmente as mulheres) e a futilidade em tentar controlar uma história.
É por isso que um filme tão aparentemente cru consegue ser requintado. Ambos andam de mãos dadas em todos os aspectos que compõem o filme, a começar pelo roteiro, e também permite demolir as possíveis acusações de autocomplacente e sério (toda a parte palaciana com Affleck é engraçada) e de tentar fazer um Rashomon. Não oferece a visualização mais fácil devido à ao aspecto visceral de algumas de suas imagens, mas oferece uma formidável que não merecia ser ignorada na época.
Reforçando: No Brasil, O Último Duelo está disponível para streaming no Star+.