Shrek the Third (2007) representa um momento de transição na franquia Shrek, buscando expandir sua narrativa e universo ao mesmo tempo em que enfrenta desafios para manter o mesmo nível de qualidade e inovação de seus antecessores. Dirigido por Chris Miller e co-dirigido por Raman Hui, o filme se apoia na fórmula estabelecida pelos dois primeiros longas, mas apresenta dificuldades em equilibrar humor, desenvolvimento de personagens e uma história coesa. Com um elenco de vozes estelar, avanços na animação e um enredo que explora questões de sucessão e maturidade, Shrek the Third arrecadou impressionantes US$ 813 milhões globalmente, demonstrando seu apelo comercial, mas recebeu recepção mista da crítica, sendo considerado inferior aos filmes anteriores.
A trama do filme gira em torno da sucessão ao trono de Tão Tão Distante após a morte do Rei Harold. Shrek, relutante em assumir a coroa, embarca em uma jornada com Burro e Gato de Botas para encontrar Arthur Pendragon, um jovem inseguro e rejeitado por seus colegas, mas o único herdeiro legítimo além do próprio ogro. Enquanto isso, o Príncipe Encantado planeja um golpe para tomar o reino, reunindo vilões dos contos de fadas para executar sua vingança. Fiona e outras princesas clássicas se unem para defender o castelo, criando um subenredo que busca desconstruir arquétipos femininos tradicionais.
Apesar de uma premissa promissora, a execução da história apresenta fragilidades. A jornada de Shrek e Arthur carece do mesmo impacto emocional e dinamismo das aventuras anteriores, tornando-se um arco previsível e com menor profundidade. O desenvolvimento de Arthur como personagem central é apressado e sua relação com Shrek, que poderia ter sido um reflexo mais significativo sobre amadurecimento e responsabilidades, é explorada de forma superficial. O Príncipe Encantado, apesar de carismático, não possui a mesma presença imponente da Fada Madrinha em Shrek 2, tornando sua ameaça menos convincente.
O elenco de vozes continua sendo um dos pontos altos da franquia. Mike Myers retorna como Shrek, mantendo o equilíbrio entre a rudeza e a sensibilidade do personagem, mas com menos oportunidades para explorar novas camadas emocionais. Eddie Murphy, como Burro, e Antonio Banderas, como Gato de Botas, entregam performances enérgicas e humorísticas, mas seus personagens recebem menos destaque e piadas menos inspiradas. Cameron Diaz reprisa seu papel como Fiona, agora mais proativa, mas ainda sem o protagonismo que a personagem poderia ter. A adição de Justin Timberlake como Arthur Pendragon introduz um novo elemento juvenil, mas sua atuação não traz o mesmo carisma dos personagens anteriores. Eric Idle, como Merlin, adiciona um toque excêntrico, mas sua presença serve mais para alívio cômico do que para impulsionar a trama.
O roteiro de Shrek the Third enfrenta dificuldades em manter o frescor e a irreverência que caracterizaram a franquia. O humor, embora ainda presente, perde parte de sua sagacidade ao depender mais de piadas físicas e menos de sátiras inteligentes. O filme tenta abordar temas de responsabilidade e aceitação, mas sem a mesma profundidade emocional dos antecessores. As interações entre os personagens não são tão cativantes quanto antes, e muitos momentos cômicos parecem reciclados ou previsíveis. Enquanto os primeiros filmes equilibravam humor e emoção com maestria, esta sequência apresenta um desequilíbrio, deixando a sensação de que falta algo para tornar a história verdadeiramente memorável.
Visualmente, a animação continua impressionante, com aprimoramentos técnicos notáveis em texturas, expressões faciais e cenários. Tão Tão Distante mantém sua estética grandiosa e detalhada, e a introdução de novos ambientes, como a escola medieval de Arthur, adiciona variedade ao universo da franquia. As cenas de ação são bem coreografadas, embora careçam da energia e inovação vistas em Shrek 2. Os personagens mantêm sua identidade visual bem definida, mas a direção artística, de modo geral, não apresenta grandes inovações em comparação aos filmes anteriores.
A trilha sonora de Shrek the Third segue a tradição da franquia ao mesclar músicas licenciadas com composições originais. Embora conte com faixas de artistas conhecidos, como "Immigrant Song" do Led Zeppelin e "Live and Let Die" de Paul McCartney, o impacto musical do filme não atinge o mesmo nível icônico de seus antecessores. Enquanto Shrek e Shrek 2 utilizaram a música de forma orgânica para enriquecer a narrativa e as emoções, esta sequência carece de momentos musicais verdadeiramente memoráveis.
O desfecho do filme se desenrola de maneira previsível, com Arthur finalmente assumindo seu papel como rei e Shrek aceitando sua nova fase de vida ao lado de Fiona, que está grávida. A derrota do Príncipe Encantado ocorre de forma anticlimática, encerrando o arco do vilão sem grandes reviravoltas. A mensagem de aceitação e amadurecimento é clara, mas a execução deixa a desejar em impacto emocional.
No geral, Shrek the Third é um filme competente, mas aquém das expectativas estabelecidas pelos primeiros filmes da franquia. Sua recepção mista se deve à combinação de um roteiro menos inspirado, desenvolvimento de personagens enfraquecido e uma abordagem humorística que perde parte de sua originalidade. Embora tenha sido um sucesso financeiro expressivo, arrecadando US$ 813 milhões mundialmente, sua recepção crítica reflete sua posição como uma sequência que não conseguiu capturar plenamente a magia dos antecessores. Ainda assim, sua animação de alta qualidade, elenco talentoso e alguns momentos de humor garantem entretenimento, mesmo que sem o brilho e impacto que tornaram Shrek e Shrek 2 referências na animação moderna.