Filmes baseados em fatos reais ou em pessoas reais não são exatamente biografias. Feita esta ressalva inicial podemos entender algumas liberdades poéticas que foram tomadas em relação à Dido Elizabeth Belle (1761-1804), criada como uma dama livre em uma época em que a Grã-Bretanha comandava o tráfico negreiro. Trata-se, como vemos, de uma espécie de "Escrava Isaura" inglesa. O filme está repleto de alusões a fatos reais, como a defesa da inconstitucionalidade da escravidão em 1772, por parte de seu tio avô, 1º Conde de Mansfield, a qual aparece no filme como sendo decorrência da convivência com Belle e da relativa liberalidade do juiz, para quem as "leis tem de ser interpretadas e não apenas lidas". A reconstrução da época é primorosa sendo que, em grande medida a visão "protocolar" se sobrepõem ao enredo, fazendo com que algumas práticas antigas - decorrentes da etiqueta da época - pareçam perfeitamente "lógicas" e "naturais" ao espectador. Belle e sua prima Elizabeth são criadas como irmãs pelo velho juiz sem filhos, o qual se torna um pai zeloso (ambas o chamam de "papai") e super protetor, o qual teme que os rapazes se aproximem de Belle apenas para tentar usufruir de sua fortuna e que não a respeitem no trato social. Desta forma, toma a si a iniciativa de afastar da "filha" os pretendentes que não tenham condição social "adequada" (ou seja, a altura da sua), como é o caso do jovem advogado John Davinier, filho de um pastor, por quem Belle se apaixona. Na vida real Belle e Davinier se casaram após a morte do tio avô em 1793 e tiveram 3 filhos. Belle faleceu em 1804, aos 43 anos.