Que a Marvel é a dona das sagas de filmes mais aguardados do ano já sabemos, o problema é que os grandes chefões da Disney sabem disso também, e se aproveitam cada vez mais disso para lucrar, sem o devido compromisso com nós, fãs.
Em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" somos presenteados com uma "camuflagem" linda de se ver, fazendo com que, talvez, os fãs mais fanáticos ou os desligados não percebam a real catástrofe que é esse filme. Benedict Cumberbatch (Doutor Estranho) entrega mais uma vez o esperado, nada demais porém mantendo seu padrão de qualidade, Xochitl Gomez (América Chaves) e Benedict Wong (Wong) tem uma atuação singela, qua não chega a ser horrorosa mas passa despercebida com certeza, ainda mais se considerarmos o mal aproveitamento de seus personagens. Com Elizabeth Olsen (Wanda) temos o ponto alto do filme, com uma primorosa atuação que, com a ajuda do diretor Sam Raimi, deu um teor medonho ao filme, me fazendo realmente temer a Feiticeira em alguns momentos, mais uma vez Elizabeth Olsen está magnífica!
E é com o próprio Sam Raimi que ocorre o segundo e último ponto positivo desse filme: a personalidade imposta no roteiro.
Ao contrário de muitos diretores e empregados da Marvel, Sam Raimi não se curva para as engrenagens e padrões impostos pela própria Marvel, o filme tem a cara do diretor e ele usufrui da liberdade dada a ele, dando ao filme mais horror, fazendo muitas vezes a gente se questionar a classificação do filme.
Porém mesmo com essa "liberdade", Raimi não consegue fugir de clichês e chavões da Marvel em certos momentos, assim como todos os filmes da mesma. Nos tratam como clientes fiéis e confortáveis que desejam sempre mais do mesmo, sem surpresas ou contrariações.
Como uma própria personagem do filme disse: "No Multiverso há soluções para todos os problemas"
E é exatamente isso que parece que a Marvel tá fazendo e usufruindo, aproveitando a imensidão desse universo e servido o fã com tudo aquilo que ele sempre desejou, mesmo que pra isso precise sacrificar a excelência e muitas vezes a coerência. Me parece uma busca desesperada por gritos e aplausos (bom, todos sabemos que isso significa maior lucro) sem se importar com a qualidade dos filmes, afinal, quando tudo é possível, nada mais importa.
No longa, em momentos-chave, fica explícito a busca por gritos e aplausos do cinema, tentando recriar o que uma vez funcionou em "Avengers: Endgame" e "Spider-Man: No Way Home". Porém, dessa vez, sem a coerência narrativa e excelência antes vista, acabando em apenas uma simples busca sem nexo por aclamação (Que infelizmente foi acatada, afinal o público vai ao delírio em cenas em que minha única reação era "O que está acontecendo aqui?").
Em uma tentativa de nos apresentar um Multiverso de "loucuras", na verdade, apenas mostra o quão decepcionante pode ser essa aventura, nos dando apenas um vislumbre do que poderia ter sido, impressionando-nos com universos tão diferentes e caóticos (afinal, quem não se apaixonou pelo momento do universo de tintas ou o de quadrinhos?), Mas no fim nos deparamos com a zona de conforto e nada fora do padrão, um universo "comum" onde as grandes diferenças estão nos mínimos detalhes (andar no vermelho e bolas de pizza, sério?).
Em todos os momentos do filme, são colocadas pessoas para nos explicar o que tá acontecendo, como se estivessem "mastigando" as informações para que não tenhamos que pensar muito; em todo momento sempre alguém nos diz onde todos estão, como chegaram ali e como alcançar uma saída. Quando algo importante acontece, sempre tem alguém disposto a explicar o que aconteceu com detalhes, como se estivesse explicando para um colega desavisado, mesmo que explicitamente ele estava explicando a nós, espectadores.
O CGI tenta camuflar tudo isso nos mostrando lindas artes e universos, e confesso, assistir no cinema realmente foi uma experiência bela, porém, até em sua única tentativa de encantar-nos, a Marvel falha, por algumas vezes era possível ver o fundo verde sem nenhum esforço.
O primeiro arco do longa foi um dos piores inícios de filme que eu já vi, simplesmente caótico mas não do jeito bom, do jeito desorganizado e descontrolado, você mal sabe o que tá acontecendo e quer saber? Nem a própria Marvel sabia, eles simplesmente embutiram um punhado de informações sem embasamento e despejaram em nossa cara com a premissa de "Multiverso da Loucura". Ora, Loucura é uma coisa, Desleixo é outra. Não temos tempo nem de criar empatia com a América, ela simplesmente aparece precisando de ajuda, e é apenas isso que ela precisa para que Strange defenda ela até a morte. Afinal, quem não daria sua vida, sua casa, seu templo e sua sanidade mental para uma garota que você acabou de conhecer, em que não dá pra confiar, cujo os únicos argumentos são: "preciso de ajuda"? Eu sinceramente não me importei com a garota em todo o filme, por mim a Wanda poderia fazer o que bem entendesse com ela.
Falando em Strange, aqui vemos um caso realmente estranho, afinal, quem realmente ele é? O Doutor Estranho do filme 1? O do Guerra infinita? O Do Homem Aranha? Ou esse que agora foi nos apresentado? Eu fiquei confuso, não me parecem a mesma pessoa, a Marvel simplesmente ignorou a continuidade da personalidade de uma pessoa apenas para encaixar em seus roteiros desconexos? Bom, a resposta é sim, Steven Strange infelizmente não segue sua personalidade até porque nem eles sabem mais como ele deve agir perante as situações. Aí, mas aí vão falar "Pessoas mudam com o tempo", Ok, nos concordamos nisso, porém a situação claramente não é essa, o nosso querido Doutor está tomando decisões diferentes em cada filme em que participa, de modo que me faça questionar o que acontece entre um filme e outro para que ele mude tanto.
Mas vamos falar da premissa principal dos filmes de heróis, as lutas! E... São decepcionantes, infelizmente. As cenas de batalha são quase dinâmicas por vezes, mas não funcionam, pois em grande parte são dois magos frente a frente, lutando a distância com magias, onde a única ação são eles fazendo caras e bocas.
E eu nem vou comentar muito sobre o que todos, até os mais ignorantes perceberam, o mal funcionamento do humor do longa, poxa, me trouxe até um sentimento de vergonha alheia em certas cenas, parece que foi pensado por uma criança de 7 anos, piadas totalmente pífias e colocadas em momentos horríveis, chega dar dó.
Em resumo, o filme é um aglomerado de personagens aleatórios fazendo piadas e lamentações enquanto brigam em lutas fracas cobertas de CGI e efeitos especiais, onde seu único esforço é fazer uma cara de mal.
A cena pós crédito colocada apenas com um único propósito: Mostrar que vem mais por aí.
E funciona, nós entendemos e nos questionamos sobre o que pode vir a frente, porém até mesmo essa cena se comporta de maneira parecida do filme todo, correndo muito rápida e sem motivo nenhum, Steven nem se quer se questiona se deve confiar ou não, apenas mais informações despejadas na nossa cara.
Me parece uma piada de mal gosto da Marvel para conosco, não se importam mais com a qualidade dos seus filmes, fazem tudo corrido e enchem de fã service só para alegrar e ignoram a qualidade que deveria ter, afinal, só os filmes finais devem ser realmente bons né. Mais uma vez eles se aproveitando do fanatismo e idolatria conquistada anteriormente e abusando disso para ganhar mais lucro, enchendo o filme de efeitos, luta ininterrupta e fan service descontrolado.
A Marvel tá se preocupando muito mais com vender do que convencer!