Na cultura irlandesa, a palavra “banshee” se refere a uma figura feminina de idade avançada, espécie de bruxa, que faz a previsão de uma morte iminente. Nada a ver, portanto, com a situação principal que o filme “Os Banshees de Inisherin”, dirigido e escrito por Martin McDonagh, nos retrata. Mas, ao mesmo tempo, tudo a ver com o espírito melancólico e depressivo que permeia toda a trama.
“Os Banshees de Inisherin” se passa em uma pequena cidade pacata litorânea da Irlanda, local onde seus habitantes não têm muito o que fazer, a não ser ir no pub do município, ao final de mais um dia de trabalho, para beber um pouco de cerveja ou conhaque.
A partir do fim - sem motivo aparente, a não ser o desejo de nunca mais falar um com o outro - da amizade entre o músico Colm (Brendan Gleeson, em performance indicada ao Oscar 2023 de Melhor Ator Coadjuvante) e o fazendeiro Pádraic (Colin Farrell, em atuação indicada ao Oscar 2023 de Melhor Ator), o diretor e roteirista McDonagh aborda o papel de uma cidade como Inisherin para a infelicidade de seus habitantes, que, ali, não possuem as oportunidades de crescimento e de expandirem seus horizontes.
O tempo todo, em “Os Banshees de Inisherin”, as personagens estão discutindo sobre seus sentimentos, sobre a fé, sobre a continuidade da vida após um grande sofrimento, sobre como se portar um com o outro, sobre arrependimento, sobre reparação (ou ficar quite com alguém). Tudo isso em meio a silêncios incômodos...
Enquanto eu assistia ao filme, fiquei refletindo: deve ser muito triste viver assim, com essa sombra… Talvez, por isso, eu tenha me identificado tanto com a personagem de Sióbhan (Kerry Condon, em performance indicada ao Oscar 2023 de Melhor Atriz Coadjuvante), a irmã de Pádraic. Ela foi a única ali com a coragem de fazer o que tinha que ser feito diante de uma rotina tão maçante.