O universo em torno de Ida torna a vida tão depressiva que até passar o resto dos dias em um convento não parece uma ideia tão ruim. Filmado em preto e branco, com uma tela praticamente quadrada e uma câmera que fica praticamente parada, a atmosfera é bela, lúdica e realista. Anna (Agata Trzebuchowska), a noviça, e Wanda (Agata Kulesza), a tia, fazem parte de um conjunto de planos-detalhes (quando a tela mostra apenas um close mais intimista) que capturam a essência do que está sendo mostrado. Interessante do começo ao fim.
A história gira em torno da busca do paradeiro dos corpos dos pais de Anna, que eram judeus e foram mortos durante a guerra na Polônia. Wanda, sua tia, uma juíza alcoólatra que vive um pesadelo comuno-socialista que remói seus remorsos por abandonar sua irmã, possui a maior parte das falas, mas é de Anna que capturamos a mensagem final de cada passagem. A menina está naquele dilema clichê de não querer sair do convento, mas é obrigada por sua superiora e agora começa a plantar dúvidas em sua cabeça (além, é claro, de ser linda). Ou seria clichê, já que este não é o caso. A maior parte do filme é mais sobre uma reflexão histórica e intimista do peso das decisões em nossas vidas. Ou deveria ser. A maior falha em “Ida” é nunca contar o suficiente para estabelecer seus parâmetros. Mas quem se importa? A história flui que é uma beleza, e diante de tantos cenários filmados belissimamente por dois diretores de fotografia faz o “road movie” valer toda a pena.
Se desdobrando de maneira fascinante com uma série de acontecimentos nos últimos minutos do segundo tempo da prorrogação, “Ida” vira uma reflexão poderosa sobre a vida e suas rimas, mas como está com o tempo escasso de maneira superficial. Pelo menos faz o gancho com tudo o que foi visto, e de forma alguma é uma conclusão jogada. Com roteiro de menos, mas direção e fotografia de mais, o saldo é mais que positivo.