Kenny Ortega provou que não sabe fazer nenhum filme de fora da fórmula "High School Musical". Temos aqui EXATAMENTE a mesma receita: "o 'menino mais popular do colégio' e a 'novata' se apaixonam e precisam enfrentar o julgamento dos outros colegas, principalmente da aluna mais rica, mimada e popular - que é afim do garoto mais popular -, por não se encaixarem nos padrões estipulados pelo status quo". Clichê e BREGA.
Nem parece um filme dos estúdios Disney, já que ignora toda a particularidade de cada filme que fornece um personagem para a história. Walt Disney não só fazia uma pesquisa meticulosa antes de fazer cada filme, como também mandava sua própria equipe de artistas e animadores para os lugares onde se passam as histórias. Resultado: temos cenários alemães em "Branca de Neve" (uma história alemã), nomes indianos nos personagens de "Mogli" (uma história que se passa na Índia), entre milhares de exemplos que temos da caracterização dos filmes. Isso continuou mesmo depois da morte de Disney, como podemos ver na autenticidade dos cenários da França e personagens com nomes franceses em "A Bela e a Fera" e "O Corcunda de Notre-Dame".
No entanto, "Descendentes" AMERICANIZA todos os filmes clássicos da Disney. Colocar "Jay" em vez de "Ahmed", "Mohammed", "Youssef" ou qualquer outro nome árabe no filho de Jafar, o vilão de "Aladdin", uma história ÁRABE, é uma piada de muito mal gosto. O mesmo se pode dizer sobre batizar o filho da Bela e a Fera (franceses) como "Ben" em vez de "Louis", "Jean", "Charles" ou qualquer outro nome francês. Outro exemplo é o nome dos vilões, "Audrey" (filha da Bela Adormecida) e "Chad" (filho da Cinderela), sendo este o exemplo mais risível, pois é a prova da apropriação cultural americana promovida pelo filme. Engraçado que um dos únicos personagens que REALMENTE poderiam receber um nome inglês acaba recebendo um nome espanhol: Carlos, o filho de Cruella (vilã de "101 Dálmatas", filme que se passa na Inglaterra). Se queriam combinar as iniciais dos nomes dos personagens com as dos nomes de seus pais (Ben, Belle; Jay, Jafar, etc.), custava fazer uma simples pesquisa antes? Poderiam colocar "Jamal" no filho do Jafar, ou "Benoît" no da Bela e a Fera, "Charles" no da Cruella, etc. Seria uma ótima oportunidade de ampliar o conhecimento do público a respeito dos nomes (como filmes como "A Nova Onda do Imperador" fizeram com culturas de países variados). Mas americano só pensa no próprio umbigo e acha que tem que americanizar tudo. E o pior é que tem gente de fora dos EUA que bate palma para isso.
Além disso, o filme peca em não aproveitar personagens que REALMENTE têm filhos nas continuidades oficiais da Disney. Onde estão Melody de "A Pequena Sereia", Jane de "Peter Pan", Zéfiro de "O Corcunda de Notre-Dame"? A produção fora jogou um bom material que tinha para criar um universo ridículo e sem sentido. Definitivamente não foi feito por REAIS apreciadores dos filmes Disney.
A mensagem do filme até que é boa: não julgar as pessoas pelas aparências e pelas famílias, pois nem sempre filho de gente ruim se torna ruim. No entanto, não acho que era necessário estragar os personagens originais para passar essa mensagem. Por exemplo, com tudo o que a Cinderela passou nas mãos da madrasta e suas filhas, vocês acham mesmo que ela ensinaria ao filho "Chad" (kkkkkkk) a se aproveitar dos outros? A Aurora (A Bela Adormecida), depois de ter sido criada em um humilde chalé pelas fadas para ser protegida da Malévola, ensinaria mesmo à filha "Audrey" (kkkkkkk) a ser esnobe e mimada? Mas o pior de tudo é justamente a Bela, a mãe do protagonista, que descrimina os outros baseado em pré-julgamentos, justamente o que o filme dela ensina a NÃO fazer, além de ela mesma ser a prova de que preconceitos são errados (ela é vítima do preconceito dos aldeões que convivem com ela, e ela passa a ver a Fera com outros olhos, ajudando o monstro a evoluir, logo quebrando o feitiço). Ridículo. Parece que o roteirista nunca viu um filme da Disney e foi colocado lá por ser "amigo" de alguém (no mundo do cinema e da televisão tem MUITO disso).
Enfim, é um filme clichê, sem nada de novo ("High School Musical" versão década de 2010, dirigido pelo mesmo Sr. Kenny Ortega Criatividade Zero), feito apenas para agradar americanos e puxa-sacos dos americanos. Walt Disney se reviraria no túmulo se visse essa joça levando o nome de sua empresa. UM LIXO.