Quando se fala das grandes obras-primas dos trabalhos de Leonardo DiCaprio, um título costuma ser esquecido: A Praia. O furioso acerto de contas, que está disponível na assinatura do Disney+, é uma jogada de mestre grosseiramente subestimado.
Não há nada melhor do que sair do seu país de origem para relaxar em uma praia remota dos sonhos, certo? Agora, depois de assistir A Praia, do vencedor do Oscar Danny Boyle, você pode mais uma vez questionar fundamentalmente seus anseios de férias. Você pode assistir ao filme assinando o Star+.
Quase nenhum outro filme foi capaz de chegar ao cerne do porquê o turismo de auto-embriaguez (mochilão) do nosso tempo é tão cáustico. Em qualquer caso, depois de A Praia você vai pensar duas vezes sobre se você quer ou não passear pelo mundo como um mochileiro de peito orgulhosamente inchado, a fim de experimentar algo novo. Afinal, você nunca está de acordo com o seu destino, apenas com o resort com tudo incluído que você reservou.
SAINDO DO MUNDO: É DISSO QUE SE TRATA A PRAIA
Durante sua viagem à Tailândia, Richard (Leonardo DiCaprio) conhece involuntariamente Patolino (Robert Carlyle). Antes de seu suicídio, ele lhe dá um mapa que deve levar Richard diretamente a um paraíso de praia escondido. É claro que, a partir de agora, só há um objetivo para o jovem: ele deve encontrar esse lugar mágico!
Junto com Etienne (Guillaume Canet) e Françoise (Virginie Ledoyen), que Richard conheceu pouco antes, ele parte para seguir o mapa e realmente chega ao seu destino após uma jornada aventureira. A praia, boa demais para ser verdade, é povoada por uma comuna que faz de tudo para manter o paraíso em segredo. O cenário natural avassalador é logo assombrado por sérias tensões.
O que torna A Praia tão grandioso é a determinação mordaz com que Danny Boyle desconstrói Richard e seus companheiros. Todos eles viajaram para Bangkok porque acreditavam firmemente que seriam capazes de absorver a identidade deste país em pouco tempo. Mas, em vez de realmente se enraizarem com o estrangeiro, eles são brutalmente confrontados com sua própria presunção.
VOCÊ NÃO É EXCLUSIVO SE ESTIVER NO CONTROLE
É claro que Richard, em particular, está na mira da exposição. É ele quem quer experimentar uma aventura real, mas só pode aproveitá-la na medida em que seu próprio controle ainda seja reconhecível. Mas viver em uma comuna abandonada não significa apenas mergulhar nas águas azul-turquesa de uma lagoa fechada por penhascos de manhã à noite. Significa também estar pronto para o autoabandono.
Danny Boyle parece olhar o espectador nos olhos repetidas vezes quando a técnica, às vezes quase experimental, ganha força própria e segue o motivo do cartão postal: é exatamente isso que você sonha em seu cotidiano chato, não é mesmo? É aqui que a paz interior está esperando por você, não é? Na verdade, não. Quem segue os seus desejos deve arcar com as consequências de conseguir realizá-los.
É dispensável dizer que são muito poucas as pessoas que conseguem alcançar uma liberdade genuína e irrestrita. Quem é capaz de reunir coragem para se separar e abandonar completamente tudo aquilo a que já esteve ligado? Esse também não é o problema. Pelo contrário, o problema são pessoas como Richard, que falam de independência em todas as outras frases, mas nem sequer conseguem suportar a realidade.
SE VOCÊ SONHA, VOCÊ TAMBÉM TEM QUE ESPERAR ACORDAR
O crítico de cinema alemão Sascha Westphal certa vez descreveu A Praia como "o Apocalypse Now do nosso tempo". Uma comparação interessante, um tanto exagerada, mas não totalmente errada. Richard também viaja para seu próprio inferno e tem que olhar o abismo nos olhos. Só que ele não pode se entregar a isso e continua sendo um deslumbrador sonhador. A monotonia que ele tentou combater em sua vida supera a si mesmo.
Leonardo DiCaprio