Os Órfãos (2020) é baseado no livro O Virar do Parafuso de Henry James. Até o momento desta crítica, eu não li a novela, mas está na minha lista de afazeres. Esta crítica foca somente na experiência do filme.
Em Os Órfãos, a trama envolve Kate e os irmãos Miles e Flora Fairchild, órfãos que moram em uma mansão reclusa longe da sociedade. Kate aceitou a posição de governanta da casa, já que a antiga governanta morreu tragicamente. Os pais dos irmãos Fairchild também morreram tragicamente. Hmm...
A trama é monótona por um tempo. A apresentação envolve uma série de exposições que deveriam levar à complicação principal, mas isso não acontece. Kate cresceu sem seus pais, mas logo descobrimos que ela tem uma mãe que está internada no hospital psiquiátrico mais estranho de todos, afinal que hospital psiquiátrico deixaria seus pacientes dentro de uma piscina vazia? Flora também não tem pais e essa é a conexão entre Kate e ela. Contudo, a conexão é fraca. O filme quer deixar claro que essa conexão é natural e óbvia, mas não funciona tão bem.
Flora possui problemas psicológicos por causa de suas experiências pessoais. Sua primeira interação com Kate parece falsa e forçada, o que nos leva a crer que talvez Flora seja questionável. O filme não deixa isso claro.
O filme nos introduz ao elemento de horror quando Flora apresenta a casa para Kate. "Não ando por aquela parte da casa," diz Flora pra Kate, se referindo ao lado leste da mansão. A trama não utiliza este elemento para desenvolver a história.
Miles rouba a cena rapidamente. A trama que parecia querer focar tanto em Flora e Kate desaparece e dá espaço para a relação de Miles e Kate. Flora, mesmo estando em uma versão do poster do filme e aparecendo em diversas cenas chaves dos trailers, se torna secundária. Essa reviravolta faz com que a interação de Kate com Flora não ganhe a força que deveria ganhar para justificar os subsequentes atos de Kate.
Miles é o esteótipo do perturbado filho de magnata. Mimado, arrogante, mas claramente com problemas internos. A relação de Kate e Miles começa ruim e se desenvolve para algo com pouco sentido. Miles parece atraído sexualmente por Kate, mas a trama não explora esse tema; a trama só foca em como as crianças parecem querer perturbar Kate com brincadeiras infantis, porém sombrias.
Conforme a trama caminha para o evento máximo, senti que a trama não foi plausível para temas que vemos durante todo o filme:
- A atração sexual de Miles por Kate.
- Flora não pode deixar a casa, enquanto Miles parece desimpedido.
- O acidente fatal dos pais de Miles e Flora.
O climáx é uma sequência de sustos inexplicáveis. Eu entendo que sustos são técnicas cinematográficas, mas chegou num ponto onde eram tantos que eu estava anestesiado.
O desfecho não fez sentido algum. Eu sei que a intenção é justamente abrir para interpretação, mas as perguntas são tantas que a interpretação é que este filme ficou sem pé nem cabeça. A existência de um final alternativo deixa claro que os escritores não sabiam como conectar todos os conflitos que eles geraram. O final alternativo é mais direto, mas não faz jus à trama.
Quando o filme terminou, senti que haviam buracos demais para desconsiderar. Sustos desnecessários, cenas que contradizem o desfecho, perguntas abertas. Não recomendaria, nem pelo fator horror, que é só uma coletânea de sustos, nem pelo fator história, que termina sem muito nexo.