Estamos na primeira parte de O Senhor dos Anéis - As Duas Torres (2002), segundo filme da famosa trilogia dirigida por Peter Jackson e adaptada dos livros de J.R.R. Tolkien. Acompanhado de Aragorn (Viggo Mortensen), Legolas (Orlando Bloom) e Gimli (John Rhys-Davies), Gandalf (Ian McKellen) chega a Edoras, diante do trono do Rei Théoden (Bernard Hill).
Este último, cuja mente foi corrompida por muitos anos pelas mentiras de Saruman (Christopher Lee), assobiadas em seus ouvidos por Grima Língua de Cobra (Brad Dourif), nada mais é do que uma sombra de si mesmo. Gandalf, agora na forma de um Mago Branco, se compromete a exorcizá-lo e "sugar Saruman dele como se suga veneno de uma ferida".
Assim que o feitiço é suspenso, Théoden recupera sua aparência original: o velho atrofiado que ele tinha se tornado sai de cena, dando lugar a um soberano típico da Terra-média. Particularmente bem-sucedida, a cena da metamorfose é um daqueles truques do cinema que tentamos desesperadamente desvendar, mas nunca conseguimos.
Confira o trecho a seguir:
Para descobrir como essa pequena maravilha visual foi feita, temos que recorrer aos comentários em áudio incluídos na versão Blu-ray do longa-metragem. “Vivi três reis em um”, explica o intérprete de Théoden. “Começamos com Rei Lear e voltamos para Henrique V”, continua Bernard, referindo-se às célebres peças escritas por William Shakespeare.
A transformação, ele conta, foi feita em quatro etapas: “Do mais antigo ao mais novo. Com dois estágios intermediários. Depois, tive que atuar na frente de uma tela reflexiva para que pudéssemos sobrepor as imagens e desenvolver cada etapa da mudança.”
“É uma cena absolutamente arrebatadora. Tanto profissionais do ramo quanto espectadores acharam impressionante”, dispara o ator. “Nunca vimos um efeito de metamorfose tão exitoso. Um programa teve que ser criado especialmente para alcançar tal resultado.”
Bernard e Miranda Otto, que encarna Éowyn, tiveram que repetir a cena quatro vezes. A principal dificuldade do processo era garantir que o plano fosse exatamente o mesmo sempre, e que a câmera não se movesse um milímetro entre as tomadas, muitas vezes separadas por longos intervalos para que Bernard passasse pela caracterização.
“Tínhamos que ficar parados e esperar. A equipe ia filmar outras cenas, mas a câmera permanecia ali, naquele cenário”, relembra o diretor de fotografia Andrew Lesnie. “Quando a nova maquiagem estava pronta, retomávamos a gravação. Depois voltavam os maquiadores... Demoravam horas para trocar a maquiagem dele. Eu não mexia na iluminação. Não tocava na câmera. Porque, se tudo muda ao mesmo tempo, a gente não vê mais a mudança essencial.”
Para que a cena funcionasse, o talento dos atores e dos caracterizadores teve, portanto, que ser acompanhado de perto pelo time técnico. Parece que o esforço valeu a pena, né?