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    O Sétimo Selo
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    4,2
    635 notas
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    17 Críticas do usuário

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    Sr. Mesquita
    Sr. Mesquita

    2 críticas Seguir usuário

    4,5
    Enviada em 30 de outubro de 2021
    Meu primeiro contato com Sétimo Selo foi há quase um mes atrás, quando um colega que, ao ver meu continuo interesse pela sétima arte, me recomendou. Foi um filme que me surpreendeu positivamente de uma maneira tão doce, todavia, cruel. Dito isso, quero compartilhar minhas ponderações sobre o longa.

    A título meramente introdutório, cabe ressaltar o nome do longa, faz menção ao livro bíblico Apocalipse, o qual, conforme a escritura, na mão de Deus há um livro selado com sete selos e a abertura de cada um destes selos implica num malefício sobre a humanidade, mas a abertura do sétimo é o que leva efetivamente ao fim dos tempos.
    O teor de toda obra – como de praxe do diretor – é deprimente, tem uma atmosfera fria onde se faz impossível não se sentir mal. A história é ambientada em meio a idade média num dos períodos mais caóticos da humanidade: o surto da peste negra, onde fora ceifado a vida de milhões de pessoas no século XIV. Já o personagem central é Antonius Block, um cavaleiro que ao voltar das cruzadas, encontra sua cidade devastada. Logo ao chegar numa praia, encontra-se com uma figura um tanto quanto peculiar: a morte em sua forma carnadura. Ela o saúda e diz que veio o levar.
    Todavia, Antonius, temendo morrer sem entender o sentido existencial da vida, desafia a morte para um jogo de xadrez, pois ele era o Mequinho dos tempos medievais e nunca havia perdido sequer uma partida. É nessa partida, que se perpetua durante toda a película, é que se tem os maiores questionamentos sobre a existência humana e a vida finita. No fundo, o nobre Cavaleiro sabia que não havia possibilidades de vencer a morte, ela é inevitável, Antonius tinha apenas a intenção de, caso saísse vencedor, postergar seu destino.
    No percorrer da trama, Antonius e sua trupe, viaja pelo interior da sua terra a fim de buscar resposta para tamanho sofrimento, porém não as obtêm da maneira que queria, e gradativamente, o Cavaleiro perde as esperanças e sua fé, caindo num limbo de desilusão total. Nessa empreitada, ele se depara com muitas perversidades costumeiras da época: o fanatismo, a fome e o temor causado pela peste.
    Antonius é uma figura alegórica, pois é a forma corpórea das incertezas da vida humana. A Dama Negra por sua vez, é uma figura fúnebre que desperta curiosidade, segue o Cavaleiro a todo tempo, assistindo sua revolta com a vida sem certezas.

    (SPOILERS A SEGUIR)

    No fundo do poço e cheio de dúvidas, Antonius é apresentado a uma família de atores extremamente simpática e feliz, mesmo eles não possuindo nada, além de esperança e amor entre eles.
    O casal composto por Jos e Mia, enriquecem a trama com convicções opostas, pois ambos são esperançosos. E despertam interesse do telespectador pela simpatia e a forma como suas conversas são conduzidas.
    Nosso herói, após o encontro com o vivaz casal se sente um pouco mais revigorado, talvez tenhas entendido que a simplicidade da vida e um pouco de amor num mundo completamente amargurado seja suficiente para manter vívido a esperança e esse seja o sentido de tudo; amar as coisas boas do mundo. Ou então, simplesmente entendeu que o fato de a vida ser finita seja o sentido, mesmo que mínimo, da existência humana. Pois ela só faz sentido, porque um dia termina. E ao comtemplar a vida do casal com seu pequeno filho, percebe isso.
    Há uma vastidão de observações que se pode fazer sobre o encontro dele com o casal, o fato é que houve uma epifania, e a partir desse ponto, ele não tenta mais postergar o impostergável.
    Além disso, é com a junção dos dois núcleos, do casal e o de Antonius, que a trama sai do tom indagatório no qual se propôs no arco do Antonius e a Morte, e passa a ter um teor opinativo, justamente pela cosmovisão divergente entre o casal e o Cavaleiro. O que permite ao longa não dar resposta sobre as dúvidas, mas sim deixar tudo interpretativo. Afinal de contas, quanto mais explicações, maiores são as dúvidas.
    Partindo ao final da obra, temos Antonius e o casal em caminhos opostos, Antonius decide ir ao seu castelo com sua trupe, e num jantar, sua esposa lê em voz alta o texto bíblico do Apocalipse, no Sétimo Selo. Por fim, Antonius e seus cinco amigos, dançam com a Dama Negra em um penhasco.
    Em contrapartida, Mia e Jos acabam indo por um caminho diferente, pois Jos foi o único que conseguiu contemplar o jogo de xadrez entre o Cavaleiro e a Morte, e temendo, decide fugir. Na fuga, o Casal se depara com trovões e barulhos aterrorizante, sendo uma clara referência ao Apocalipse, ainda no Sétimo Selo: “E o anjo pegou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões, barulhos, relâmpagos e terremoto.”
    Após a tempestuosa chuva, o arco do Jos termina com ele feliz, contemplando a dança da Morte, onde se tinha sete pessoas (incluindo a própria) novamente uma referência ao Apocalipse: “Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu por mais ou menos meia hora. Então vi os sete anjos, que se acham em pé diante de Deus, e vi que lhes foram dadas sete trombetas.” E o Deus, alegoricamente, no contexto do filme, pode ser interpretado como o próprio Jos admirado com a figura dos sete, pois, o filme tem suas concepções ateísta, e a mensagem no último momentum, pode ser de que o homem é o seu próprio Deus, nada existe além dele.
    Em seu turno, ainda tenho algumas ponderações sobre a obra. A prelúdio, quero ressaltar o trabalho magistral do diretor quanto aos elementos que compõem a fotografia, Bergman trouxe um toque teatral remetendo as origens do texto base, além de criar cenas com um teor soturno com uma atmosfera de terra arrasada, combinando perfeitamente com a época retratada. Bergman merece admiração, pois conseguiu fazer, em meados da década de 50, um trabalho atemporal em termos visuais, mesmo sendo um filme preto e branco, com baixo orçamento.
    Outra mera observação, é que a figura feminina durante a película remete a pureza. Logo no início, é destacado uma visão do Jos, onde ele contempla a pureza da Virgem Maria ensinando uma criança a andar. E em seguida, somos apresentados a Mia, esposa do Jos, tão doce, sempre vista vestindo roupas claras em cenas diurnas e bem iluminadas, contrastando com o tom frio de toda a obra.
    Por fim, o filme tem como temas centrais a morte, os questionamentos existencialistas e a fé. E tudo isso centrado num personagem que acabara de chegar das cruzadas. Possui suas falas abstratas, cheias de metáforas e alegorias. Os temas que o filme aborda são de fato muito intrigantes e faz questionar-se a si mesmo, porém não diria que é um filme fácil de ser digerido. Ele é arrastado, tem seus planos estendidos à exaustão. Entretanto é uma experiencia, recomendo a todos paciência ao assistir.

    Dou fácil um 4,5 de nota.
    Cleibsom Carlos
    Cleibsom Carlos

    10 seguidores 146 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 3 de agosto de 2020
    Falar o que de um filme como este? Obra-prima fundamental da história do cinema e, apesar do tema pesado, um dos filmes mais acessíveis do mestre Ingmar Bergman...
    Gabriel Novais
    Gabriel Novais

    1 seguidor 16 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 17 de abril de 2020
    Obra que traz talvez os maiores questionamentos existenciais da humanidade, unidos em um só filme. A forma que a Morte é representada é fascinante. Persuasiva, articulada e impiedosa. Talvez em tempos de pandemia seja mais fácil entender os pensamentos e motivações de Bergman para a produção. No período pós 2° Guerra e em meio a Guerra Fria e o medo de uma possivel Guerra Nuclear, abordar a peste negra, personificar a morte, questionar as cruzadas são atitudes bem compreensíveis. Obra-prima atemporal. Necessário para todo amante de bons filmes!
    Igor Emanoel
    Igor Emanoel

    5 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 19 de fevereiro de 2020
    Em meio ao cenário ermo de uma praia de rochas e ondas agitadas, uma narração de requintes bíblicos indica a natureza da obra da qual acompanharemos. À primeira vista, os planos longos e estáticos do início manifestam a contemplação assídua em O Sétimo Selo. Ao contrário do aparente, tal apreciação não se dá em virtude da estética natural da locação, mas reflete os incessantes questionamentos dos quais o roteiro afrontosamente convida o espectador a indagar.

    O texto possui autoria de Ingmar Bergman, que também comanda a direção, e neste filme encontra a sua maturidade cinematográfica, e o equilíbrio quase perfeito com suas raízes do teatro. Advindo desta origem, os diálogos são escritos com rebusque provocativo, isto é, monólogos asceticistas intencionalmente não dissolvidos em falas cotidianas, fazendo-se assim, enervantes o suficiente para ser uma idiossincrasia notória dos maiores louvores ao longa-metragem.

    A cada nova conversa o entre o protagonista Antonius Block (Max Von Sydow) e a Morte (Bengt Ekerot), são apresentadas novas visões e vertentes de um assunto central que é profundamente dissecado: fé. Block acabara de envolver-se em uma cruzada, e ao voltar para a sua civilização natal, depara-se com a peste e a miséria, o fazendo se questionar incansavelmente sobre sua própria crença. O principal elo do público para o filme é a figura de Antonius, e suas ponderações intrigantes não dão escolhas ao espectador senão participar do debate.

    Trabalhando o mesmo tema em diversas situações diferentes, o roteiro apresenta distintos pontos de vista sobre o mesmo assunto, e o faz por meio de personagens cativantes, que enriquecem a trama com convicções opostas. Destaque para o núcleo comandado por Nils Poppe, dando vida ao astuto e vivaz artista Jof. Sua trupe, colocada em circunstâncias paralelas ao do protagonista, promove comicidade inteligente, evitando que o tom ficasse excessivamente indagatório. É exatamente a diversidade opinativa fomentada pelo texto que permite ao longa não proporcionar respostas para suas perguntas, afinal, quanto maiores as explicações, maiores são as dúvidas.

    Funcionando em duas frentes alternadas – humor e drama – The Seventh Seal obtém êxito em ambas, sendo engraçado e emocionante nos momentos que se propõe a isto. Contudo, a alternância entre os tons é abrupta, não havendo cuidado nas transições entre o cômico e o dramático. Por outro lado, este efeito é compensado, em partes, quando tais fatores se convergem, assim, Bergman encontra o tom definitivo do filme – um agradável e reflexivo tragicômico existencialista.

    Apesar de todo o elenco estar a vontade em seus papéis, e a Morte de Ekerot ser visualmente simples, porém, imageticamente marcante, há personagens que sobram. O maior demérito vai para o trio composto por Gunnar Olsson, Inga Gill e Inga Landgré, que pouco acrescentam à narrativa, se tornando uma digressão sem o mesmo poder atrativo de todo o restante.

    O Sétimo Selo é a confirmação de Ingmar Bergman como um excelente diretor, (que mais tarde se provaria como um dos maiores de todos os tempos) se utilizando de alegorias provocantes para aliciar o espectador a participar incessantemente das dúvidas e ambiguidades das quais os personagens apresentam, nos conduzindo numa história moralmente épica, da qual o desfecho magnífico é um acalento para mente e coração. Em poucas palavras, poesia em forma de cinema.
    Adriano Côrtes Santos
    Adriano Côrtes Santos

    704 seguidores 300 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 19 de fevereiro de 2019
    Quase todos, mesmo os não afeitos à obra de Ernst Ingmar Bergman, já viram alguma referência à cena marcante da partida de xadrez entre o Cavaleiro Antonius Block e a Morte (Bengt Gkerot). O simbolismo do duelo de xadrez se tornou a marca mais contundente de Bergman. O Sétimo Selo é um filme produzido em 1956 e baseado em uma peça teatral que o próprio Bergman escrevera, chamada O Retábulo da Peste. Ao se confrontar com seu próprio medo da morte, Bergman construiu sua obra-prima. Uma das reflexões do filme é a proximidade do apocalipse, com forte apelo bíblico na criação dos personagens artistas camponeses, Jof e Mia, diminutivos suecos para José e Maria. Em um cenário devastado pela peste , o diretor nos redime pela arte. Os traumas infantis de Bergman, criado em um catolicismo repressivo, se manifestam no filme com a presença opressora dos monges e os doentes se autoflagelando. No confessionário o Cavaleiro levanta reflexões sobre vida e morte, algo inédito no cinema até então. A magistral fotografia em preto e branco, o uso do som e da música, remetem a um longa sombrio mas com momentos de bom humor. Bergman na realidade burlou a morte e se eternizou no conjunto de suas obras monumentais, um legado que atravessará gerações.
    Bruno Campos
    Bruno Campos

    596 seguidores 262 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 16 de fevereiro de 2018
    O melhor e, paradoxalmente, menos sombrio do grande Ingmar Bergman. Apesar de ser um jogo de xadrez contra a morte (portanto sabidamente perdido), este filme-metáfora utiliza a Peste Negra como "travessia do fantasma" (Lacan), onde o protagonista e os outros personagens são instados a assumir, da forma mais autêntica possível, suas escolhas e percurso de vida. Cada cena, ou jogada de xadrez, ratifica a existência de cada um. A metalinguística da vida, como afirmação estilística sempre referida à morte. Grande prêmio do Júri em Cannes.
    Miriam A
    Miriam A

    8 críticas Seguir usuário

    4,5
    Enviada em 2 de janeiro de 2018
    É um clássico, que trás questões para a nossa reflexão ainda na atualidade, a envolver nossas pretensões, ações e pensamentos nessa vida. Uma obra genial, que possui uma velocidade própria da época em que foi feita, o que não impacta a proposta de provocar reflexões na audiência.
    Ricardo L.
    Ricardo L.

    59.333 seguidores 2.750 críticas Seguir usuário

    3,5
    Enviada em 6 de junho de 2023
    Um dos filmes mais aclamados da história do cinema! Elenco formidável e uma direção de arte deslumbrante seguida de uma fotografia mais que linda. Espetacular.
    Maíra M.
    Maíra M.

    22 seguidores 3 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 20 de abril de 2014
    Eu (e acho que milhares e milhares de outros espectadores) definiria como: um filme difícil.

    Importante, mas difícil. Não à toa faz parte do que Mark Cousins (no livro História do Cinema) chama de "claustrofobia cinematográfica", referenciando também Hitchcock e Polanski.

    E acho que desde a sua criação foi pensado para sê-lo. Não, essa não foi uma tentativa de fazer um trocadilho pobre com o título do filme. Parece que o nome "O Sétimo Selo" faz referência ao livro bíblico Apocalipse, segundo o qual "na mão de Deus há um livro selado com sete selos e a abertura de cada um destes selos implica num (sic) malefício sobre a humanidade, mas a abertura do sétimo é o que leva efetivamente ao fim dos tempos". Achei essa explicação na Wikipédia, e realmente existe uma referência ao Apocalipse no filme.

    Logo no início de O Sétimo Selo, uma citação do Livro do Apocalipse é dita para simbolizar a ameaça de uma guerra nuclear. A citação, que é dita com outras palavras, é a seguinte: "E havendo aberto o sétimo selo, fez-se o silêncio no céu quase por meia hora." (Apocalipse 8:1).

    Seria mesmo a guerra nuclear esse sétimo selo, responsável por trazer o fim dos tempos caso acionado por algum governante um pouco mais prepotente durante o silêncio de Deus? Que Deus é esse que silencia por quase meia hora dando ensejo à atuação apocalíptica de alguém? Era essa a angústia de Bergman? Levar uma vida de um modo tal, mas sabendo que a qualquer momento tudo aquilo poderia ser destruído com a facilidade de quem abre um selo?

    Isso não consegue te tirar o fôlego, te deixar claustrofobico? Sinto muito então.

    Bom, continuando, um filme que tem como temas centrais a morte, os questionamentos sobre deus, a falta de fé na vida, e tudo isso concentrado em um personagem recém-chegado das Cruzadas (interpretado por Max von Sydow), que se vê em meio às misérias da Peste Negra; um filme cujas falas são extremamente abstratas, que usa amplas metáforas, cujos personagens vão do extremo da ingenuidade ao extremo de um ser vilipendiado e, portanto, sem vida no olhar, bruto no trato com as pessoas; esse não pode ser um filme fácil.

    Ao contrário, é um filme lento, com muitas cenas que se arrastam no ir e vir das pessoas (pra lá e pra cá). Seja na procissão dos miseráveis da Peste Negra, que interrompe, com os auto-açoitamentos dos fiéis, a comédia pueril dos personagens artistas; seja nas andanças de Antonius Block (Sydow), que vai devagarinho pela praia e parece ter todo um tempo a perder com suas reflexões existencialistas; seja, ainda, nos intermináveis jogos de xadrez entre o cavaleiro e a Dona Morte: tudo nesse filme te leva a assisti-lo com uma paciência de Jó, dessas que nossa geração contemporânea não tem mais desde que a internet deixou de ser discada.

    Ora, se nossa "geração y" não tem paciência nem pra esperar uma página carregar mais lentamente, como teríamos para descobrir os meandros da obra-prima de Bergman?

    Talvez por isso ela me deixou curiosa. Talvez por isso ela seja um clássico para o cinema, mas algo tão distante dos nossos hábitos. Ela infelizmente está fora de moda.

    Não queria assistir a O Sétimo Selo, e ter na minha memória apenas a Morte, que é pessoalizada no filme por meio desse cara do pôster com essa roupa escura (não sei se é preta ou marrom porque o filme é preto e branco), interpretado muito bem por Bengt Ekerot.

    Assim foi que eu parei nas cenas de Antonius com uma jovem (Gunnel Lindblom) que está prestes a ser queimada, acusada de ter trazido a peste por ter dormido com o diabo. Antonius observa a jovem, conversa com ela, olha fixamente nos seus olhos, mas a resposta que ele dá, embora se esforce sinceramente pra entender aquilo tudo, é a mais racional e realista possível: "Eu não vejo nada além de terror". Não se poderia esperar outra coisa de um fidalgo desiludido que participa de um dos jogos mais racionais que se conhece: o xadrez.

    Hoje a gente nem vê assim muita lógica em um filme com tantos questionamentos a respeito de valores existenciais: a morte perseguindo alguém? Questionar se deus existe ou não? Por que as coisas estão como estão?

    De fato, no Brasil de hoje pouquíssimas pessoas devem pensar tão intensamente sobre isso. Mas não era assim na Europa do pós-Guerra, em que o apocalipse parecia real, em que havia temores de uma guerra nuclear adicionados a crendices comuns em um tempo não globalizado (não que nós estejamos isentos disso, mas de fato são outros tempos), tudo isso fazia com que esse filme dialogasse com aquele momento e, sobretudo, dialogasse com o período histórico retratado.

    Bergman disse assim no livro de Mark Cousins: "Meus personagens riem, choram, sofrem, têm medo, falam, respondem, perguntam. Eles temem a Peste e o Juízo Final. Nossa angústia é de um tipo diferente, mas as palavras permanecem as mesmas."

    Não à toa, depois desse filme, Ingmar Bergamn produziu a chamada trilogia da fé (Através de um espelho, Luz de Inverno, e O Silêncio), dando continuidade a todas essas perguntas.

    Bacana também a retratação que ele faz da temática circense, quando mostra o artista como um bobalhão, um ingênuo, facilmente manipulado, como na cena em que Jof é obrigado dar cambalhotas em cima do fogo enquanto os outros personagens riem um riso cruel.

    Bergman tem outro filme de temática circense. É o Noites de Circo (1953). Outro dia eu vejo.

    O Sétimo Selo tem uma cena final linda. Que me marcou, pessoalmente, muito mais do que a cena clássica do jogo de xadrez, ou do que a outra cena clássica da morte levantando o braço como se fosse um morcego.

    O filme termina com a Dança da Morte. É uma cena bonita em que, depois de fazer uma espécie de discurso de despedida com o casal José e Maria e outros personagens, ele, o Jof, que, de tão ingênuo, tem premonições, vê a morte carregando o Antonius e outras vítimas para um precipício. Achei bonito o modo como a dança se dá.

    Para mim, ficou uma conclusão: vale a pena quebrar sua cabeça com essa obra. Existem milhares de outras coisas que podem ser observadas nesse filme, a exemplo disso: o modo meigo como é retratada a família, a relação do cavaleiro e de seu escudeiro com Dom Quixote e Sancho Pança, todos aqueles personagens, com rostos tão bem marcados, ali à meia-luz, dizendo frases curtas, geralmente muito incisivas, mas todas com significado profundo, vale a pena ir atrás de tudo isso. Você se sente meio um Antonius, indo atrás de significados pras suas angústias enquanto vive e, só então, acaba entendendo (e por que não "vivendo"?) o filme.
    Erick A.
    Erick A.

    11 seguidores 7 críticas Seguir usuário

    4,5
    Enviada em 31 de dezembro de 2013
    Uma mostra da desesperança de um povo frente aos horrores de um país devastado pela Peste Negra, sendo o Cavaleiro a síntese de toda a situação. É também uma discussão profunda sobre como a religião influencia nas atitudes do ser humano e um leve questionamento da existência de Deus e sobre as certezas da vida, das quais a única é a Morte. E, é claro, cenas antológicas, como a partida de xadrez contra a Morte. Grande obra do Bergman.
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