Este musical, em grande parte inspirado no manifesto Dogma 95 de Lars von Trier, utiliza uma câmera instável e atuações que remetem à improvisação. Essa abordagem cria uma atmosfera crua e realista, enquanto os números musicais, imaginados pela protagonista Selma em seus devaneios, oferecem momentos de fuga emocional e contraste com o peso da narrativa.
A história se passa nos anos 1960, numa América reimaginada por Von Trier (apesar do diretor ser europeu e rodar o filme na Europa). Selma, uma operária imigrante interpretada por Björk, trabalha incansavelmente para juntar dinheiro e pagar uma cirurgia que pode evitar que seu filho perca a visão – uma condição hereditária que já a afeta. Selma encontra alegria em sonhar com o cinema e com os musicais, que ela descreve como "a vida mais vibrante". Seu cotidiano, no entanto, é marcado por dificuldades, incluindo a relação com Jeff (Peter Stormare), um amigo que a admira sem ser correspondido, e sua interação com Bill (David Morse), cujo desespero financeiro desencadeia uma tragédia irreversível.
A performance de Björk é visceral e emocionante, transmitindo a inocência e o sofrimento de Selma de maneira devastadora. A direção de Von Trier transforma o filme em uma experiência única: o estilo documental colide com a teatralidade dos números musicais, reforçando a dualidade entre os sonhos de Selma e a dureza da realidade. A narrativa é brutalmente honesta, culminando em um desfecho que desafia o espectador a refletir sobre justiça, sacrifício e compaixão.
Com cenas impactantes e uma trilha sonora marcante, Dançando no Escuro é um musical como nenhum outro – uma obra de arte que mistura realismo e fantasia para criar uma experiência cinematográfica inesquecível.
É difícil assistir sem ser transformado pela experiência.