Após sofrer um acidente de trânsito, Ana (Larissa Manoela) é obrigada a abdicar das redes sociais e morar no interior com seu avô. A premissa é simples, e de fato, a história apresentada em Modo Avião não impressiona, mesmo sendo uma produção com o selo Netflix, o que não é (nem de longe) um sinônimo de qualidade.
No entanto, nota-se que há zelo por trás do longa-metragem. A fotografia abusa de cores vivas e contrastes de luzes, criando uma áurea ensolarada e convidativa. Bem como a trilha sonora, que mesmo não sendo um antro de originalidade, é eficiente em seguir uma linha lógica de melodias e estilos.
Mesmo havendo, claramente, muito carinho com a parte técnica, o enredo não se sustenta. A princípio uma montagem dinâmica apresenta os personagens e seus contextos, assim como as suas problemáticas. Porém, o roteiro opta por criar uma personagem extremamente caricata, do tipo que está sempre postando stories de qualquer coisa e dizendo aos pais que já sabe se cuidar sozinha. Excesso de clichês e diálogos pouco críveis dificultam o engajamento inicial, que só é possível graças ao carisma de Larissa Manoela.
A narrativa segue, e em meio a ela, pequenas ponderações sobre a dependência das tecnologias. Algumas extremamente óbvias, outras simbólicas e sutis. Assim, é no segundo ato que o filme encontra os seus melhores momentos. A relação entre a protagonista e seu avô (Erasmo Carlos) é genuína, e promove momentos realmente emotivos, oferecendo boa dinâmica entre o humor e segmentos mais dramáticos, assim como um romance desenvolvido sem pressa, e com boa química entre Manoela e André Luis Frambach.
Infelizmente esse auge não é duradouro, e da metade do segundo ato até o final, a narrativa se torna apressada e perde o controle do tom que vinha funcionando. Pequenas subtramas pouco exploradas e mal trabalhadas eclodem no terço final, fazendo um desfecho acelerado e anti-climático.
Por outro lado, as atuações são um ponto a se destacar positivamente. Larissa Manoela é eficaz com uma personagem que não lhe tira da zona de conforto. Katiuscia Canoro possui uma presença forte e cria alguma simpatia para uma vilã unidimensional. E a participação especial de Erasmo Carlos, dando vida a um mecânico aparentemente “durão”, tem as doses certas de candura e rigidez que o papel pedia.
Enquanto “feel good movie”, Modo Avião garante diversão descompromissada, e em seus melhores momentos consegue prender e emocionar o espectador, entretanto o enredo frágil se perde com seu tom instável, e proporciona um terceiro ato indiferente e genérico.