Dirigido por Gene Stupnitsky e estrelado por Jennifer Lawrence, "Que Horas Eu Te Pego?" (No Hard Feelings) apresenta uma narrativa que, à primeira vista, promete ser uma comédia irreverente e ousada. Contudo, ao se aprofundar no filme, percebe-se que a tentativa de equilibrar humor e temas reflexivos resulta em uma obra que nem sempre atinge o impacto esperado.
O roteiro acompanha Maddie (Jennifer Lawrence), uma mulher de personalidade caótica, lutando para manter sua casa de infância em Montauk. Sua solução improvável surge na forma de um anúncio feito por um casal rico, que oferece um carro em troca de sua "ajuda" para que seu filho introvertido, Percy (Andrew Barth Feldman), ganhe confiança antes de ingressar na faculdade. Essa premissa bizarra carrega potencial cômico, mas também levanta questões éticas que o filme evita explorar com profundidade.
Maddie é retratada como uma figura paradoxal: ao mesmo tempo em que exala autossuficiência, ela é marcada por decisões impulsivas e uma aparente incapacidade de amadurecer. Percy, por outro lado, é uma caricatura do jovem tímido e excessivamente protegido, cujas inseguranças são apresentadas de forma estereotipada. Essa dinâmica funciona como motor para o humor do filme, mas falha em oferecer personagens realmente complexos.
O humor do filme baseia-se principalmente em situações constrangedoras e piadas que, embora divertidas em alguns momentos, são previsíveis e carecem de originalidade. A relação entre Maddie e Percy, que poderia ser um terreno fértil para discussões sobre a transição para a vida adulta, acaba sendo reduzida a gags superficiais.
Além disso, a presença de Jennifer Lawrence, uma atriz talentosa, é notável, mas seu desempenho parece limitado pelo roteiro. Enquanto ela se sai bem em cenas cômicas, falta à sua personagem um arco narrativo consistente que justifique suas transformações ao longo do filme.
Um dos pontos mais controversos de "Que Horas Eu Te Pego?" está na própria premissa. A ideia de contratar uma mulher para "ajudar" um jovem inexperiente a se tornar mais confiante soa desconfortável, especialmente em um contexto social onde discussões sobre consentimento e exploração emocional estão em destaque. O filme opta por tratar a situação como uma comédia leve, sem abordar as implicações morais de maneira crítica, o que pode gerar reações divididas entre o público.
O arco narrativo tenta incorporar elementos de reflexão, especialmente quando Maddie questiona suas próprias escolhas e percebe que sua obsessão por permanecer em Montauk está ligada a um apego emocional ao passado. No entanto, essas reflexões são tratadas de forma superficial e perdem força em meio ao tom descontraído da obra.
O final do filme, com Maddie decidindo vender sua casa e seguir sua paixão pelo surf na Califórnia, soa apressado e artificial. Da mesma forma, a resolução da relação entre Maddie e Percy – agora como amigos – é previsível e carece de impacto emocional genuíno.
"Que Horas Eu Te Pego?" é um filme que tenta ser mais do que uma simples comédia romântica, mas tropeça em sua tentativa de equilibrar humor, drama e reflexão. Embora conte com momentos engraçados e um elenco competente, a obra falha em aproveitar o potencial de sua premissa e entregar uma narrativa consistente e envolvente.
Se por um lado o filme pode agradar a quem busca uma diversão descompromissada, por outro, deixa a desejar para quem espera algo mais profundo ou inovador. É uma experiência que diverte momentaneamente, mas dificilmente ficará na memória como uma obra marcante do gênero.