"Contrato Vitalício" surpreende por apresentar uma estória completa, em vez das esquetes que consagraram o Porta dos Fundos, a do jovem ator Rodrigo (Fábio Porchat) o qual recebe um dos principais prêmios do cinema logo no início de sua carreira e da parceria com seu colega de profissão Miguel (Gregório Duvivier). A estória gira em torno do entusiasmo com a vitória inicial, a qual durante a celebração enseja a assinatura de um contrato vitalício, na certeza juvenil que o sucesso é para sempre. Assim é que o grupo de humoristas, utilizando a notória linguagem politicamente incorreta, recorre à metalinguagem para ensinar como um filme de conteúdo esquizofrênico pode ser realizado até mesmo contra a vontade do principal participante. Como pano de fundo, a trama mostra que a violência mais sanguinária do mundo real, personificada no detetive Otacílio (Antonio Tabet), não é páreo para o nonsense. Faz refletir se os "contratos vitalícios", tão comuns na sociedade brasileira, que tanto valoriza a estabilidade no emprego, não estariam sujeitos à mesma esquizofrenia que desvia pessoas e instituições de um propósito lógico. E se a "cultura" que é produzida para as massas, e é claro que o próprio filme não pode ficar de fora desse rol, não passa de um pênis gigante pronto para estuprar o bom senso e a qualidade. Tudo isso, quando nos exilamos nos banheiros metafóricos, de onde saímos prontos para produzir a mais pura escatologia. Os recursos públicos provenientes da renúncia fiscal, proporcionados pelas leis de incentivo, como a Rouanet, deveriam ser melhor empregados, não em projetos que são capazes de gerar recursos por si próprios, uma vez que são realizados por quem já compõe a indústria cinematográfica tupiniquim e que deveriam ser capazes de fazer filmes autossustentáveis. Apesar disso, o filme é tecnicamente bem realizado com um elenco de hilários comediantes. Contudo, cinema não é só forma, mas, principalmente, conteúdo, e nesse sentido o filme do Porta erra ao não explorar a ideia do contrato vitalício, relacionando-o com os cargos vitalícios que existem na sociedade brasileira e que são responsáveis por nossa estagnação moral, social, cultural e econômica. Aliás, essa falta de senso crítico se reflete no próprio protagonista Rodrigo que não parece incomodado com a superficialidade e nonsense do que faz, mas apenas com a patologia que acomete seu antigo parceiro e que só ele parece perceber. Dispensável.