Por mais que tenha intenções bem melhores do que a maioria das comédias que o cinema nacional vem entregando nos últimos anos, este primeiro trabalho na direção de Anita Barbosa se compromete por se apegar demais a clichês e a soluções comuns dentro do padrão norte-americano de fazer romances açucarados – perdendo a possibilidade de abordar bem uma história com potencial de trazer uma discussão curiosa sobre os problemas que as redes sociais poderiam trazer para as pessoas que as utilizam abusivamente.
Em um mundo onde êxito na vida está cada dia mais comparado à quantidade de visualizações ou curtidas, somos apresentados a personagem da melhor coisa do filme, Isis Valverde – ela interpreta Katrina, uma YouTuber, que tem um canal de dicas de moda e maquiagem muito popular – com um número de inscritos muito grande, ela se sustenta com os patrocínios que empresas de roupas e maquiagem lhe dão. Mas quando um ex-namorado expõe na internet fotos intimas dela, Katrina resolve pedir ajuda a um jovem nerd, o tímido (e também YouTuber, mas menos popular) Fernando (Coelho) – que consegue apagar as tais fotos – fazendo surgir uma atração quase que instantânea entre os dois. Inicialmente se dando muito bem, os dois logos enfrentarão problemas devido as diferentes percepções do modo de vida dos dois – com Katrina sendo mais popular e Fernando sendo mais fechado.
O problema maior do filme reside em seu roteiro pouco sutil – o relacionamento dos dois é algo como“oito ou oitenta” – quando está bem é bem demais – em momentos divertidos, simpáticos e “bonitinhos” mesmo, onde a química entre os dois atores funciona, com mais peso, evidente, em Isis, dado seu carisma, simpatia e talento, de fato. Mas ao exemplificar os problemas que uma vida dependente de visibilidade na internet tem sobre o casal, o roteiro escorrega criando situações um tanto forçadas para gerar brigas entre eles – se Gil Coelho fazia um trabalho correto como o tímido e nerd Fernando no inicio, quando exige-se um pouco mais de dramaticidade o jovem ator cai para a inexpressividade ou expressões pouco condizentes com o sofrimento que seu personagem passa – fica bem difícil de acreditar que ele esteja realmente sofrendo – sua composição só funciona quando seu personagem é questionado por não ter atitude na vida, seja para o relacionamento, ou para com o trabalho, já que tem preguiça (ou medo) de investir em seu canal de games no YouTube.
Isis tem pouco a fazer com uma personagem tão unidimensional quanto Katrina – que o roteiro tenta dar uma multifacetada depois, mas pouco impressionável – como na cena onde a atriz global exibe seu talento, fazendo um vídeo para seus fãs onde se mostra entristecida por depender de status em redes sociais para sobreviver – mas o roteiro se contradiz logo em seguida, ao demonstrar que ela pretende continuar levando a mesma vida adiante (?!) – uma pena, já que a cena é o melhor momento de Isis no filme – além do fato do roteiro esquecer de dar qualquer opinião sobre as inúmeras vezes que os personagens tiram selfies em festas ou qualquer outros lugares – que, de certa forma, parece concordar que não há problemas em sermos fúteis o tempo inteiro. Pior ainda Fernando, que de inicio refuta levar esse tipo de vida, mas depois aceita, apenas para corresponder sua relação com Katrina, que ele é cegamente apaixonado, já que ele acredita que “um milagre aconteceu”, por uma mulher tão bela e popular se relacionar com ele – demonstrando uma certa submissão de seu personagem aos apelos de sua parceira – e, pior, ainda existindo uma cegueira dele em não saber identificar as necessidades reais de sua namorada.
E falando em postagens em redes sociais, o filme se dá bem com um design de produção curioso, ressaltando (aos moldes de filmes como A Culpa é das Estrelas) as publicações através de telas sobre a tela, que mostram os comentários ou textos trocados – mas, infelizmente, ressaltam um detalhe que atrapalha o filme: em se tratando de uma história que pretende abordar o tema das redes sociais em meio aos relacionamentos amorosos, é um tanto inverossímil não mencionarem as palavras “facebook” ou “tinder” em alguns momentos, enquanto que falam de “instagram” ou do “whatsapp” – evidentemente, por questões envolvendo direitos autorais – que só não soam tão ridículas quanto o “facekut” mencionado no filme da Bruna Surfistinha.
Se a química entre Isis e Gil não funciona todo o tempo, o elenco de coadjuvantes também não tem muito no que ajudar, relegando a experiente Alexandra Richter apenas como a mãe super atenciosa de Fernando – e os amigos nerds de Fernando, vividos por João Cortes (sim, o menino da propaganda da Vivo) e César Cardadeiro, postos pelo roteiro como meros meios de inserir piadas sobre a cultura pop – é um tanto ingênua (especialmente para os fãs) as piadinhas com Star Wars, por exemplo. Tem ainda a irritante irmã de Katrina, vivida por Carol Portes, o personagem jogado apenas como vilão ocasional, interpretado pelo apático Joaquim Lopes e a participação ridícula de Marcos Mion como o empresário que tenta ajudar Fernando – o apresentador de TV – que deveria ser só isso mesmo – aparenta esconder algumas “bexigas” sobre os braços, dado o tamanho exagerado de seus músculos – e só dos braços mesmo. Além das pontas de YouTubers famosos, como a comentarista de filmes, Lully e outros que não me recordo os nomes – enfim, nada que ajude a melhorar a trama.
Mesmo contando com uma talentosa atriz como Isis Valverde, Amor.Com não sai do convencional devido a um roteiro que parece encabulado em discutir o que o ser humano faz (ou é capaz de fazer) pelas redes sociais – preferindo apenas deixar tudo certinho e previsível, como outros incontáveis exemplos deste gênero já tão utilizado pelo cinema em geral. Um pouco de ousadia não faria mal ao projeto.