Se imaginarmos porque Cães de Aluguel daria uma boa peça, é porque o primeiro filme de Quentin Tarantino se passa praticamente no mesmo lugar (um armazém), conta com poucos atores e muitos diálogos. Só que esse aspecto do longa há muito joga contra ele mesmo, desde que seu diretor procurava investimento.
Na época, os potenciais produtores achavam que Reservoir Dogs (no original) se encaixava melhor no teatro. Foi o próprio Tarantino quem revelou isso em uma entrevista de 1994 à revista Film Comment, enquanto promovia Pulp Fiction:
Foi realmente um problema [quando] eu estava tentando financiar [o longa]. As pessoas liam [o roteiro] e diziam: ‘Não é um filme, é uma peça. Por que você não tenta encenar em um palco pequeno?’ E eu dizia: 'Não, não, não, acredite em mim, vai ser cinematográfico.’”
No fundo, o cineasta sabia que o lado teatral de seu projeto era apenas pretexto para camuflar seu pequeno orçamento. “Não gosto da maior parte das adaptações teatrais para o cinema”, confidenciou Tarantino em 1994. “Mas a razão pela qual queria que tudo se passasse como em uma peça é que era a forma mais fácil de filmar. Para mim, o mais importante era que fosse cinematográfico.”
Ao mesmo tempo, o futuro diretor do faroeste de portas fechadas Os Oito Odiados foi o primeiro a reconhecer que suas produções tinham uma base teatral. “É verdade que uma das coisas que me surpreende em Reservoir Dogs é que jogamos com elementos de teatro de forma cinematográfica – a tensão não é dissipada e só aumenta, os personagens não conseguem sair, e o filme é realmente impulsionado pelas atuações.”
Eventualmente, o produtor Lawrence Bender deu um voto de confiança a Tarantino, e Cães de Aluguel chegou às telonas em 1992, arrecadando quase US$ 3 milhões para um orçamento de US$ 1,2-3 milhões.
E, para constar, Cães de Aluguel foi adaptado para os palcos após seu lançamento, com destaque para uma montagem na cidade de Killarney, na Irlanda, que trazia um jovem Michael Fassbender, então com 18 anos, no papel do Sr. Pink, originalmente interpretado por Steve Buscemi.