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    Seu VHS de O Rei Leão não vale mais de 100 mil reais, porém você pode ter outros tesouros entre suas fitas em casa
    Jefferson Sousa
    Jefferson Sousa
    Jornalista, documentarista e pesquisador de cultura popular. Ama contar e ouvir histórias especiais de pessoas comuns.

    Colecionadores de todo o mundo encontram nesse formato o retorno à infância que precisavam e estão dispostos a pagar valores exorbitantes

    Numa tarde de limpeza geral, você decide se livrar daquela coleção de VHS da Disney que você insistiu em começar quando era pequeno. "Isso com certeza pode interessar a alguém", você pensa e pesquisa para saber quanto você poderia obter por isso. Seus espanto é quando você descobre que há fitas de O Rei Leão que estão à venda por R$ 47.000 – até R$ 210.000 – mas temos más notícias para você. Sua coleção não custa milhares, embora você possa ganhar alguns bons trocados se tiver o VHS certo em casa.

    O Rei Leão
    O Rei Leão
    Data de lançamento 8 de julho de 1994 | 1h 29min
    Criador(es): Roger Allers, Rob Minkoff
    Com Garcia Júnior, Matthew Broderick, Jonathan Taylor, James Earl Jones
    Usuários
    4,7
    Adorocinema
    5,0
    Assista agora no Disney +

    Essa bolha em torno do VHS, especialmente da Disney, é algo que foi criado pelo boca a boca e nenhum colecionador está disposto a pagar esse preço. Nem mesmo para os mais valorizados. "Esse é um mito que você só vê em plataformas como Mercado Livre ou Amazon, mas ninguém pagaria esse valor. Se forem filmes clássicos de terror podem chegar a cerca de R$142 -, mas os da Disney rondam os R$52 a R$78 -", explica José Humberto, administrador do grupo de Facebook 'O mundo do colecionador VHS, DVD, Blu-ray'. Muitos colecionadores viram anúncios de pessoas que querem vender seu VHS antigo por R$105 mil, mas todos eles acham isso uma piada.

    Eles pedem esse valor porque podem, mas não é um preço real. Todo mundo dá o valor das coisas, pode pedir milhões, mas ninguém vai comprar.

    Nega-se, por isso, a questão da fita de O Rei Leão de R$105 mil, mas há tesouros que os colecionadores estão dispostos a encontrar, embora não paguem quantias exorbitantes. "O que os colecionadores estão procurando são edições especiais, em geral, também algum filme que, por algum motivo, não foi lançado em DVD. A dublagem também influencia. Era raro o VHS ter dublagem, as legendas eram normais, exceto as animadas que mais vinham dubladas", conta Caritoons, um dos colecionadores da página de Humberto. O usuário fala sobre a situação no México, onde mora, mas na Europa os mesmos fatores poderiam se aplicar: edições curiosas, capas censuradas, filmes com pouca circulação.

    Aladdin (1992) é um exemplo de filme da lista Diamante Negro Disney
    Aladdin (1992) é um exemplo de filme da lista Diamante Negro

    Se quiser exemplos concretos, José Humberto enumera alguns: "Os clássicos do terror mexem muito. It, Child's Play, A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13, Halloween, etc...". É nos filmes de terror que a maioria dos tesouros são encontrados. "Títulos esquecidos do cinema de terror e seus inúmeros subgêneros como 'giallos', 'slasher', 'gore', Série B, Série Z, zumbi...", diz Caritoons. A maioria são produções que não foram lançadas posteriormente em DVD, por isso são citadas. Curiosamente, os da Disney não estão entre os mais procurados, nem mesmo os pertencentes à coleção Diamante Negro (que são aquelas animações populares dos anos 1980 e 1990, em sua maioria), o que é usado como desculpa para muitos vendedores aumentarem os preços das fitas. Se tiverem o famoso diamante negro aumenta um pouco o seu valor, mas não ultrapassará os R$ 105 ou os R$ 160. Lembrando, claro, que isso é um contexto europeu, mas nada impede esse intercâmbio de colecionadores com os brasileiros.

    Aladdin
    Aladdin
    Data de lançamento 3 de julho de 1993 | 1h 30min
    Criador(es): John Musker, Ron Clements
    Com Scott Weinger, Robin Williams, Linda Larkin
    Usuários
    4,4
    Assista agora no Disney +

    "O que se paga é exclusividade", explica Josetxo Cerdán, diretor da Filmoteca Española e professor de Comunicação Audiovisual na Universidade Carlos III, ao SensaCine, "A Disney - e muitas outras empresas e diretores -, toda vez que fazem uma nova apresentação dos filmes fazem ajustes que têm a ver com a mudança dos tempos. O que nos anos 50 do século passado não era lido como ofensivo, agora é sim e vice-versa. São adaptações para cada um dos tempos e, por isso, as versões originais ficam para trás. Há VHS que correspondem a uma versão que não é a que circula hoje nas plataformas."

    NOSTALGIA, UM FATOR-CHAVE APESAR DA MÁ QUALIDADE

    Na era do streaming, quem gostaria de armazenar torres de VHS em sua casa? A nostalgia é um fator importante para colecionar essas fitas. Josetxo Cerdán acredita que por trás desse hobby há "um retorno a um tempo perdido".

    Colecionar é 'Peterpanismo', é recuperar a essência dos seus anos dourados. Colecionar sempre teve isso. Os colecionadores começam com aqueles filmes que significaram algo naqueles anos de formação, que no final nos marcam tanto.

    Esta é a única maneira de explicar por que o amor pelas fitas consegue superar a má qualidade de que todos nos lembramos. "O VHS sempre foi um sistema muito deficiente. Já de origem, têm péssima qualidade. Se você tivesse sorte e a fita não estivesse presa ao equipamento e sobrevivesse, você podia ver que a cada nova passagem ela parecia mais e mais plana", diz Cerdán.

    José Humberto tem os seus próprios truques para evitar essa má qualidade. Para ele, é importante ter uma televisão do passado, como as que dominavam a sala quando éramos pequenos. Os de plasma não valem a pena. "O VHS é opaco e de qualidade antiga, por isso você precisa de uma televisão dos anos 90. Algumas pessoas assistem seus VHS assim e ficam bem", diz o administrador do grupo de colecionadores, embora reconheça que a nostalgia é um fator fundamental: "Você se lembra de quando foi com sua mãe ou seu pai alugar filmes para a locadora. A sensação de andar pelos corredores. É por isso que o VHS será sempre o melhor formato."

    Walt Disney Company

    Caritoons, que também vê as fitas como um belo objeto de outra época, diz: "Além de poder desfrutar de títulos que caíram no esquecimento e criar seu próprio tesouro cultural, as fitas VHS têm charme como um objeto vintage. Seu tamanho, a cor do plástico, o design da caixa ou as ilustrações de suas capas fazem do VHS um objeto de grande beleza."

    Talvez aquela fita de A Pequena Sereia que guardou com tanto carinho não lhe dê milhares de reais, mas é certamente uma viagem a um tempo mais terno e inocente. E isso nunca será dado a você pela Netflix.

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